Após dar início a uma greve geral em protesto contra a suspensão de reajustes salariais, servidores públicos do Distrito Federal fecharam o Eixo Monumental na manhã desta quinta-feira (24). O bloqueio aconteceu em frente ao Palácio do Buriti, sede do governo local, e o trânsito foi desviado na altura do Tribunal de Contas. A paralisação afetou os serviços nos hospitais, escolas, metrô e visitação a presidiários
Procurado pelo G1, o Executivo informou que representantes da Casa Civil e da Secretaria de Relações Institucionais se reuniam com diretores de sindicatos por volta das 12h. Ainda não havia posicionamento do governo a respeito da manifestação. A segurança do prédio foi reforçada.
De acordo com a Polícia Militar, a manifestação reuniu 3 mil pessoas. Grupos se organizaram sobre tapetes embaixo de árvores para se proteger do sol. "Fizemos até um piquenique", afirmou a agente administrativa de assistência social Tereza Carvalho. "Vamos ficar aqui até o governo se posicionar."
A suspensão dos reajustes afeta 32 categorias. A orientação dos sindicatos é de manter apenas urgência, emergência e internação na área de saúde. Na educação, professores e orientadores não devem dar aula. Os metroviários também reduziram o serviço. A Secretaria de Justiça suspendeu as visitas a presidiários da Papuda. O impacto deve ser sentido ainda em postos do Procon e do Na Hora.
Para minimizar as consequências do ato, o Metrô montou um esquema especial e conseguiu manter pela manhã 21 trens em circulação – três a menos do que o habitual para o horário de pico. Mesmo assim, houve problemas no serviço, e as estações Asa Sul e Samambaia Sul amanheceram fechadas. Já o DER suspendeu a faixa reversa da Epia.
Diretor do Sindicato dos Servidores da Saúde, Rodrigo Conde afirmou que 10 mil funcionários paralisaram as atividades nesta quinta. "A falta de abastecimento é grande. Falta tudo, remédios, produtos", disse. "O que a gente está pedindo não é favor. É respeito à lei."
Segundo a professora Cristiana Almeida, além da suspensão dos reajustes, os servidores também estão com os salários atrasados. "Isso desorganiza nosso planejamento familiar e desmotiva nosso trabalho", disse.
Ambulantes também enxergaram na manifestação uma forma de aumentar as vendas. O vendedor de picolé Antônio da Silva diz esperar vender o triplo de um dia norma durante o protesto. "Já me preparei para vir hoje. Fiquei sabendo porque sempre entro nos sites dos sindicatos monitorando protestos."
Às 12h40, os manifestantes seguiram em direção à Câmara Legislativa. "É lá que a gente pode pedir o impeachment do Rollemberg, gritou um sindicalista no carro de som.
"Os secretários disseram que há uma dificuldade financeira e que precisaria de repasses federais para honrar pagamentos", disse o presidente do Sindicato dos Servidores, Ibrahim Yusef. "O sindicato não vai abrir mão da lei. Esperamos que o pagamento caia até o quinto dia útil, porque estão fazendo um terrorismo contra a gente."
O governador Rodrigo Rollemberg anunciou a suspensão dos reajustes, concedidos de forma escalonada em 2013, alegando não haver dinheiro em caixa para fazer os repasses. A medida integra um pacote, que traz ainda aumento nas tarifas de ônibus e metrô, implantação de um plano de demissão voluntária nas empresas públicas, aumento de impostos e nos valores de entrada do zoológico e dos 13 restaurantes comunitários. O DF tem 131 mil servidores públicos na ativa.
VEJA IMPACTOS E REIVINDICAÇÕES POR ÁREA
– Saúde
A orientação dos sindicatos é de manter apenas urgência, emergência e internação na área de saúde. No Hospital de Base, os ambulatórios de reumatologia, ortopedia, neurologia, neurocirurgia, proctologia e ecografias não estão funcionando. Cirurgias agendadas foram suspensas e radioterapia atende casos graves. Fora trauma e oncologia, o restante das emergências atende com 30% dos servidores. Os serviços de quimioterapia estão normalizados.
No Hospital Materno Infantil de Brasília, há apenas um cardiologista atendendo no ambulatório, e o restante das clínicas está parado. A emergência só atende casos graves. No Gama, o ambulatório e a policlínica estão parados. Os sete centros de saúde da região funcionam parcialmente, e as consultas agendadas foram canceladas.
Em Sobradinho, só funcionam os ambulatórios do pé diabético, centro obstétrico, cardiologia e hemodiálise. O laboratório só atende emergências. Os centros de saúde estão parados. Em Planaltina, todas as emergências funcionam só com 30% do efetivo, e o ambulatório está parado. As 11 unidades básicas de saúde estão aberta,s mas funcionando parcialmente. Só atendimentos de urgência.
No Hospital Regional do Paranoá, a emergência funciona com 30% da capacidade. Os atendimentos no centro de saúde 2 estão suspensos e no centro de saúde 1, 80% parados. O ambulatório suspendeu os atendimentos em dermatologia e reumatologia. Em cirurgia e ginecologia, o atendimento é parcial.
No Hospital Regional de Brazlândia, os atendimentos no ambulatório estão suspensos. Os centros de saúde funcionam parcialmente. Em Ceilândia, o ambulatório tem atendimentos suspensos, e a emergência manteve 30% do serviço. Dos 11 centros de saúde, só 2 estão funcionando: 8 e 9.
Na Asa Norte, só não foram paralisados os ambulatórios de doenças neuromusculares, fisioterapia e dermatologia. A emergência mantém apenas 30% dos servidores. O centro de saúde 12 está parado. Em Taguatinga, 70% do ambulatório funciona.
No Hospital Regional de Santa Maria, o ambulatório funciona parcialmente. Na emergência, só 30% da clínica médica foi mantida. Nos dois centros de saúde, só técnicos pararam. O Hemocentro funciona com capacidade reduzida.
Médicos pedem, além da manutenção dos reajustes salariais, fiscalização de programas de residência, plano de carreira e de valorização para médicos preceptores e fim imediato da carência de dez meses para que residentes possam usufruir de direitos junto ao INSS. A pauta é dividida com a Associação Nacional de Médicos Residentes. De acordo com o Sindicato dos Médicos, são 4,6 mil profissionais.
– Educação
A Secretaria de Educação disse não ter como prever ou quantificar o impacto da paralisação. São 657 escolas públicas e 45 mil servidores, entre professores e auxiliares administrativos. Os 470 mil estudantes estudam em três turnos.
Reportagem da TV Globo mostrou que no Gisno, por exemplo, apenas o diretor e um professor compareceram pela manhã. Além disso, só 6 dos 900 estudantes foram à instituição.
A secretaria diz que todas as escolas estarão abertas ao longo do dia. Entre as principais propostas do GDF criticadas pelos professores estão a da conversão da licença-prêmio em licença-capacitação e a suspensão de novos concursos públicos.
– Metrô
A empresa estima que apenas 25 agentes de estação, dos 100 profissionais da área, tenham aderido à paralisação. Como reflexo, as estações Asa Sul e Samambaia Sul amanheceram fechadas. Foi necessário liberar as catracas em sete estações. Funcionários foram remanejados, e às 6h40 todas as 24 estações funcionavam normalmente. O número de trens era de 21 no início do dia e chegou a 23 – um a menos que o utilizado em horário de pico.
O Metrô disse que a adesão é mínima e que houve “impacto zero” para os usuários. A organização reconhece que houve queda na procura pelo serviço – que atende diariamente 140 mil pessoas, mas não soube estimar o percentual de redução. A empresa tem 1.050 servidores.
Entre os pedidos dos metroviários estão a convocação dos aprovados no concurso de 2013, saída de comissionados em excesso, revogação do reajuste das tarifas, cumprimento integral do Acordo Coletivo de Trabalho da categoria, execução dos projetos de modernização do sistema metroviário e revisão e redução do número e valor de contratos de terceirização.
– Presidiários
A Secretaria de Justiça cancelou a visita a presidiários desta quinta-feira (24) por causa da paralisação de 24 horas anunciada pelos agentes penitenciários. A categoria cobra o pagamento do reajuste salarial e concurso para remanejamento de servidores.
De acordo com a Secretaria de Justiça, as visitas agendadas por meio do sistema de senhas online serão remarcadas. A nova data ainda será divulgada. Segundo o concurso, a pasta diz que analisa a viabilidade.
O DF tem seis presídios, e cinco deles ficam no Complexo Penitenciário da Papuda (Feminino, penitenciárias I e II, Centro de Detenção Provisória e Centro de Internação e Reeducação). Eles têm juntos cerca de 14 mil detentos.
Fonte: G1