"Faz 21 anos que estou atrás dos meus meninos. Desde 1993, já fui para a delegacia, para a Justiça, para o Ministério Público e para o Cremesp atrás dos meus embriões". conta a estilista Vana Lopes. Aos 54 anos, a antiga paciente do ex-médico Roger Abdelmassih conta ainda ter a esperança de encontrar possíveis filhos nascidos de seus embriões.
Ela é uma das vítimas de Roger Abdelmassih, especialista em fertilização artificial e condenado por 52 estupros e atentados violentos ao pudor contra suas pacientes. O médico foi preso em 19 de agosto na cidade de Assunção, no Paraguai.
Em 1993, Vana procurou o médico em São Paulo para engravidar. Após o processo de fertilização in vitro, ela afirma que o médico lhe disse ter conseguido 14 embriões a partir de cerca de 20 óvulos retirados dela.
"Ele me dava muito hormônio, então fabriquei muitos óvulos. Ele implantou quatro em mim, mas como aconteceu a violência sexual não voltei mais à clínica para buscar", explica. Ela diz que perdeu os quatro embriões que foram implantadas nela por conta de uma bactéria adquirida durante a violência sexual.
Sua busca começou quando ainda tinha a esperança de usar os embriões em uma nova fertilização. Apesar de nunca ter voltado a fazer tratamentos para engravidar, sua procura pelos embriões não parou.
"Em várias entrevistas, ele dizia que os embriões poderiam ficar congelados por até 50 anos. Eles não estão congelados, não podem ter sido descartados, então eu quero saber onde estão os meus embriões. Embrião é um ser e se é um ser, ele é protegido. Eu quero saber onde estão os meus. São dez filhos."
Segundo ela, "há uma suspeita de terem colocado esses embriões em outras mulheres porque essa criatura engravidava na clínica dele outras mulheres que tinham problemas e não tinham óvulos".
Durante o processo que incriminou o ex-médico Roger Abdelmassih por abusos sexuais, em 2009, Vana Lopes conta que conseguiu uma certidão de existência de dez embriões que teriam sido produzidos à época.
"Em todos meus depoimentos, eu falava dos meus embriões, mas ninguém dava atenção aos embriões, apenas à violência sexual, nem o Ministério Público deu atenção", diz.
Neste momento, Vana reúne vítimas para fazer novas denúncias em busca de seus embriões e de seu prontuário médico. Ela diz que, após sua última denúncia, o Cremesp abriu uma nova sindicância para apurar onde poderiam estar os embriões.
"Ele trabalhava com vários médicos, eles podem ter sido usados na clínica dele ou em outras clínicas para engravidar mulheres que não tinham como produzir seus óvulos."
Vana diz que sonha em conhecer seus possíveis filhos e quer dar o suporte genético às famílias que tenham recebido seu material. "Eu tenho quase certeza que eles nasceram, tem uma coisa chamado de instinto materno que me diz isso."
Fonte: iG