O Brasil deverá aumentar pela segunda vez em menos de um ano a quantidade mínima de biodiesel a ser misturada no diesel do país, prosseguindo com elevações de 1 ponto percentual por ano até 2023 e impulsionando, com isso, a demanda por soja.
Analistas, produtores e autoridades do governo preveem que o país ampliará a mistura mínima do biocombustível na composição do diesel para 12% no próximo mês de março, após elevação de 10% para 11% em setembro. Eles veem o Brasil atingindo uma mistura de 15% até 2023 e discutem o caminho para que maiores misturas sejam alcançadas na sequência.
Misturas mais altas de biodiesel reduzirão as importações do óleo diesel, combustível fóssil com base no petróleo. Além disso, também vão alavancar a demanda local por soja, já que 80% do biodiesel brasileiro é produzido a partir do óleo de soja.
“O B15 é algo que vemos como certo, estamos testando maiores misturas agora”, disse Fabio Vinhado, que comanda o laboratório da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), acrescentando que os testes estão sendo conduzidos com misturas de 20% e 30% de biodiesel.
A oferta de biodiesel no Brasil avançou de 4,62 bilhões de litros em 2016 para projetados 6,69 bilhões de litros neste ano, de acordo com a consultoria BiodieselBR, que estima uma demanda de cerca de 9,7 bilhões de litros em 2023.
“Há uma forte demanda por vir, e ela será atendida com a expansão da produção”, disse Miguel Angelo Vedana, analista-chefe da BiodieselBR.
A União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), associação que reúne produtores de biodiesel, informou que atualmente há 11 plantas trabalhando em expansões e dez novas unidades em construção. A entidade espera que a capacidade produtiva avance para 12,6 bilhões de litros uma vez que esses projetos entrem em operação.
“Quando chegarmos ao B15, a indústria local de soja terá de processar 8 milhões de toneladas a mais de grãos, indo dos atuais 44 milhões de toneladas por ano para cerca de 54 milhões de toneladas”, disse André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Uma peculiaridade da política de biodiesel do Brasil é a de que ela determina a mistura mínima, mas permite que distribuidoras de combustíveis façam misturas mais altas, que vão até o B15, caso desejem.
“Algumas distribuidoras já estão vendendo maiores misturas, especialmente em lugares onde o biodiesel é mais barato que o diesel, como Mato Grosso”, disse Vedana.
Outra iniciativa para que as distribuidoras sigam esse caminho é o RenovaBio, nova política federal que visa impulsionar os biocombustíveis no país, cujo início ocorrerá em 2020.
A política fornece às distribuidoras alvos para a redução de emissões, que são baseados nos volumes de combustíveis fósseis vendidos no ano anterior. Se elas venderem mais biocombustíveis, as metas são reduzidas para o ano seguinte, e assim as empresas terão de adquirir menos créditos de carbono.