Itamar voltava da igreja no dia 25 de janeiro quando, ao passar pela manifestação contra a Copa do Mundo, um colchão em chamas ficou preso na roda e o fogo se alastrou. Ele e outras quatro pessoas – entre elas uma criança de 5 anos – foram retirados do veículo em chamas.
Itamar ficou sem o carro que usava com a família e também no trabalho. "Semana passada tive de levar um portão no braço, fiz cinco viagens", conta, já com um sorriso no rosto – que não apresentava logo após o episódio traumático. "Agora estou com dó de colocar ferro nesse carro novo, está 'zero bala'."
A Brasília realmente está um brinco. Estofado impecável, funilaria sem um arranhão e o motor "nos trinques" – resultado de uma revisão mecânica realizada antes da doação. O serralheiro diz que ficou impressionado com o ato. "Fiquei muito feliz, foi uma coisa de coração. Era um carro que o dono não vendia por nada."
O novo carro do serralheiro pertencia a Arlindo Ventura, de 40 anos, conhecido como Magrão. Dono de um bar na capital paranaense e agitador cultural, Magrão viu pela TV o drama de Itamar. "Eu tinha uma reunião importante e fiz uma promessa. Se eu me saísse bem, doaria a 'cabrita'", diz ele, referindo-se ao apelido que deu ao carro.
Magrão havia comprado a Brasília em 2009, depois de ter lavado e cuidado do carro ao longo de 8 anos, quando trabalhou em um estacionamento. "Acho que o carro vai ser útil, mas a parte emocional é difícil aliviar", diz o empresário, ressaltando que seu ato foi uma forma de mostrar que a violência é desnecessária.
Após o episódio, manifestantes e ativistas insistiram que o Fusca foi incendiado acidentalmente. Surgiu pela internet uma corrente para ajudar o serralheiro e tentar compensar o prejuízo. Vários depósitos bancários foram feitos diretamente na conta de Itamar, somando cerca de R$ 7 mil. Uma vaquinha online já arrecadou R$ 6,7 mil – os organizadores pretendem comprar outro carro. "Eles queriam mostrar que não é todo mundo igual, e não é mesmo", disse Itamar.
Quando os organizadores entraram em contato com o serralheiro para falar da "vaquinha", ele recusou no primeiro momento. "Mas depois alguns amigos disseram que eu estava sendo orgulhoso, então resolvi aceitar", diz. Além de carro e dinheiro, Itamar foi presenteado com bolo, pãezinhos e também surgiu mais trabalho. Para dar continuidade à corrente do bem que surgiu a seu favor, ele vai doar a carcaça do Fusca para um catador que vive na sua vizinhança, na zona sul. "Ele é humilde, mas veio prestar solidariedade para mim, acho que vou ajudá-lo."
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