Opinião

Verborragia

O palavrório do Lula em entrevistas está decepcionando os que lhe atribuem boa
habilidade verbal, mas pior que isto, anda causando estragos na economia e na
política.
Agora, mesmo quando as contas do governo estão capengando e o mercado muito
sensível, contrariando todos os esforços da equipe econômica, afirma – falando sobre
as dificuldades do governo –: “não sei se é necessário cortar despesas ou aumentar a
arrecadação”.
Os esforços para incentivar a arrecadação só podem ser feitos extinguindo alguns
benefícios fiscais ou melhorando a eficiência da máquina que recolhe impostos. O
aumento da carga tributária parece improvável, pois dificilmente passaria pelo
Congresso Nacional.
Como consequência direta da verborragia presidencial, o dólar alcançou um novo
recorde, passando a custar quase R$ 5,60.
Creio que o Lula vacilou, porque é impossível ele não saber que o Brasil não está em
condições de escolher se diminui os gastos ou aumenta a receita. O País precisa
urgentemente de ambas as ações, porque só uma delas não dá conta de resolver os
problemas. Mas no afã de agradar os seus seguidores, ele se recusa a falar sobre corte
de despesas, principalmente as da previdência.
Claro que seria ótimo que o País pudesse aumentar os auxílios que acodem os mais
pobres, os idosos e os inválidos. Entretanto, não é questão de querer ajudar, é o caso
de poder. Não há dinheiro suficiente para aumentar o pagamento dos benefícios e a
carga tributária brasileira já está no limite. Também não é possível expandir a
arrecadação a não ser reduzindo as renúncias fiscais para alguns setores.
Mas, eu não tenho bagagem para discutir política tributária ou finanças públicas. O
que me chama a atenção neste caso é a inabilidade do Presidente em tratar do
assunto: provocou tumulto no mercado, inflacionou o dólar, depreciou a bolsa e
causou um ruído político desnecessário.
Os fundamentos econômicos se nutrem de sinais que vêm das autoridades públicas. A
qualquer indício de perigo, os investidores pegam seus dólares e vão ancorá-los em um
porto mais seguro.
Quando o Presidente põe em dúvida a necessidade de economizar e se compraz em
detonar o titular do Banco Central, os investidores anteveem piora no mercado e risco
para seus capitais, mudando-os de endereço.
Além do mais o Presidente não tem a menor razão em atacar o Campos Neto, que é
um diretor extremamente técnico. Tanto que ele – Campos Neto – aumentou – por
necessidade – a Selic para 13,5% em plena campanha eleitoral do Bolsonaro para
reeleição em 2022. Note-se que foi este – o Bolsonaro – que o nomeou para o Banco
Central.

Fingindo desconhecer essa prova de atuação técnica, o Lula afirma que o BC trabalha
contra o seu governo.
Com tantas trapalhadas que prejudicam o mercado, ainda vem o Lula cobrar do
Campos Neto uma redução da Selic. Basta o governo acertar a mão que ela regride, o
valor alto é consequência de um governo ineficiente, não sua causa. Ou seja, a Taxa
está elevada porque o governo fala o que não deve e não faz o que precisa.
Renato de Paiva Pereira

Foto: Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião no Palácio do Planalto, em Brasília14/03/2024REUTERS/Ueslei Marcelino. CNN Brasil.

Renato Paiva

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