Agronegócio

Brasil vai arcar com ônus do superávit global de açúcar

O Brasil – responsável por quase metade das exportações globais do produto enfrenta excesso de oferta em nível mundial e maior disputa por compradores. Os preços tiveram o pior início de ano desde a década de 1980. O agravante é que a safra recorde se mostra ainda maior do que se esperava na principal região produtora do país, exatamente quando o consumo mundial se desacelera e as pessoas optam por outras formas de adoçante.

Em 2016, a oferta limitada desencadeou a disparada nos contratos futuros. Já no período de 12 meses até abril, a produção deve crescer 5,2 por cento para a maior quantia já registrada, segundo previsão do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). O Brasil pode ter dificuldades para encontrar compradores para o açúcar bruto logo antes do salto das exportações da União Europeia, que suspenderá restrições às safras e os limites a embarques para fora do bloco a partir de outubro.

"Não vejo demanda forte por açúcar depois de setembro, com o peso da volta da Europa", disse Pedro Mamoru Mizutani, trader da Czarnikow Group em São Paulo. "A percepção de superávit aumenta a partir do quarto trimestre."

A produção global nesta temporada chegará a um recorde de 179,6 milhões de toneladas, segundo o USDA. Na região Centro-Sul do Brasil, a produção deve atingir 36,4 milhões de toneladas, ou 900.000 a mais do que se previa no início do ano, de acordo com a firma de pesquisas Green Pool Commodity Specialist.

Superávit global

Após dois anos seguidos de déficit, o mundo pode ter superávit de aproximadamente 6 milhões de toneladas na safra 2017-18, de acordo com os cálculos da Green Pool. Já a Tropical Research Services estima o excedente em 4 milhões de toneladas, enquanto a Organização Internacional do Açúcar divulgou em maio expectativa de superávit de 3 milhões de toneladas.

A cotação do açúcar desabou 33 por cento desde o fim de 2016 para 13,13 centavos de dólar por libra-peso na terça-feira, nas negociações na bolsa ICE Futures, em Nova York. Foi a maior queda de início de ano desde 1984.

Os problemas brasileiros se intensificam com a expansão da produção e das vendas de beterraba na UE, após uma década de restrições. A medida pode elevar as vendas de açúcar branco refinado do bloco em 2 milhões de toneladas para 3 milhões na safra que começa em 1º de outubro, segundo cálculos de analistas. O movimento pode prejudicar as margens de lucro de refinarias localizadas no Oriente Médio e no norte da África, que não devem importar tanto açúcar bruto do Brasil.

Já há evidências de que o excesso de oferta está afetando as refinarias. O preço do açúcar branco refinado negociado em Londres acumula queda de 31 por cento e chegou a US$ 363,10 por tonelada na terça-feira. A diferença de preços entre o produto bruto e o refinado encolheu 35 por cento para aproximadamente US$ 75 por tonelada. No caso dos contratos futuros para entrega em março, o spread é de US$ 70. Muitas das maiores refinarias do mundo precisam de uma diferença mínima de US$ 100 para gerar lucro.

"Não dá para ganhar dinheiro com esse ágio do açúcar branco", disse o analista John Stansfield, da Sopex Group em Londres. "O mercado não está pagando as refinarias para importarem açúcar no quarto trimestre. Para muitas refinarias, o ágio do produto branco simplesmente não será suficiente para elas operarem nos próximos 12 meses."

A China também está comprando menos do Brasil. Os embarques para o país mais populoso do mundo e segundo maior consumidor mundial de açúcar diminuíram 80 por cento no primeiro semestre, após a elevação das tarifas de importação pela China no segundo trimestre.

Estoques da UE

Em alguma medida, essas vendas perdidas serão direcionadas para o leste da África, onde países como o Quênia enfrentam escassez no mercado doméstico por causa da seca, de acordo com a Enerfo Group. Os estoques na UE estão no menor patamar em uma década e, sendo assim, os produtores podem escolher primeiramente abastecer o mercado doméstico a vender para o exterior.

A China provavelmente vai preferir comprar da América Central por questões tarifárias. O contrabando de açúcar branco para o país asiático também está reduzindo a demanda pelo açúcar bruto do Brasil, disse Jeremy Austin, diretor do escritório brasileiro da Sucres et Denrées. Todos os cinco maiores produtores de açúcar do mundo terão safras maiores nesta temporada, incluindo a UE.

É mau sinal para exportadores brasileiros e para a demanda por açúcar bruto usado para refino, explicou Stansfield, da Sopex Group.

"Da forma que o ágio do produto branco está estruturado no momento, a Europa essencialmente vai se livrar de seus estoques", ele disse. "Outros grandes produtores Tailândia e Austrália – estão em regiões com déficit, então vão vender a compradores asiáticos. Portanto, está bem claro que existe superávit global do produto bruto, que está parado no Brasil."

Redação

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