Mesmo com o crescente índice de suicídios no mundo, e principalmente em nosso país, falar sobre o assunto ainda é um tabu, e muitos preferem deixar o tema de lado, a enfrentá-lo como se deve. Em um mundo com relações cada vez mais superficiais, com pessoas fazendo textões para defender pontos de vista e apontar o “diferente” nas redes socais, o que resta aos mais sensíveis a estes ruídos é calar-se. Guardar a dor dentro de si, e sorrir num palco de depressão e ansiedade, afinal é muito difícil de ouvir, mais difícil ainda é falar sobre o suicídio.
Nos Estados Unidos, uma em cada cinco pessoas em idade produtiva foi diagnosticada com depressão, uma das maiores fontes de angústia de quem cogita tirar a vida. Por aqui, no país do futebol, terra de samba e carnaval, mais de um brasileiro se mata a cada hora, e outros três tentam se suicidar sem sucesso – são 32 vítimas por dia. E esses, vale destacar, são apenas números oficiais.
Tentar controlar a ansiedade só pode ser mais problemático do que se imagina, por isso o tratamento deve ser conduzido por profissionais habilitados, visto que prender ou reprimir os sentimentos pode ter efeito reverso. O momento da escuta é necessário. Intervenção com medicamentos, em determinados casos é essencial. Portanto, não basta esperar passar, pois isso pode não ocorrer nunca. Existem casos de pacientes que buscaram de forma isolada contornar a situação, mas é bom ressaltar que as palavras não ditas, os prazeres não satisfeitos, os gritos não dados vão matando dia a dia, e quase sempre são externados com suicídio.
O tema mexe e muito com nossas estruturas, e como amigos, familiares, ficamos muitas vezes sem saber o que fazer e como agir diante da pessoa acometida pela tristeza absoluta e que atenta contra sua própria vida, por isso procurar ajuda profissional é tão necessário. Por vezes o atendimento ao Centro de Valorização da Vida (CVV), auxilia, mas é fundamental que o atendimento especializado de psicólogos, psiquiatras e demais profissionais da saúde seja inserido na rotina.
Devemos debater o suicídio sim, desmistificar esse processo tão doloroso, e assim salvar vidas. Atentar contra a própria vida nem sempre é escolha, mas sim uma escalada dramática de quem não vê saída, não é fraqueza e muito menos covardia. São tantas as ideias preconcebidas que quebrar esse padrão requer um esforço coletivo.
E para mudar essa concepção, é preciso encarar o suicídio, e suas causas, como doença; um problema de saúde pública, reconhecido pelo Ministério da Saúde, e fazendo com que essa dificuldade seja vista com menos preconceito inclusive pelos profissionais da saúde, afinal alguns médicos e enfermeiros se deparam com casos de suicidas e são pouco tolerantes com os mesmos e suas famílias.
Nem precisamos reforçar que o suicídio não é aceito socialmente, afinal percebemos pelo fato de ser um tema pouco debatido, mas precisamos buscar formas de tocar nesta ferida que dificultar o diálogo, seja por ignorância, preconceito ou estigma.
Mesmo pacientes acometidos por depressão leve podem cometer suicídio e em todos os casos, um diagnóstico para o trabalho conjunto, paciente, família e equipe de Saúde, é importante, pois irão fazer a análise das possibilidades de tratamentos a todos os envolvidos.
Somente o profissional tem condições de diferenciar depressão unipolar ou clássica (tristeza, pesar e/ou a perda de interesse por atividades do cotidiano) de depressão do transtorno bipolar (depressão em pessoas que enfrentam oscilações rápidas de muito bom humor e irritação), do transtorno de personalidade borderline (condição mental grave, que provoca medo irracional, mudanças súbitas de humor e problemas de autoimagem) ou da esquizofrenia (transtorno psiquiátrico complexo caracterizado por uma alteração cerebral, que dificulta o julgamento correto sobre a realidade).
Sim, falar sobre o suicídio é preciso. Porém, a fronteira entre informar e incentivar pode se mostrar tênue. O consenso entre os profissionais especializados é não reforçar métodos, muito menos glamorizar a ideia, transformando o suicídio em um ato Romeu e Julieta.
Vamos deixar claro: tirar a própria vida não tem nada de glamouroso. É o último passo rumo ao abismo de quem nunca encontrou socorro, tampouco conseguiu se ajudar. Fique atento!
*Laura Oliveira Gonçalves (CRP/MT 18/2109) é psicóloga e atua na abordagem sistêmica (terapeuta para casais, crianças, família, adolescentes). Especialista em avaliação psicológica e especialista em psicologia do Trânsito. Instagram: dralaura_psicologiaclinica – Cel.: (65) 98135-8840.