Clima mais sombrio. Mais personagens. Mortes mais impactantes. Uma produção muito maior. E ainda mais ação. É com ares superlativos que atores e produtores de “The walking dead” se preparam para a estreia mundial da quinta temporada da série, no mês que vem — por aqui, ela aporta no dia 14, às 22h30m, na Fox, apenas dois dias depois da exibição nos EUA. Os critérios de comparação são altos: um dos maiores sucessos da TV americana, onde é exibida pelo canal a cabo AMC, a série criada por Robert Kirkman com base em suas histórias em quadrinhos iniciou a temporada passada batendo recorde de audiência, com mais de 16 milhões de espectadores, ultrapassando até a exibição do futebol americano na TV aberta.
Em sua terceira passagem pelo Rio, a produtora-executiva da série Gale Anne Hurd esteve nesta semana no RioMarket, área de negócios do Festival do Rio, junto com o ator Chad Coleman, o Tyreese. Em entrevista ao GLOBO, Gale analisa os rumos de “The walking dead”, que vai inspirar uma outra série e já se desdobrou também em videogames e livros, num bem sucedido caso de transmídia.
— Teremos novos atores (um deles é o recém-anunciado Tyler James Williams, protagonista de “Todo mundo odeia o Chris”), os personagens vão pegar a estrada, seguiremos certas sequências dos quadrinhos e, claro, alguns personagens importantes vão se despedir. Há ainda mais ação do que nunca, mais ainda do que na quarta temporada, o ano mais agitado de todos — conta Gale, também responsável pela franquia “O Exterminador do Futuro”. — Só tentamos não exagerar. A série traz um balanço delicado entre algum humor, a contemplação e a ação.
Depois de quatro temporadas, já não é mais possível classificar “The walking dead” como uma “série de zumbis”. Os mortos-vivos servem de suporte para uma história de luta pela sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico e sem regras. O próximo ano foca, portanto, na adaptação.
— Rick Grimes (o protagonista vivido por Andrew Lincoln) teve uma jornada e tanto nestes últimos anos, mas só agora ele se deu conta e vai finalmente aceitar que esse não é mais um mundo com uma sociedade civilizada, não é mais um mundo regulado pela lei. Ele vai aceitar que precisa fazer justiça com as próprias mãos, e isso significa, às vezes, ser tão louco quanto as pessoas más. O que o diferencia é que ele nunca faz isso só porque pode, mas sim para proteger o filho, Carl, e seus amigos.
Outro personagem que poderia ter rumos inesperados é Daryl Dixon: Kirkman anunciou que os roteiristas cogitaram revelar que o sujeito durão vivido por Norman Reedus é gay. Muitos fãs estranharam, mas Gale rebate:
— Daryl poderia, sim, ser gay, só que não vamos explorar isso por enquanto. O importante é percebermos que os estereótipos que temos sobre a sexualidade das pessoas são incorretos. Como você aparenta ser para os outros não é necessariamente definido por quem você ama. E a última pessoa na série inteira que você espera que seja gay é o Daryl. É uma discussão importante.
Diferindo da maioria dos programas de TV, “The walking dead” sempre foi elogiada pela escalação equilibrada de atores negros para papéis importantes, caso de Danai Gurira, a Michonne, e do próprio Chad Coleman, retratando com fidelidade a miscigenação racial da população da Georgia, nos Estados Unidos.
— Os quadrinhos de “Walking dead” sempre tiveram muitos personagens negros, e a série tem ainda mais. Geralmente, quando abrimos os testes para um papel, não olhamos para a cor da pele. Apenas escolhemos o ator que se sai melhor, aquele que entra nesse universo tão difícil com mais convicção.
E foram as múltiplas possibilidades desse universo distópico que levaram os produtores a criar uma série derivada, chamada de “acompanhante” (e não de spin-off , por não trazer nenhuma trama ou personagem de “The walking dead”). A ideia é mostrar como outros sobreviventes estão se virando com o apocalipse zumbi em outros lugares.
— Desde o começo, Kirkman tinha vontade de contar mais histórias, é um universo muito extenso. Tudo será novo. Isso vai nos permitir explorar novas histórias em novos ambientes — conta Gale, que se prepara para começar os testes para o piloto, a ser filmado ainda neste ano.
Morte à espreita
Gale comentou também a carnificina de personagens, que não poupa nem os mais queridos entre os fãs da série.
— Toda vez que temos que dizer adeus é extremamente difícil. Costumamos fazer os chamados “jantares da morte”, em que reunimos todo mundo para um bota-fora e celebramos. É muito divertido, exceto pela parte em que o personagem de alguém está chegando ao fim da linha — conta Gale. — Nós não matamos personagens importantes apenas para chocar as pessoas, e sim porque é a conclusão natural de uma história ou mesmo porque elas inspiram mudanças nos personagens que ficaram.
Para a produtora, mesmo que extremamente gráfica, a violência em “The walking dead” nunca é gratuita.
— Há muitas séries muito mais violentas no ar, até porque a violência gráfica aqui é contra zumbis. Na série, quando humanos usam violência contra outros humanos há um impacto forte, e nunca vem sem motivo. Acho que esse equilíbrio é uma das principais razões de a série ser tão bem sucedida. Não é só um festival gore, um festival de sangue.
Apesar de tanto sucesso, “The walking dead” sempre enfrentou percalços atrás das câmeras. Muito se fala, por exemplo, sobre a saída abrupta do showrunner (o principal responsável pelo comando do programa) inicial, Frank Darabont, que agora processa o AMC cobrando os lucros da série. Não bastasse, seu sucessor, Glen Mazzara, também foi substituído (por Scott Gimple), no quarto ano.
Gale diz que a instabilidade dos bastidores é uma “evolução natural” e afirma que isso não afeta a produção.
— O show precisa manter sua coerência. Se você perguntar ao espectador regular, que não acompanha todas as notícias, ele provavelmente não vai notar diferença. Mas pode ser que fãs mais atentos percebam mudanças, como quando a série passou a ter mais ação com a entrada de Scott. Nada que atrapalhe.
O Globo