A guerra comercial entre Estados Unidos e China ameaça colocar de ponta cabeça o status quo do comércio internacional.
Recentemente, o jornal britânico Financial Times destacou um cálculo feito pelo Deutsche Bank usando dados do Banco Mundial e do economista Justin Weidner, do Instituto Brookings.
Ele mostra 13 grandes economias com sua respectiva tarifa mediana real, aquela ajustada pelo valor e quantidade dos produtos que o país efetivamente importa.
Antes da guerra comercial, a tarifa mediana americana era próxima daquela praticada por outros países desenvolvidos como França, Alemanha, Reino Unido e Canadá.
A situação muda em setembro de 2018, quando os EUA começam a aplicar tarifas de 10% sobre US$ 250 bilhões em importações da China. No início de maio, Trump surpreende ao divulgar que essas mesmas tarifas subiriam para 25%.
O presidente americano também ameaçou aplicar em breve a nova taxa de 25% sobre os US$ 325 bilhões de importações chinesas até agora isentas, incluindo itens como roupas e celulares.
Como a China responde por cerca de um quinto de tudo que os Estados Unidos importam em um ano, essas atitudes somadas seriam suficientes para quadruplicar a tarifa média americana sobre o patamar inicial.
Próxima de 8%, ela já ficaria acima daquela aplicada por grandes países emergentes, como Rússia e Índia, e se aproximaria da taxa brasileira, a maior entre as grandes economias.
Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco político Eurasia, fez uma brincadeira com os números em sua conta no Twitter: “Make America Like Brazil”, uma referência ao slogan da campanha de Trump (“Make America Great Again”, ou “Torne a América Grande Novamente”).
Um estudo do Peterson Institute of Economics mostra que as tarifas sobre a China podem atingir o mesmo patamar daquelas que os EUA colocaram sobre todos os seus parceiros comerciais por meio do Ato Smoot-Hawley de 1930, considerado um dos responsáveis pelo agravamento da Grande Depressão.
“E as tarifas podem continuar tão altas, porque as demandas de negociação dos EUA são humilhantes demais para a China aceitar. Essas tarifas também podem levar a um desvio para outros fornecedores. Mas as tarifas podem se espalhar para esses [países], também: o bilateralismo é com frequência uma doença contagiosa”, escreve Martin Wolf na matéria do FT.
Vale lembrar que taxas de importação não são o único instrumento de fechamento comercial, que também pode incluir barreiras não-tarifárias como restrições técnicas e sanitárias.
Mas a conclusão é clara: os Estados Unidos estão se tornando um país cada vez protecionista. A julgar pela experiência brasileira na área, não é um bom caminho para seguir.