Afirmou que suspeitos no esquema do ISS se aproximaram dele nas eleições de 2012 e ajudaram a campanha de Haddad com estudos e dados -mas não com dinheiro.
Por que o sr. pediu afastamento do cargo?
Antonio Donato – Tenho muito mais liberdade como vereador para poder me defender das acusações infundadas feitas até agora e as possíveis que virão por essa quadrilha, que certamente pode ter um sentimento de retaliação. Talvez eles imaginassem que devessem ter algum tipo de proteção.
Acho que o governo fica mais preservado, pode fazer seu trabalho com mais tranquilidade, já que o ruído político estava na minha pessoa.
Haddad deu o apoio que o sr. merecia? Ele poderia não ter aceitado seu afastamento.
Fizemos uma avaliação política juntos. Ele me deu todo o apoio nesse período. Todos os dias ele me defendeu. Agora, tem uma hora que… Ele disse: 'agora é uma decisão sua, Donato. Tem um lado que é seu. Como quer se defender?'. Estou convencido de que para o governo era melhor meu afastamento. Sou um cara de projeto. Para avançar, é melhor eu sair.
Outros secretários podem ser envolvidos nessa crise?
Não. Essa é uma crise do governo passado, que precisa explicar como um esquema desses ficou oito anos aqui dentro. Isso não é crise do nosso governo.
Como conheceu os suspeitos?
Dos quatro [que foram presos inicialmente], eu conheci em algum momento três. O Lallo [Carlos Leite do Amaral] não lembro de ter conhecido.
O Luis Alexandre [Magalhães] conheci em 2008, num evento social. Ele chegou a ir ao meu gabinete, para ter conversas de que precisava progredir. Em 2009, foi a última vez que o vi. Foi entregar um currículo da mulher dele.
O Ronilson [Rodrigues, suspeito de ser chefe do esquema] eu já conhecia da Câmara. Em 2008, ele também já dá algum apoio técnico para a campanha da Marta [Suplicy]. Panilhas, tal.
O [Eduardo] Barcellos, eu conheci em 2009 já na comissão de Finanças, e depois da CPI do IPTU. Em 2012, Ronilson e Barcellos se aproximam da campanha [de Haddad]. Com estudos. Cada semana era uma planilha nova que traziam. Eu era coordenador da campanha.
Davam que informações?
Projeções de receita. Por exemplo, quando começaram a falar da Controlar, ele [Ronilson] veio com uma planilha, que foi até importante, que mostrava como o IPVA caiu depois do início da Controlar. Isso ele trouxe.
Foi uma informação que usamos na campanha. O prefeito chegou a conversar com eles e pedir alguma coisa de isenção de ISS na zona leste, um estudo. O Mauro Ricardo [ex-secretário de Finanças] recomendou ele [Ronilson] muito na transição.
Voltando à indicação do Ronilson [para a SPTrans] e do Barcellos [que trabalhou na secretaria de Donato]. Como eles procuraram vocês?
O Ronilson teve uma briga com o Mauro Ricardo, não sei se foi de verdade. Ele foi na diplomação do Haddad, mas não foi numa reunião com Mauro Ricardo. O Mauro o exonerou por insubordinação. Estava sem cargo, mas estava colaborando ativamente com a transição.
No início de janeiro, ele disse: 'secretário, estou achando que o secretário Marcos Cruz precisa montar uma nova equipe. Eu preciso de novos ares. Se o senhor puder me indicar para uma empresa, eu agradeço'.
Ele me procura e eu sugiro a SPObras. O Marcos Cruz [secretário de Finanças] já deveria ter um nome. Passou um tempo, ele falou: estou pensando em pôr ele na SPTrans.
E o Barcellos?
Quando ele tem notícia de que vai ser exonerado, ele vem e fala que estava saindo da secretaria, que não queria ficar lá como simples auditor. E perguntou se podia ficar temporariamente aqui. Ele ficou, sem nomeação de cargo, propôs ser temporário.
Imagina um cara que ajudou na campanha e vem pedir uma coisa aparentemente simples, um tempo para arrumar espaço [na prefeitura].
Tinha a história da denúncia anônima. Para mim, já tinha sido arquivado. Com as informações que eu tinha não poderia ter outra atitude. E foi tudo combinado com o controlador [geral do município, Mario Spinelli]. Não fiz nada sem ouvi-lo.
Houve doação de dinheiro do esquema para campanhas?
Nunca teve. E R$ 200 mil para campanha de vereador é muito dinheiro. O cara que disse que me deu nunca mais me procurou, o Luís Alexandre.
O sr. não deveria ter revelado antes a presença de Barcellos em sua secretaria?
Não teve nenhum intuito de esconder. É evidente que acho que a gente poderia ter se antecipado.
Folha de São Paulo