O desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), determinou a prisão preventiva do chefe da Casa Militar, coronel Evandro Alexandre Ferraz Lesco, por suposto envolvimento nas interceptações telefônicas ilegais em Mato Grosso. O Governo do Estado, até a edição dessa matéria, não confirma a prisão.
Além dele, de acordo com mandado expedido na tarde desta sexta-feira (23), também foram presos por envolvimento em suposta central de grampos, o coronel Ronelson Barros (adjunto da Casa Militar), o tenente-coronel Januário Batista e um cabo identificado como Toresan.
Já o corregedor-geral da PM, coronel Alexandre Corrêa Mendes, e o diretor de Inteligência da Corporação, tenente-coronel Victor Paulo Fortes Pereira, foram presos pelo suposto vazamento de informações, quanto aos mandados de prisão anteriores.
Tal vazamento levou o governador Pedro Taques (PSDB) a realizar a troca no comando da Polícia Militar.
O coronel Marcos Vieira da Cunha vai assumir o Comando-Geral da PM no lugar do coronel Jorge Luiz de Magalhães, que estava na função desde abril de 2016.
O vazamento de informações sigilosas foi no âmbito do inquérito e ação judicial que investiga a existência de suposta central de interceptações telefônicas ilegais evolvendo membros da Polícia Militar e Palácio Paiaguás.
De acordo com documento elaborado pelo governador e encaminha ao desembargador Orlando Perri – responsável pela condução da ação -, na manhã desta sexta-feira (23), os secretários Lesco, José Adolpho de Lima Avelino Vieira (Casa Civil), e Airton Siqueira, foram abordados, no gabinete da Casa Militar pelo coronel Alexandre e pelo tenente-coronel Victor Paulo.
Na abordagem, o corregedor-geral e diretor teriam orientados os secretários a se prepararem, pois eles haviam sido chamados pelo coronel Jorge Catarino de Moraes, encarregado do Inquérito que apura os grampos no Estado, para a realização de uma operação, com mandados de prisão e busca e apreensão, tendo como alvos a Casa Militar e servidores do local.
No documento, Taques disse que “por não compactuar com vazamentos de informações sigilosas, quebra de segredo de justiça e cometimento de crimes, pois, no mínimo, e, em tese, o corregedor e o oficial cometeram os delitos de quebra de sigilo de informações”.
Compra de equipamento
Chefe da Casa Militar afastado, o coronel Lesco teria comprado à vista dois equipamentos que podem ser usados para interceptações telefônicas em maio de 2015, no valor de R$ 24 mil. A compra foi feita no nome dele, mas da nota fiscal consta o endereço da sede do Comando Geral da Polícia Militar, em Cuiabá, para a entrega do material.
A nota fiscal da compra feita no nome de Lesco está na documentação enviada à Procuradoria Geral da República (PGR), na denúncia realizada pelo ex-secretário de Estado de Segurança, o promotor de Justiça Mauro Zaque, na qual trata sobre suposta central de interceptações telefônicas em Mato Grosso.
Os aparelhos foram adquiridos quando ele era secretário-adjunto de Segurança Governamental da Casa Militar, cargo para o qual foi nomeado em fevereiro de 2015, como consta do Diário Oficial do Estado. Um dos equipamentos custou R$ 8,5 mil e pode ser usado para fazer escutas telefônicas. O outro, no valor de R$ 15,7 mil, pode ser utilizado para fazer gravações.
Arapongagem em MT
A existência de suposta central clandestina de grampos telefônicos em Mato Grosso veio à tona no 11 de maio, quando o governo do Estado anunciou a exoneração do ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques. Sua saída foi anunciada como um acordo entre Paulo e seu primo, o governador Pedro Taques, para que o homem forte do Executivo deixasse o Palácio Paiaguás e cuidasse pessoalmente das investigações envolvendo a suposta “arapongagem”.
No dia 23 de maio, o juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Criminal Especializada em Crimes Militares de Cuiabá, determinou a prisão preventiva do ex-comandante-geral da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa, que teria atuado não só como mandante, mas como o responsável por manter contato pessoal com magistrados para viabilizar a quebra de sigilo telefônico ilegal em Mato Grosso.
O cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Ferreira Golveia Junior – integrante do Núcleo de Inteligência da PM e teria assinado alguns pedidos de grampos à Justiça -, também foi preso.
O caso até então investigada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), após denúncia do ex-secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), o promotor de Justiça Mauro Zaque, apontou que membros da Polícia Militar aproveitaram uma investigação relacionada ao tráfico de drogas na região de Cáceres (177 km de Cuiabá), para inserir números telefônicos de políticos adversários ao governo, médicos, advogados, jornalistas, servidores públicos e até desembargador aposentado de Mato Grosso, em um pedido de quebra de sigilo.
O requerimento para as interceptações teria sido encaminhado ao MPE, que por sua vez formalizou a solicitação à Justiça estadual. A autorização teria partido do juiz Jorge Alexandre Martins Ferreira, que não teria tido conhecimento de que nem todos os números relacionados pela PM estavam relacionados com o crime tratado no processo.
As escutas ilegais teriam começado no período das eleições de 2014, quando Silval Barbosa (PMDB) ainda era governador e Taques disputava as eleições. Em 2015, novos nomes foram incluídos nas escutas.
Segundo a denúncia, o esquema de escuta teria o envolvimento direto de pelo menos três policiais militares: os cabos Gerson Luiz Ferreira e Clayton Dorileo Rosa de Barros, e a sargento Andrea Pereira de Moura Cardoso.
Até o momento, o que se sabe é que os contatos supostamente inseridos de forma criminosa foram: a deputada Janaina Riva (PMDB); o advogado eleitoral José do Patrocínio; o jornalista José Marcondes dos Santos “Muvuca”; o atual secretário municipal de Trabalho e Desenvolvimento Humano de Cuiabá, Vinicius Hugueney (PP); o assessor do deputado Wagner Ramos (PR) Eduardo Gomes Silva Filho; o assessor especial da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) Romeu Rodrigues da Silva; a jornalista Larissa Malheiros Batista; Kely Arcanjo Ribeiro Zen, filha do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro; os servidores da Assembleia Legislativa Mario Edmundo Costa Marques e Carlinhos Bergamasco (já falecido); o desembargador aposentado José Ferreira Leite; e a gerente de Inteligência e Contra-Inteligência da Casa Militar, Claudia Rodrigues de Gusmão.
A lista de grampeados é composta, até mesmo, por uma empresária que teria tido um relacionamento amoroso com o ex-secretário-chefe da Casa Civil Paulo Taques, Tatiane Sangalli.
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