Foto: Lenine Martins/Sesp-MT
Relatório realizado pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) apontou que Tatiana Sangalli, que supostamente teve um relacionamento amoroso com o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, já havia sido grampeada durante investigação da Polícia Civil, no âmbito de operação denominada Querubim.
O nome de Sangalli surgiu como uma das vítimas de supostos grampos ilegais realizados por um núcleo da Polícia Militar, por meio de tática conhecida como “barriga de aluguel”, em que números de telefones de pessoas comuns são inseridos em pedidos judiciais de quebra de sigilo, sem qualquer relação com investigações (leia AQUI).
De acordo com portaria realizada pelo delegado Flávio Henrique Stringueta, então titular do GCCO, no dia 25 de março de 2015 ele recebeu uma ligação anônima de um telefone público, em que o denunciante relatou que o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro – preso na Operação Arca de Noé, em 2003 – estaria arquitetando ações de vingança contra o governador Pedro Taques (PSDB). A intenção, conforme a denuncia, era acabar com a vida do tucano.
"Dando sentido dúbio a essas palavras, não se sabe se colocando fim à sua vida ou fim ao seu mandato eletivo, ou carreira política", diz trecho da portaria.
O documento foi divulgado na manhã desta quarta-feira (17), pelos sites HiperNotícias e MidiaNews.
Contato com Casa Civil
Conforme o delegado, a denúncia dava conta de que pessoas ligadas a Arcanjo estavam conseguindo informações privilegiadas sobre o Governo, uma vez que mantinham contanto com servidores que atuavam na Casa Civil.
Stringueta relatou que foi informado de que a filha de Arcanjo, Kely Arcanjo Ribeiro Zen, se encontrava frequentemente com Tatiana, ex-funcionária da Sinfra e da Secretaria de Transporte. Por sua vez, Tatiana era amiga de Caroline, uma funcionária da Casa Civil, que passaria, regularmente, informações sobre a rotina e agenda do governador e de Paulo Taques.
Na denúncia, ainda é apontado que Tatiana teria proximidade com o jornalista José Marcondes dos Santos “Muvuca”, inimigo de Taques. Tatiana, de acordo com as investigações, namorava Fernando Bacarin.
Com a denúncia anônima, o delegado deu início a investigação, determinando a realização de diligências para identificar o local exato em que o telefone público estava instalado; quem foram as pessoas que visitaram Arcanjo nos dois anos anteriores a denúncia; além de o levantamento de informações sobre Tatiana, Muvuca, Caroline e Kelly.
O delegado ainda requereu a quebra de sigilo telefônico de Tatiana, Caroline e Fernando Bacarin, a juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.
Selma, levando em consideração a atuação de Taques na prisão do ex-bicheiro, autorizou as interceptações telefônicas. Em abril de 2015, a Diretoria de Atividades Especiais da Polícia Civil elaborou um relatório parcial da operação.
De acordo com a portaria, a interceptação no telefone da servidora da Casa Civil apontou que ela não fez muito uso do celular. Nas vezes em que realizou ligações telefônicas ou recebeu chamadas, tratou de assuntos ligados ao trabalho.
O grampo em dois números telefônicos de Bancarin mostraram que ele não citou qualquer assunto que interessasse à investigação. Ligações para a namorada Tatiana foram interceptadas até o momento em que o relacionamento acabou.
Já as interceptações no telefone de Tatiana, apontaram que ela é “bem relacionada no meio político e social”. Entre as conversas, o relatório apontou uma conversa com Muvuca, sem aparente relevância.
Casamento com ex-bicheiro
O segundo relatório parcial elaborado pelo Núcleo de Inteligência Policial da GCCO, em 28 de abril de 2015, a interceptação de uma ligação de Tatiana, mostrou sua conversa com um amigo apelidado de Dudu, em que ela relatou que iria se casar com o “Homem de Preto”, que viria a ser Arcanjo.
De acordo com o relatório, Dudu orientou Tatiana a fazer uma procuração a uma terceira pessoa, para que fosse formalizada a união estável com o ex-bicheiro.
Outra conversa interceptada mostra conversa com uma mulher não identificada. Tatiana volta a falar sobre o casamento com o “Homem de Preto”.
Conclusão
Segundo a conclusão do delegado Stringueta, a investigação apontou que não havia “registro de áudios de Tatiana tentando contra o governador Pedro Taques ou sua administração”.
Entre os itens elencados no relatório, está que a intenção de Tatiana era de incomodar o ex-secretário Paulo Taques. “Tatiana tem ressentimentos em face de Paulo Taques e articula ações a fim de perturbar sua relação com sua esposa (casamento)".
Outro lado
O ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques, não atendeu as ligações feitas pela reportagem. No último domingo (14), em reportagem exibida pelo Fantástico, da Rede Globo, Paulo negou que tenha pedido a interceptação telefônica ilegal de quem quer que fosse.
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