Economia

Setor da carne tem semana difícil por denúncias em operação

G1

A semana que passou foi de turbulência para o setor de carnes. As denúncias de irregularidades investigadas pela Polícia Federal tiveram graves consequências, principalmente no mercado externo. Muitos compradores perderam a confiança na carne nacional.

O Brasil é um dos maiores produtores de carne do mundo. Em 2016, foram mais de 15 milhões de toneladas entre aves, suínos e bovinos. Parte disso, mais de seis milhões de toneladas, vai para o mercado externo. Hong Kong, China e Arábia Saudita são os maiores compradores.

O faturamento da exportação de carnes em 2016 foi de quase 14 bilhões de dólares, 16% da receita externa do agronegócio.

Foi nesse volume extraordinário de negócios que a operação Carne Fraca, da Polícia Federal, bateu de frente. As denúncias de irregularidades envolvem funcionários do Ministério da Agricultura e de grandes frigoríficos. Dois deles estão entre os maiores exportadores do país.

Foram cumpridos mais de 30 mandados de prisão, com a acusação de que equipes de fiscalização do Governo Federal em Goiás, Minas Gerais e Paraná, recebiam propina para liberar os produtos. Segundo a Polícia Federal, havia o uso de carne estragada em salsichas e linguiças, e de aditivos não autorizados ou acima do limite permitido. Com a operação, começou uma reação em cadeia.

Vinte e uma unidades de frigoríficos estão sendo investigadas, de um total de quase 4.900. Na terça-feira, uma comitiva desembarcou em uma fábrica da Seara, no município da Lapa (PR). O ministro Blairo Maggi foi inspecionar o trabalho da força-tarefa do Ministério da Agricultura. Ele foi acompanhado por jornalistas do Brasil e da imprensa internacional. A fábrica exporta boa parte da produção de carne de frango.

Dentro da câmera fria, a visita durou duas horas. O ministro passou por vários setores, acompanhando a cadeia de produção, de carne de frango em pedaços. A Seara faz parte do grupo JBS.

As fiscalizações estão sendo feitas nas 21 fábricas investigadas em vários estados.

“Em três semanas nós vamos passar o pente fino em todas as 21 plantas, para que, a cada final de semana, a gente já vai estar se manifestando daquelas que já foram fiscalizadas e que já terminaram a fiscalização e qual é o caminho que nós já vamos fazer”, explicou o ministro da Agricultura.

A unidade visitada não está interditada, mas a exportação foi suspensa. Para que a fábrica volte a exportar, é preciso concluir as novas certificações sanitárias, o que deve ser feito nos próximos dias.

Ainda na terça-feira (22), a senadora Kátia Abreu (PMDB) foi ao plenário para dizer que sofreu pressão de dois deputados do PMDB, quando comandava o Ministério da Agricultura. Segundo a senadora, Osmar Serraglio, atual ministro da Justiça, e Sérgio Sousa, ambos do Paraná, pressionaram a então ministra para que ela não demitisse o superintendente do órgão no estado na época, Daniel Gonçalves Filho, um dos principais acusados na operação da Polícia Federal. Mesmo assim, ele foi afastado do cargo pela ministra.

“Eu quero dizer que, por várias vezes, eu insisti com esses dois deputados para que indicassem outra pessoa, porque o Paraná tem quadros extraordinários”.

Na quarta-feira fiscais agropecuários fizeram uma manifestação em frente ao Ministério da Agricultura em Brasília. Eles de defenderam a operação da Polícia Federal e pediram o fim das indicações políticas a cargos de chefia nas superintendências do ministério.

O setor produtivo da carne também reagiu à operação. Não contesta o trabalho da polícia, mas critica a forma como as suspeitas de irregularidades foram anunciadas.

Para o presidente executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal, Francisco Sérgio Turra, isso prejudica a imagem do país no exterior. “Até porque nós enfrentamos o produtor local, que faz a grande concorrência e que é a grande barreira hoje. A barreira não é muito sanitária nem tarifária, a barreira é o interesse do produtor local, que gostaria de ver, efetivamente, o Brasil longe, porque o Brasil é muito competitivo. Tudo isso incomoda e em um momento como esse é um prato cheio para que eles façam uma resistência e aí a demora maior para a liberação, para a volta ao normal”.

Grandes compradores de carne brasileira suspenderam as importações temporariamente ou impuseram restrições. Casos de Hong Kong, Japão e União Europeia. Muitos carregamentos ficaram retidos nos portos nacionais e também nos países compradores.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o Brasil exportava – em média – 63 milhões de dólares por dia, em carne de boi, ave e porco. Depois de tantos embargos, este valor chegou a menos de 1% nesta semana.  Pelos cálculos do Ministério da Agricultura, a participação do Brasil no mercado mundial deve cair 10% este ano. O prejuízo pode chegar a um bilhão e meio de dólares.

Os países que bloquearam a carne representam metade da receita com exportações só de carne bovina. Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, Antônio Jorge Camardelli, ninguém sabe quando a crise vai passar. “Tem um lastro de problemas que a gente vai ter que administrar, um por um e, com isso, tem que ter muita paciência, muita vontade. Nós precisamos compreender que a gente vive um momento diferente, onde vai ser necessário a gente reestabelecer aquela credibilidade que a gente tinha até o momento dessa operação”.

Em nota, o ministro Osmar Serraglio, disse que a indicação de Daniel Gonçalves Filho ao cargo de superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná foi aprovado pelo PMDB e que a resistência ao nome dele foi resultado de divergências políticas entre Kátia Abreu e a maioria da bancada do partido. O deputado Sérgio Sousa nega ter pressionado a então ministra Kátia Abreu. Ele confirmou que o nome de Daniel foi definido pelo partido e pede que os desvios de conduta apontados pela operação carne fraca sejam apurados e que os envolvidos prestem esclarecimentos.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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