Novos vídeos entregues pelo ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB), no acordo de delação premiada, mostram políticos do estado recebendo propina. Os vídeos foram divulgados em reportagem exibida pelo Jornal Nacional na noite desta segunda-feira (29).
No vídeo aparecem os ex-deputados estaduais Antônio Azambuja e Airton Português, e o deputado Baiano Filho.
Azambuja e Portugues, que inclusive foi acompanhado da irmã Vanice Marque, aparecem nas imagens recebendo dinheiro.
Os repasses seriam referentes a uma espécie de "mensalinho", uma mesada paga pelo ex-governador a deputadas da sua base para que garantissem apoio a seu governo e não denunciassem eventuais falcatruas.
Silval Barbosa e Sílvio Cezar gravaram a entrega de dinheiro e juntaram as imagens na delação premiada.
Conteúdo dos vídeos
Em um dos vídeos, o ex-deputado estadual Antonio Azambuja, do PP, chega com uma pasta e começa a receber diversos maços de dinheiro, contato ali.
Sílvio Cezar: "Você sabe que é cinquenta, né?"
Antonio Azambuja: "Sim."
Sílvio Cezar: "Dez, vinte, trinta… e mais 20… cinquenta."
O ex-deputado coloca tudo na pasta. Mas não cabe. Ele, então, retira os elásticos para fazer maços menores. Não consegue fechar de novo. Azambuja, então, tira parte dos maços, aperta a pasta. Vendo que era dinheiro demais para a pasta, começa a encher os bolsos do paletó. No fim, Azambuja reclama da imprensa em Brasília:
Antonio Azambuja: "Brasília é um inferno. Imprensa ali detona qualquer um. O cara vem pra [inaudível] ja tá no anonimato."
Em outro vídeo, é possível identificar a entrega de dinheiro em família, para dois irmãos: Airton Rondina, conhecido como "Airto Português", do PSD, ex-deputado estadual, e a irmã dele, Vanice Marques, ex-secretária estadual. Silvio Cezar começa a colocar dinheiro na mesa. Vanice prepara a bolsa e pega os maços.
Também em outro vídeo, o deputado estadual Baiano Filho, do PSDB, não recebe dinheiro. Mas cobra, fala em valores e questiona se o acerto será cumprido.
Baiano: "O presidente prometeu lá. Você que tinha arrumado um milhão e oitocentos. Dou conta não, dou conta não. Eu preciso!"
Sílvio Cezar: "Eu sei, mas não tem como. Não tem."
Baiano: "Mas ele falou na hora, pô. Esse povo não… não cumpre o que fala?"
Repasses de dinheiro
Na semana passada, a TV Globo já havia mostrado outros políticos de Mato Grosso recebendo dinheiro: O prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB), que enche os bolsos do paletó de dinheiro (era tanto que ele deixa até cair); o deputado federal Ezequiel Fonseca (PP), que recebeu em uma caixa de papelão; o então deputado estadual Hermínio Barreto (PR), que recebe em uma bolsa; a atual prefeita de Juara, Luciane Bezerra (PSB); e o ex-deputado estadual Alexandre César (PT), que guardou as notas em uma mochila.
Inquérito
Na delação de Silval Barbosa à Procuradoria Geral da República (PGR) relata como funcionava o esquema de “mensalinho” que começou no governo do agora Ministro da Agricultura, Blairo Maggi. Segundo Silval, o objetivo do chamado mensalinho, era manter uma base forte do governo dentro da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, tendo começado no ano de 2003 e pago em torno de R$ 30 mil reais por deputado.
Para efetuar esse pagamento, houve um acordo entre a mesa diretora da AL e o governador do Estado para que este (governo) aumentasse os repasses para a AL, sendo que acredita o colaborador que no ano de 2003 houve um acréscimo de 12 a 15 milhões de reais no orçamento da AL para que os pudessem retirar desse valor as vantagens indevidas .
Tais tratativas foram realizadas pelo Secretário de Infraestrutura Luiz Antônio Pagot, pelo Secretário de Fazenda Valdir (que no dia de hoje é conselheiro do TCE) e o governador da época Blairo Maggi (hoje Ministro da Agricultura). Todas essas pessoas citadas sabiam que o aumento do repasse para a AL seria para os deputados receberem suas vantagens indevidas, as quais ocorriam através de serviços não prestados, sendo que em contrapartida a AL apoiaria o governo nos projetos de seus interesses.
Que isso aconteceu até o ano de 2010, sendo que entre os anos dentre os anos de 2008 a 2010 a pessoa do governo responsável pelas negociações com os deputados passou a ser Eder Moraes, sempre com a ciência do governador Blairo Maggi e a partir de 2010 em diante o colaborador, sendo que na época em que o colaborador era governador do Estado o próprio colaborador que conduzia essas conversas com a mesa diretora, sempre na pessoa de José Riva.
O então deputado Sergio Ricardo, nos ano de 2007 até o ano de 2012, (hoje Conselheiro do TCE MT) também participava dessas negociações sobre o mensalinho dos deputados, mas após 2012 responsáveis por essa negociação os deputados estaduais José Riva, Romoaldo Junior e Mauro Savi.
Acredita o colaborador que no ano de 2012 ou 2013 os deputados estaduais fizeram uma reunião entre eles, tendo participado a maioria dos deputados ocorrida na AL para discutir como eles iriam conseguir mais vantagens indevidas do governo. Tal reunião foi gravada pelo deputado Adauto de Freitas, (Daltinho), que passou a chantagear os deputados estaduais da época, usando tal gravação para manter-se no mandato, pois ele era suplente na época.
Ele entregou para o deputado Romoaldo tal gravação e usava isso para se manter no efetivo exercício, que tal gravação foi mencionada para o colaborador pelos deputados Romoaldo Junior, Riva e Mauro Savi. Que após tal reunião na AL, os deputados estaduais José Riva, Mauro Savi, Romoaldo Junior, Gilmar Fabris, Baiano Filho, Wagner Ramos e Dilmar Dalbosco foram até o Palácio Paiaguas e passaram a exigir uma participação nas obras da Copa do Mundo, pois do contrário não aprovariam as contas e criariam dificuldades na aprovação de leis.
Nessa reunião o ex-governador Silval Barbosa ofereceu passar para a gestão de alguns deputados obras no montante de R$ 400 milhões do MT Integrado, para que os deputados conseguissem receber cerca de 3% a 4% dos empresários de propina, no entanto, eles não aceitaram tratar diretamente com os empresários, ficando decidido com os deputados estaduais que o colaborador iria ficar responsável por nomear alguém para receber esse montante de 3% a 4% dos empresários e repassar para os deputados estaduais, ficando para Valdisio Viriato (Secretário Adjunto) da Sinfra o encargo de receber tais montantes dos empresários e repassar ora para o colaborador, ora para Silvio (chefe de gabinete) para repassar para os deputados estaduais.
Ficou estipulado o valor de R$ 600 mil reais por deputado, sendo que Silvio tem uma lista contendo os valores repassados a cada deputado, pois era a pessoa responsável em repassar tais valores aos deputados a pedido do colaborador, que Silvio conseguiu gravar de deputados estaduais recebendo tais propinas.
Frisa ainda Silval que tais pagamentos ocorriam concomitantemente com os valores pagos pelo mensalinho através de orçamento suplementar. Cita ainda que no final de 2010, quando era governador, no final de todos os anos a maioria dos deputados exigia uma outra vantagem indevida em torno de R$ 70 a 100 mil reais para cada deputado, o que gerava um valor de R$ 1 milhão a 1,5 milhão e meio, sendo que tais valores eram pedidos pelo presidente e primeiro secretário da mesa .
Silval Barbosa tem ciência que a mesa diretora, juntamente com Gilmar Fabris, coordenou com o governo atual regulamentar através de lei o mensalinho, em troca o governo atual teria o apoio dos deputados. Tal fato foi narrado a Silval por alguns deputados.