A crise econômica no Brasil enviou 4,4 milhões de famílias para as classes D e E só no biênio 2015-2016, de acordo com estudo da consultoria Tendências. É suficiente para mais do que anular todo o processo de mobilidade social verificado entre 2006 e 2012, quando 3,3 milhões de famílias fizeram o caminho inverso.
Nos últimos dois anos, só as classes mais baixas (D e E) ganharam membros enquanto todas as outras (A, B e C) perderam, o que deixa claro a direção da mobilidade.
A classe A foi a maior perdedora tanto em termos relativos quanto em perda no agregado da massa salarial: R$ 46,2 bilhões em 2015 e R$ 39 bilhões em 2016. Mas esse é o grupo que costuma entrar e sair mais rápido da crise:
“Há maior concentração de empregadores no estrato mais alto de renda, com renda atrelada à lucratividade de suas empresas, de modo que tendem a sentir de forma mais rápida e aguda o ciclo econômico que os trabalhadores com carteira, por exemplo”, diz o estudo.
Foram consideradas como classes D e E as famílias com rendimento mensal abaixo de R$ 2.166, como classe C aquelas com renda entre R$ 2.166 e R$ 5.233, como classe B as com renda entre R$ 5.233 e R$ 16.263 e como classe A as famílias com renda acima disso.
Desigualdade e futuro
Foram utilizados dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) combinados com dados da Receita Federal para quem ganha mais de cinco salários mínimos.
Essas informações extras permitem um retrato mais fiel da realidade, já que a PNAD reconhecidamente subestima a renda dos mais ricos ao se basear apenas em questionários.
Um exemplo: pela PNAD original, a renda familiar média da classe A é 19,5 vezes maior do que a média nas famílias das classes D/E. Com ajuste, a diferença sobe para 33,4 vezes (dados de 2014).
A classe A tem 3% das famílias e 35% da renda total, enquanto as classes D e E tem 56,4% das famílias e apenas 16,4% da renda.
“A desigualdade de renda no Brasil é muito maior do que as estatísticas oficiais reportam”, diz o estudo.
Pouco menos de metade dessa desigualdade pode ser atribuída ao fator escolaridade: praticamente não há profissionais com ensino superior na classe D/E, enquanto a classe A é praticamente dominada (81,7%) por gente com essa formação.
A retomada econômica, quando vier, já não deve ser tão positiva para a nova classe média, nota Adriano Pitoli, economista da Tendência e responsável pelo estudo.
“Os motores do crescimento brasileiro entre 2006 e 2014 foram varejo e o consumo, que demandam muita mão de obra de baixa qualificação, o que favoreceu o aumento de salário nesses grupos. Mas esse cartucho a gente já gastou e não pensamos ser possível voltar. O fator que favoreceu as classes de menor renda não vai se repetir tão cedo”, diz ele.
O chamado “prêmio por qualificação” – o valor a mais que um indivíduo ganha por ter faculdade – caiu em 2011, ficou estável em 2012, 2013 e 2014 e voltou a subir em 2015.
A previsão do estudo é que a classe C, que já deixou de ser a mais dinâmica, siga com evoluções modestas enquanto as classes A e B terão as taxas de crescimento mais elevadas quando a economia voltar a crescer – o que pode acontecer já neste trimestre.
Fonte Exame