Com o forte tombo nas ações nesta quinta-feira (24), a Petrobras perdeu em poucas horas mais de R$ 41 bilhões em valor de mercado e voltou a perder o posto de empresa brasileira mais valiosa da Bolsa, segundo dados da provedora de informações financeiras Economatica.
Por volta das 11h50, a Petrobras estava avaliada na B3 em R$ 290,9 bilhões, voltando a ser superada pela Ambev, com R$ 314,4 bilhões. Na véspera, as empresas estavam avaliadas em R$ 332,4 bilhões e R$ 315,1 bilhões, respectivamente.
A estatal tinha retomado o posto no dia 10 de maio, após mais de 3 anos, e chegou a superar o valor de mercado de R$ 350 bilhões.
Por volta das 14h20, as ações preferenciais da Petrobras (as mais negociadas e com preferência na distribuição de dividendos) despencavam 14,48%, enquanto que as ordinárias (que dão direito a voto em assembleias da empresa) caíam 13,81%. Perto do mesmo horário, o Ibovespa caía 1,81%.
As ações da Petrobras despencavam nesta quinta com os investidores reagindo mal à decisão da petroleira de reduzir em 10% o preço do diesel por 15 dias, em meio aos protestos de caminhoneiros no país.
Segundo a estatal, a medida deve resultar em perda de R$ 350 milhões em receita para a companhia. "É uma medida de caráter excepcional. Não representa uma mudança de política de preço da empresa", afirmou o presidente da estatal, Pedro Parente.
Pela metodologia da Economatica, o valor de mercado é calculado considerando a quantidade de ações fora de tesouraria e a cotação dos papéis. A máxima histórica foi registrada no dia 21 de maio de 2008, quando a estatal atingiu na Bovespa valor de mercado de R$ 510,3 bilhões.
Riscos de interferência política
Analistas cortaram a recomendação dos papéis da companhia, citando preocupação com aumento dos riscos de interferência política na estatal. Entre as casas que rebaixaram a avaliação dos papéis estão Credit Suisse, Morgan Stanley e Itaú BBA, segundo a agência Reuters.
Os ADRs, recibos de papéis da empresa que são negociados na Bolsa de Valores de Nova York, chegaram a cair 11,32% na véspera, para US$ 13,40, no chamado "after market" (período que sucede o horário regular do pregão), segundo o Valor Online, com os investidores temendo uma volta da ingerência política na empresa e um risco à gestão autônoma que vigora desde o início da presidência de Pedro Parente.
Para o professor do Instituto de Economia e membro do Grupo de Economia da Energia da UFRJ Edmar Almeida, a decisão da Petrobras de abaixar o preço do diesel e mantê-lo congelado por 15 dias sinaliza que ela perdeu a autonomia conquistada.
"A ideia da não interferência só é passada se não tiver interferência. E a gente viu que a greve levou o governo a intervir. Isso mina a confiança do mercado”, disse.
Para o especialista, o cenário aponta que a Petrobras terá dificuldade de brigar para manter a política de preços adotada no ano passado. “O mercado já viu que, se congelou o preço por 15 dias, significa que essa política já não vigora mais e que politicamente a empresa perdeu a batalha”.
Almeida acrescentou que o fato de o país estar às vésperas do período eleitoral dificulta ainda mais o quadro para a Petrobras. “Vendo a reação dos políticos de todos os motes ideológicos criticando a empresa por ter adotado um reajuste diário, vai ser muito difícil que ela continue a praticá-lo. A não ser que o preço do barril do petróleo comece a cair. Porque se o reajuste diário for para baixo, não vai ter problema. A reclamação é quando o reajuste é para cima”
Segundo o professor, é indispensável para a saúde financeira da petroleira manter uma política de reajuste dos preços pareada com o mercado internacional.
“O mercado assistiu entre 2010 e 2014 um congelamento de preços para evitar a inflação que levou a Petrobras a ter perdas acumuladas significativas. Na minha opinião, foi essa intervenção, que também aconteceu em outros governos passados, que quebrou a empresa. Se a Petrobras tivesse podido acompanhar o mercado internacional, ela não teria chegado à situação de crise que chegou”, acrescentou.