O julgamento dos três menores que assumiram ter espancado até a morte Gleison Vieira da Silva, dentro de uma cela do Centro Educacional Masculino (CEM), acontece na manhã desta quinta-feira (17) na 2ª Vara da Infância e da Juventude em Teresina. O juiz Antônio Lopes revelou que a mãe do adolescente, Elizabeth Vieira, será ouvida como testemunha de acusação.
Além dela, outras nove testemunhas serão ouvidas. Entre elas: os três adolescentes da cela ao lado onde o crime ocorreu, familiares dos adolescentes apontados pela polícia como suspeitos e os funcionários do Cem que estavam de plantão no dia do assassinato.
O juiz Antônio Lopes explicou que vai levar em consideração o fato dos menores serem réus confessos. Levarei em consideração todos os autos do inquérito e as teses apresentados pela defesa. No entanto, vale ressalta que pesa contra os menores o fato deles terem assumido o envolvimento com a morte de Gleison”, comentou.
O magistrado explicou ainda que o caso do estupro coletivo em Castelo não será levado em consideração, pois este é outro processo que já está sendo apreciado pelo Tribunal de Justiça. Sobre o local onde os adolescentes irião cumprir medidas socioeducativas, caso sejam condenados, o juiz afirmou que eles devem permanecer no Ceip até que a ampliação do CEM seja concluída.
A defensora pública Alynne Patrício revelou que apresentaram duas teses na defesa dos suspeitos. Segundo ela, a primeira teoria é que o estado seria também é responsável pelo fato e a outra é que os acusados colaboram desde o inicio com a investigação.
"Os três adolescentes nunca deveriam ter sido colocados na mesma cela que o Gleison. Desde o início, eles alegam inocência, e a justiça sabia do risco de deixá-los juntos mesmo. Agora, sobre a confissão, vou colocar isso para conseguir uma redução da pena deles”,comentou.
Gleison cumpria medida socioeducativa por participar do estupro coletivo de quatro meninas em Castelo do Piauí. Ele e mais três adolescentes foram condenados pelo crime.
Segundo a titular da Delegacia do Menor Infrator, Thaís Paz, os outros garotos envolvidos no estupro confessaram ter matado Gleison no CEM.
“Um dos adolescentes disse que foi apenas uma discussão que terminou na morte do Gleison, já os outros dois narram que a intenção era realmente matar o delator. Os adolescentes afirmam que assassinaram Gleison porque ele teria dito para a polícia que eles participaram do estupro coletivo sem terem envolvimento com o caso”, afirmou a delegada.
Após a morte de Gleison, os outros três menores culpados pelo estupro coletivo foram retirados do CEM e agora estão no Centro de Internação Provisória (Ceip). Os adolescentes foram condenados a cumprir três anos de internação por participação no estupro coletivo e estavam juntos no mesmo alojamento quando Gleison foi agredido e morto.
Laudo cadavérico
O resultado do laudo cadavérico no corpo de Gleison Vieira mostrou que ele foi morto a socos e pontapés. “A vítima faleceu em decorrência de traumatismo craniano, provocado por uma ação contundente. O que para a gente quer dizer um espancamento. Não houve a utilização de nenhum outro instrumento. Apenas socos e pontapés”, afirmou Thai Paz.
A investigação que apura a morte de Gleison Vieira da Silva, de 17 anos, será acompanhada de perto pela Comissão da Infância e Juventude do Conselho Nacional do Ministério Público (CIJ/CNMP). Em despacho, o conselheiro e presidente da CIJ, Walter de Agra, afirmou que a vítima foi colocada no mesmo alojamento com outros três adolescentes que já tinham feito ameaças contra Gleison. A intenção é apurar se houve negligência ao colocar todos o envolvidos na mesma cela.
Estupro coletivo
No dia 27 de maio, quatro adolescentes foram brutalmente agredidas, estupradas e depois jogadas do alto de um penhasco em Castelo do Piauí, a 190 km de Teresina. Uma das jovens morreu após 10 dias internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT). As outras três também ficaram hospitalizadas e já receberam alta.
Os quatro adolescentes suspeitos de participação no crime foram apreendidos horas após a barbárie. Um quinto suspeito, Adão José de Sousa, 40 anos, foi preso dois dias depois.
Pouco mais de um mês de depois, no dia 16 de julho, Gleison Vieira da Silva, de 17 anos, um dos quatro adolescentes condenados foi espancado até a morte dentro da cela do Centro Educacional Masculino (CEM) em Teresina.
Os outros três menores coautores do estupro, que estavam na mesma cela da vítima, admitiram o homicídio e estão internados no Centro de Internação Provisória (CEIP) à espera do julgamento pela morte de Gleison.
Mãe grava vídeo
Elizabeth Vieira gravou um vídeo depois que soube do assassinato do filho.
"Foi um choque muito grande porque eu não estava esperando [a morte de Gleison]. Recebi a notícia, é uma dor muito grande", disse.
A mãe da vítima disse ainda que acredita que a briga entre os jovens tenha sido motivada por causa dela. No vídeo, ela diz que ele a defendia muito. "Ele tinha que pagar pelo crime que cometeu, mas não desta forma", disse.
Por medo da reação dos moradores de Castelo do Piauí, a família de Gleison acabou realizando o enterro em Teresina.
Fonte: G1