Venda de automóveis, balança comercial, indústria, desemprego e juros. A lista de dados econômicos divulgados na semana vai desenhando o mapa da recuperação da atividade em 2017. Todas as informações vieram positivas, algumas melhores do que as outras. Caso da venda de veículos que registrou alta de 27,5% em outubro e, não só pelo número em si, mas também porque ele indica o que pode vir de reação nos outros setores da economia no mês passado.
Ainda falando de outubro, a balança comercial continua batendo recordes (US$ 58,48 bi) e a composição vem melhorando nos últimos meses. Principalmente quando olhamos para as importações, que andavam fraquinhas até meados do primeiro semestre. Estamos importando mais bens de capital (18,5% a mais), ou seja, máquinas e equipamentos, e também bens de consumo (9,3% a mais), que sinalizam duas coisas: a indústria já começa a se preparar para produzir mais, ou melhor; e os consumidores voltaram a demandar produtos estrangeiros.
Olhando um pouco mais atrás, a produção industrial teve uma leve recuperação em setembro, alta de 0,2%, depois de ter recuado em agosto. Foi o melhor resultado para aquele mês desde 2013 e o setor soma alta de 3,1% no terceiro trimestre. Há um longuíssimo caminho a ser vencido até que a indústria brasileira vença três anos seguidos de queda acentuada registrados em 2016 (6,6%) , 2015 (8,3%) e 2014 (3%) . Para este ano, os analistas de mercado esperam alta de 2%, que é muito pouco para superar quase 18% de perdas acumuladas, mas sair do vermelho é positivo.
Mercado de trabalho é o que tem causado a maior surpresa. Ele vem melhorando desde abril, revertendo a expectativa negativa que havia para o desemprego em 2017. Nos ciclos econômicos, o emprego é o último a piorar e também o último a melhorar. Como disse João Borges, em artigo recente no seu Blog aqui no G1, isto também surpreende na atual dinâmica da recuperação. Há uma enorme ressalva sobre o tema, já que o país tem ainda 13 milhões de pessoas desempregadas, uma enormidade. Mas não há como desprezar a volta de mais de 1,3 brasileiros para o trabalho.
A segunda ressalva é sobre a qualidade do trabalho que vem sendo criado. A informalidade vem crescendo e o trabalho por conta própria também. Isto sinaliza que os empregadores ainda não têm segurança para assinar carteira e formalizar o funcionário, o que acarretaria em mais custo, ao mesmo tempo em que o trabalhador está aceitando esta condição para não ficar sem renda. Aqueles que partem para o “conta própria” podem ter sido forçados a esta opção porque não conseguiram uma cadeira no mundo corporativo.
A qualidade do mercado de trabalho neste ciclo de retomada é um ponto relevante e precisa ser acompanhado de perto porque está diretamente relacionado à produtividade e à consistência da recuperação. O fato novo é a mudança na legislação, com a reforma trabalhista e a terceirização tendo sido aprovadas. Ainda não é possível prever como as novas regras vão formar o que pode ser o novo mercado de trabalho no país.
Finalmente, mas nada menos importante, estão os juros. O Banco Central avisou que a taxa básica vai cair para 7% no último mês do ano. E pediu liberdade para decidir se vai cortar mais a partir de janeiro de 2018, ou vai ser mais cauteloso. Quem lê os sinais do BC há mais tempo, está vendo mais chance da taxa cair para a casa do 6% do que estacionar em 7%. Se isto acontecer, será um empurrão forte nesta recuperação que ainda caminha lenta, apesar de mais consistente.
Uma última ressalva, impossível de não fazer, é sobre o spread bancário. As taxas cobradas dos consumidores e empresários ainda é aviltante, especialmente se comparada com o resto do mundo. O governo se defende dizendo que muitas outras medidas estão sendo tomadas para provocar uma redução mais forte dos juros bancários. Há razões para acreditar nisso quando analisamos as medidas. Mas, dado o histórico do comportamento do setor financeiro no país, é melhor esperar e ver para crer.