A poucos dias do final do mês, a Bolsa brasileira tem boas chances de completar uma década de maios ruins. A “síndrome do mês 5” acomete desde 2010 o maior índice de ações da B3, o Ibovespa, em linha com o que acontece em outros mercados no exterior.
O maior índice de ações do país acumula no mês uma queda de 2,8% até o fechamento desta sexta-feira (24), nos 93 mil pontos, bem abaixo da euforia dos 100 mil pontos em março. Ainda é possível reverter o quadro na última semana do mês. Se isso ocorrer, será o primeiro maio azul no Ibovespa em 10 anos.
Enquanto lá fora existe uma lógica para esta maré negativa, por aqui os analistas atribuem o mau desempenho do Ibovespa no quinto mês do ano a uma sequência de coincidências neste período do ano.
A recomendação “sell in may and go away” (venda em maio e corra, em tradução livre) é comum em países no hemisfério norte. Por lá, maio é o mês que antecede a chegada do verão e também as férias prolongadas – período em que as bolsas têm um baixo volume de negócios.
É a hora ideal para fugir de Wall Street, visto que os preços costumam ficar mais instáveis e assustam o investidor mais cauteloso. Isso acontece devido à baixa liquidez (facilidade em comprar ou vender os papéis).
Para o mercado local, esse movimento não faz qualquer sentido. Maio é seguido pelo inverno no Brasil, e os investidores continuam na ativa. Então o que explica a má sorte do Ibovespa em maios recentes?
“Foi uma série de notícias ruins que eclodiram em maio no Brasil, em especial nos últimos três anos”, lembra o estrategista-chefe da consultoria de investimentos Levante, Rafael Bevilacqua.
No ano passado, a greve dos caminhoneiros foi emblemática para o Ibovespa. O índice desabou mais de 10% no acumulado do maio, na esteira de uma crise de desabastecimento, com estragos que persistem até hoje na economia.
O dia 17 de maio de 2017 também deixou suas marcas na bolsa. Ele ficou conhecido como o Joesley Day, quando foi a público a delação premiada dos irmãos Batista, donos da JBS, envolvendo o então presidente Michel Temer. Naquele maio, o Ibovespa fechou perdeu mais de 4%.
“Tivemos três sequências de meses de maio com notícias políticas negativas”, recorda o consultor de investimentos Marcelo D’Agosto. “Virou uma superstição”.
Agora, em 2019, a turbulência no cenário político, agravada pela falta de sintonia entre o governo Bolsonaro e o Congresso na articulação necessária às reformas fiscais, adicionou novas tensões ao mercado em maio.
Seja pelos tropeços da política ou pela tradicional retirada no mês, o certo é que os investidores estrangeiros viram em maio a oportunidade de fazer as malas e partir da B3. No acumulado de maio até o dia 22, eles sacaram de lá 5,5 bilhões de reais.
Donos de quase metade dos ativos negociados na bolsa brasileira, os estrangeiros explicam, em boa parte, a desempenho negativo do índice em maio.
Foi de longe o mês com maiores saídas de capital externo – frustrando as expectativas de que os estrangeiros voltariam às compras ainda no primeiro semestre de 2019. A saída de recursos no acumulado do ano já soma R$ 5 bilhões.
“A expectativa de uma entrada maior de capital externo não se concretizou, ainda está em banho maria”, afirma D’Agosto. “Todo mundo está esperando para ver o que acontece”.