Variedades

Tom Hanks se aventura na Broadway

"Falei a Nora que McAlary dava a impressão de ser um 'idiota'", disse Hanks, empregando um termo mais forte que esse.

Ele reconsiderou sua posição anos mais tarde, quando encontrou Ephron durante a divulgação de seu filme "Larry Crowne – O Amor Está de Volta", de 2011.

Os dois acabaram falando de "Lucky Guy", que Ephron, nesse ínterim, tinha convertido em peça de teatro.

Hanks pediu para ver a versão mais recente. Desta vez, ele se rendeu à postura arrogante de McAlary e ao seu esforço para fazer jus à sua própria celebridade.

"Pense bem, o título é 'Lucky Guy' (sujeito sortudo). É sobre uma pessoa que é quase boa o suficiente para merecer aquilo que conquista. Eu entendo isso", explicou Hanks em uma entrevista dada no palco do teatro Broadhurst, onde a peça entrou em cartaz em 1° de março.

"Às vezes ainda penso que eu bem que queria ser tão bom quanto este ou aquele ator. Vejo o trabalho de outros atores e penso que nunca vou conseguir me equiparar a eles. Mas eu bem que gostaria de conseguir isso."

Será que o público vai acreditar em Tom Hanks num papel antipático?

O ator de 56 anos encarna o bom-mocismo há três décadas em Hollywood, tendo representado personagens "do bem" nos filmes "Splash – Uma Sereia em Minha Vida" (1984), "Forrest Gump – O Contador de Histórias" (1994), "Apollo 13" (1005) e na série "Toy Story", iniciada em 1995.

Ele parece adorar o fato de McAlary ser um personagem tão distante de um papel previsível. Seu diretor e seus colegas dizem que Hanks mergulha a fundo num papel para o qual é obrigado a abrir mão de sua vaidade pessoal.

O caminho que levou Hanks e "Lucky Guy" à Broadway teve percalços diversos. McAlary, homem que costumava hostilizar as pessoas, recebeu um Prêmio Pulitzer em 1998 por suas colunas sobre o tratamento brutal dado por policiais a um haitiano, Abner Louima.

Ele morreu naquele ano de câncer do cólon, aos 41 anos. Pouco depois, Ephron, antiga repórter do "New York Post" e apreciadora dos tabloides do passado, começou a pesquisar a vida do jornalista e passou anos reescrevendo o roteiro.

Depois de Hanks se comprometer com o papel, Ephron começou a se reunir semanalmente com o diretor da peça, o premiado George C. Wolfe ("Angels in America"), para aprimorar o artifício principal da peça -mostrar outros jornalistas trocando anedotas sobre McAlary-, para que o personagem principal ganhasse contornos mais nítidos. Ao mesmo tempo, mas sem fazer alarde do fato, Ephron tentava combater uma leucemia.

Ela morreu em junho passado, aos 71 anos, deixando em choque muitos de seus amigos e colaboradores. "Depois que Nora morreu, nossa determinação de fazer a peça só cresceu", comentou Wolfe.

Tom Hanks apaixonou-se pelo teatro no colégio Skyline High, onde estudou, em Oakland, na Califórnia.

Depois de passar três anos como ator e técnico de palco em Cleveland, em Ohio, fazendo papéis coadjuvantes em peças de Shakespeare, ele decidiu tentar a sorte em Nova York, indo morar perto da Broadway.

Mas teve sorte melhor com a televisão, conseguindo um dos papéis principais na comédia "Bosom Buddies". Peter Scolari, que contracena com ele no seriado, também está no elenco de "Lucky Guy", fazendo um amigo e rival de McAlary.

Scolari, que esteve na Broadway no ano passado em "Magic/Bird", disse que Tom Hanks mudou pouco nos 31 anos passados desde que "Bosom Buddies" saiu do ar, após duas temporadas. "A ética de trabalho e a descontração ainda são as mesmas", comentou.

A maior dificuldade a ser enfrentada por Hanks talvez esteja nas cenas entre McAlary e sua mulher, Alice, que ele abandona muitas noites para correr atrás de uma informação ou passear de bar em bar com seus amigos.

"Será que o público vai achar convincente ver Tom Hanks tratando a mulher dele tão mal?" questionou Maura Tierney, que representa Alice.

Consta que "Lucky Guy" recebeu US$ 5 milhões em ingressos comprados com antecedência. É um valor bom, mas não ótimo, considerando a fama de Tom Hanks.

"A gente anda imaginando as manchetes de resenhas negativas, tipo 'Sujeito sortudo, bilheteria azarada!'", disse Tom Hanks.

Mas, em tom mais sério, prosseguiu: "Tenho medo de algo ser minha responsabilidade e de eu não ter meios, resistência ou modéstia suficientes para dar conta dela. Na realidade, tenho um histórico de filmes e projetos que não deram certo que é tão forte quanto o de trabalhos que fizeram sucesso. Mas, quando volto para casa à noite, esse é o momento em que ouço a voz de Nora com mais clareza e quando acho mais instigante encarar essa peça".

Fonte: FOLHA.COM | NEW YORK TIMES

Redação

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