Três policiais militares teriam tido acesso às escutas colhidas em centrais supostamente montadas pelo Poder Executivo de Mato Grosso, desde 2014. O esquema envolveria, além de outras pessoas, os cabos Gerson Luiz Ferreira e Clayton Dorileo Rosa de Barros, e a sargento Andrea Pereira de Moura Cardoso. Juízes, advogados, empresários e jornalistas e políticos teriam sido grampeados pela Polícia Militar.
Os envolvimentos dos PMs são apontados em denúncia realizada pelo ex-secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), o promotor de Justiça Mauro Zaque, à Procuradoria Geral da República – trechos do documento foram divulgados pelo site O Livre.
Os militares foram nomeados para a Casa Militar entre julho e outubro de 2016, cerca de um ano após a suposta conversa entre Zaque e o o governador Pedro Taques (PSDB), em que o então ex-secretário teria revelado a arapongagem no Estado ao tucano.
Conforme o Diário Oficial do Estado, Gerson Luiz foi nomeado em julho de 2016 para cargo comissionado e é agente de proteção de dignitários na Casa Militar. Antes disso, atuou no Grupo de Operações Especiais (GOE), na mesma época em que o atual chefe da Casa Militar, coronel Evandro Alexandre Ferraz Lesco, era diretor de Inteligência e Operações do Gaeco.
Gerson, Clayton e Andrea são subordinados ao coronel Evandro Lesco, amigo do governador Pedro Taques, na Casa Militar.
A Casa Militar funciona dentro do Palácio Paiaguás, no qual está localizado o gabinete do governador. Lesco é casado com a personal trainer, Helen Chrysti, amiga de Samira Martins, ex-mulher de Pedro Taques. O casal tinha livre acesso à casa de Taques e trabalhou para o tucano na última eleição.
Além de Gerson Luiz, o cabo Clayton Dorileo e a sargento Andrea Pereira receberam cargos na Casa Militar. Eles estão lotados como agentes de proteção de dignitários, nível de DGA-10. Somados os salários e comissões, cada um recebe cerca de R$ 6 mil por mês.
Inquérito
O comandante geral da Polícia Militar de Mato Grosso, coronel Jorge Luiz de Magalhães, determinou nesta segunda-feira (15) a instauração de um Inquérito Policial Militar para apurar as denúncias de desvio de conduta atribuídas a militares na utilização do sistema 'Guardião'.
O comandante geral da PM esclareceu que desconhece o uso indevido do Guardião desde o início da sua utilização. Ele explicou também que o emprego do sistema Guardião é legal, ocorrendo somente mediante autorização judicial, e que todos os dados que constam no sistema são plenamente auditáveis, o que facilita as investigações, inclusive.
De acordo com Jorge Luiz, “é preciso esclarecer de antemão que a Polícia Militar usa o ramal do Guardião exclusivamente para instruir Inquéritos Militares, e que o encarregado de IPM’s não tem o poder de interceptar ninguém, mas apenas de representar judicialmente junto a Vara Especializada da Justiça Militar pelos números telefônicos, cabendo ao magistrado autorizar a concessão ou não das interceptações nas apurações das infrações militares, depois de ouvido o Ministério Público”, frisou.
Os “grampeados”
A “arapongagem”, de acordo com a denúncia, tinha entre outros alvos, o nome da deputada Janaina Riva (PMDB), do advogado José do Patrocínio e do jornalista José Marcondes dos Santos “Muvuca”.
A suposta quebra de sigilo telefônico ilegal era feita por meio de um esquema conhecido como “barriga de aluguel”, em que números de telefones de pessoas sem conexão com uma investigação são inseridos em um pedido judicial de quebra de sigilo telefônico.
Além da deputada Janaina Riva, do jornalista José Marcos dos Santos “Muvuca” e do advogado José do Patrocínio, a lista de números telefônicos supostamente grampeados clandestinamente pela Polícia Militar de Mato Grosso também traz contatos de servidores da Assembleia Legislativa, ex-secretário adjunto da Capital, assessores parlamentares e até de um ex-desembargador do Tribunal de Justiça (TJ-MT).
A suposta arapongagem em Mato Grosso teve repercussão nacional na noite deste domingo (15), quando foi revelado que Janaina, Muvuca e Patrocínio tiveram o sigilo telefônico quebrado por meio de um esquema conhecido como “barriga de aluguel”, em que números de telefones de pessoas sem conexão com uma investigação são inseridos em um pedido judicial de quebra de sigilo telefônico.
Neste caso, os contatos foram inseridos no pedido de quebra de sigilo telefônico no âmbito de investigação de tráfico internacional de drogas.
A lista de grampeados é composta, até mesmo, por uma empresária que teria tido um relacionamento amoroso com o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques – exonerado na última quinta-feira (10) -, Tatiane Sangalli.
Outros que integram a lista são: o atual secretário municipal de Trabalho e Desenvolvimento Humano de Cuiabá, Vinicius Hugueney (PP); o assessor do deputado Wagner Ramos (PR), Eduardo Gomes Silva Filho; o assessor especial da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Romeu Rodrigues da Silva; a jornalista Larissa Malheiros Batista; a filha do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, Kely Arcanjo Ribeiro Zen; os servidores da Assembleia Legislativa, Mario Edmundo Costa Marques e Carlinhos Bergamasco (já falecido); desembargador aposentado José Ferreira Leite; e a gerente de Inteligência e Contra Inteligência da Casa Militar, Claudia Rodrigues de Gusmão.
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