Nacional

Sérgio Moro perde palanque em SP e sofre baque ao buscar protagonismo

Os áudios sexistas do deputado estadual Arthur do Val derrubaram o palanque regional mais consistente e importante de Sergio Moro (Podemos) no país, o de São Paulo, e ampliaram os problemas na candidatura do ex-juiz.

O caso tende a empurrar o Podemos de vez para a campanha do tucano Rodrigo Garcia em São Paulo, principal base de sustentação do presidenciável João Doria (PSDB).

Por tabela, o MBL (Movimento Brasil Livre), grupo que migrou para o Podemos e integra a linha de frente da campanha de Moro, vê a sua crise interna se ampliar com dois de seus principais líderes na linha de fogo –além de Arthur do Val, o deputado federal Kim Kataguiri (SP) se envolveu em controvérsia recente ao dizer, em entrevista, que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo.

A reação de Moro de condenar e tentar se afastar de Kataguiri e Arthur do Val terá reflexos no apoio do grupo à sua candidatura.

Moro tenta se descolar de Ciro Gomes (PDT) nas pesquisas e se consolidar como o nome que unificaria os demais da direita e do centro –Doria e Simone Tebet (MDB), em especial– em torno da sua candidatura. Sua lista de problemas, porém, não é pequena.

Em primeiro lugar, ele está filiado a um partido, o Podemos, que tem poucas perspectivas de montar palanques fortes nos estados nas disputas para governador.

Além da fragilidade partidária e da falta de palanques regionais, a estagnação nas pesquisas e o caso Arthur do Val levam políticos e adversários a ampliarem, nos bastidores, prognósticos de que Moro poderá até abandonar a candidatura presidencial e concorrer a outro cargo.

Em pesquisa Datafolha de dezembro, Moro tinha 9% das intenções de voto, enquanto Ciro aparecia com 7%. Doria tinha 3% e Tebet, 1%.

Os aúdios sexistas de Arthur do Val vieram à tona na sexta-feira (4). No dia seguinte, ele disse ter retirado sua pré-candidatura ao governo paulista.

O deputado estadual aparecia com 3% das intenções de voto em pesquisa Datafolha de dezembro –em cenário que não considera a participação do ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido).

Em 2020, Arthur do Val foi candidato a prefeito de São Paulo pela primeira vez e ficou em quinto lugar, com 9,8%.

Na fala que enviou a um grupo de amigos, Arthur do Val diz, entre outras coisas, que as ucranianas são "fáceis" por serem pobres –e que a fila de refugiados da guerra tem mais mulheres bonitas do que a "melhor balada do Brasil".

A primeira reação de Moro foi romper com o deputado estadual e dizer que lamentava "profundamente as graves declarações" atribuídas a Arthur do Val, youtuber também conhecido pelo apelido de Mamãe Falei.

"O tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável em qualquer contexto. As declarações são incompatíveis com qualquer homem público. Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas que têm esse tipo de opinião e comportamento", afirmou.

A pré-candidatura de Arthur do Val não era consenso dentro do Podemos. Um dia após a filiação do deputado estadual ao partido, um grupo de 18 prefeitos da legenda em São Paulo se reuniu com Rodrigo Garcia (PSDB), que é vice-governador de São Paulo, para declarar apoio à sua reeleição. O Podemos administra 22 cidades no estado.

Apesar de reconhecerem reflexos negativos, a reação do ex-juiz foi elogiada por aliados.

O líder do Cidadania na Câmara dos Deputados, Alex Manente (SP), diz que o episódio afeta a candidatura, mas que Moro agiu de forma correta .

"Inegavelmente ele se aliou ao MBL, especialmente no estado de São Paulo, onde o MBL tem uma presença, e [Moro] teve a postura correta e imediata para tentar minimizar o dano", afirmou. "Mas óbvio que inclusive a questão político-partidária que foi criada em torno do MBL, da candidatura do Arthur a governador, afetará a campanha do Moro em São Paulo."

Para o deputado Junior Bozzella (União-SP), Moro demonstrou que se posiciona quando aliados cometem erros. "Ele não passa pano. Isso é uma vantagem que ele tem perante os demais. Quando o Moro reage à atitude de um possível aliado, ele mostra que é preciso apontar o erro e deixar explícita a sua posição", diz.

"A partir do momento em que ele deixa claro que não tem compromisso com uma atitude equivocada, racista, machista, ele demonstra a sua honradez e seu caráter", prossegue o deputado.

Ele também critica bolsonaristas que tentam "cancelar" o deputado estadual, enquanto ignoram atitudes machistas do presidente Jair Bolsonaro.

"Quem aponta o dedo para o Arthur tem que apontar para o Bolsonaro também", afirmou Bozella. Para ele, Moro vai ser "vítima de toda gota ser potencializada e transformada num tsunami".

"A questão é saber se posicionar diante do erro. Ele não passou a mão na cabeça de ninguém, diferentemente da esquerda que não aponta dedo para os mensaleiros e dos bolsonaristas que não apontam dedo para os rachadores."

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Nacional

Comissão indeniza sete mulheres perseguidas pela ditadura

“As mulheres tiveram papel relevante na conquista democrática do país. Foram elas que constituíram os comitês femininos pela anistia, que
Nacional

Jovem do Distrito Federal representa o Brasil em reunião da ONU

Durante o encontro, os embaixadores vão trocar informações, experiências e visões sobre a situação do uso de drogas em seus