Entre os dias 6 de outubro e 10 de dezembro, ocorre em Cuiabá a 26ª edição do Salão Jovem Arte. Este ano, a mais tradicional vitrine das artes de Mato Grosso terá exposições em três diferentes locais: na Galeria Lava Pés; no Museu de Artes e Cultura Popular (MACP-UFMT); e no Sesc Arsenal, além da possibilidade de visitação virtual.
Além dos 63 artistas e coletivos selecionados, uma exposição em especial chama a atenção. Ao Museu de Artes e Cultura Popular (MACP-UFMT) será reservada a mostra dedicada aos artistas homenageados, que ocorre entre os dias 9 de outubro e 13 de dezembro, excepcionalmente. O projeto expográfico é uma parceria entre Jeff Keese e Douglas Peron. A curadoria dessa mostra em especial é assinada por Keese. A exposição conta com textos poéticos e narração de Dani Paula Oliveira, conectados à sensível presença de cada artista.
Clovis Irigaray, Regina Pena, Benedito Nunes, Adir Sodré, Magna Domingos, Marta Catunda, Nilson Pimenta, Valdivino Miranda, Marília Beatriz, Rafael Rueda e Sebastião Mendes; confira os onze homenageados na 26ª edição do Salão Jovem Arte. Acompanhe também pelo site www.discosimaginais.com .
Clóvis Irigaray
Clóvis Irigaray é reconhecido como um dos mais expressivos nomes das artes visuais em Mato Grosso, representante legítimo da gênese da pintura moderna no Estado, ao lado de Humberto Espíndola, João Sebastião e Dalva de Barros. Seus desenhos, ao longo de sua trajetória artística, desenvolvem uma linguagem temática tão social quanto filosófica, que o torna único entre os artistas que se dedicaram à tendência indigenista da época.
Quando analisada a série Xinguana, não se pode deixar de notar o virtuosismo nos traços do artista. Mas seus desenhos hiper-realistas revelam muito mais que genialidade artística. Conceitualmente, sua arte antecipa importantes conquistas dos povos originários tendo como base de observação a sociedade da década de 1970.
Com impressionante habilidade para técnicas de desenho, Irigaray recriou cenários e deu novo sentido às imagens que ofereciam suporte à sua obra. Curioso notar que Irigaray nunca visitou uma aldeia indígena e as obras em questão foram baseadas em cartões postais, fotos de revistas e material publicitário da época. É preciso ressaltar ainda a temática das questões indígenas, intrinsecamente atreladas ao caráter visionário do artista, ao colocar o indígena em posição de protagonismo.
Sendo assim, sob a influência indigenista, Irigaray apresentou perspectivas consideradas visionárias para época. Exaltou a soberania dos povos do Xingu, os reconheceu como personagens igualitários em uma sociedade de consumo e lhes “abriu” espaços.
Regina Pena
Outra artista presente na exposição de artistas homenageados é Regina Pena, que fazia da arte uma expressão de vida. Em 2011 começou a produzir gravuras digitais e poemas e transformou as próprias limitações em novas possibilidades artísticas.
Diagnosticada com esclerose múltipla em 2006, Regina foi aos poucos aposentando as tintas e os pincéis e transferindo seus conhecimentos artísticos para novas plataformas. Começou a desenhar digitalmente com a ajuda de tablets e destacou-se como uma das grandes artistas digitais do país.
Em 2019, realizou uma exposição por meio das criações em plataformas de arte digital, com temáticas figurativas e abstratas. Os temas, além da natureza, mostravam mulheres, relacionamentos, política, metamorfoses e abstrações com geometrias e balões.
Participou de várias exposições coletivas no Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT e também promoveu exposições solo, além de lançar o livro “Voo Solo”, em 2015.
Benedito Nunes
Detentor de uma técnica apurada, Benedito Nunes ficou conhecido pela produção de obras que retratam a regionalidade. Uma de suas maiores inspirações era o cerrado mato-grossense, mas também pintava o cotidiano da cuiabania com maestria.
Além de o artista cuiabano ser homenageado na nova edição do Salão Jovem Arte, também é motivo de inspiração para o projeto “Benedito Nunes Tributo ao Mestre do Cerrado” – que vai retratar grande parte da caminhada do artista na consolidação de um trabalho de mais de 30 anos.
Nunes, além de ser um artista acessível e carismático, era famoso por retratar o cenário mato-grossense. Assim ficou conhecido como o Van Gogh do Cerrado, deixando sua marca na arte brasileira. Um dos mais representativos artistas da chamada "Geração 80”.
Adir Sodré
O inesquecível Adir Sodré também está na lista dos 11 homenageados em memória do 26º Salão Jovem Arte. Como diz Aline Figueiredo, "Adir é somatória, é adição".
A arte de Adir Sodré é presente para além do seu tempo de existência. Adir, um outsider, como ele mesmo se definia, foi um artista carregado de humanidade, com um potencial incontestável e tem a arte reconhecida não apenas em Mato Grosso, mas no Brasil e no mundo.
As pinturas de Adir revelam a vida cotidiana, com representações do bairro Pedregal – onde morava em Cuiabá, dos quintais cuiabanos, da estética do cerrado mato-grossense e dos elementos da cultura e da identidade cuiabana.
Apresenta também a admiração pelo pintor francês Henri Matisse, por meio das cores puras e dos elementos decorativos, em obras nas quais o erotismo é muito presente, como em Falos e Flores (1986) e Orgia das Frutas (1987).
Magna Domingos
Outra gigante entre os onze homenageados pelo 26º Salão Jovem Arte é Magna Domingos. A doce Magna, jornalista, pós-graduada em Gestão Cultural, muito conhecida por atuar como produtora cultural, foi gestora do Instituto de Arte e Cultura "Boca da Arte" e coordenadora de Cultura no Sesi-MT e do Pavilhão das Artes, no Palácio da Instrução.
Mas há também a grandiosa atuação artística de Magna. Como artista plástica, foi premiada no Salão Jovem Arte Mato-Grossense e no Salão de Artes Plásticas de Mato Grosso do Sul. Atuou nas mais diversas linguagens artísticas e culturais: música, fotografia, artesanato, teatro, artes visuais, audiovisual.
Marta Catunda
Marta Catunda também está entre as artistas homenageadas em memória. Ela atuou por 31 anos na Universidade Federal de Mato Grosso, onde desenvolveu trabalhos comunitários, educativos e artísticos com ribeirinhos, escolas, na redação de livros e catálogos ligados à arte, cultura e meio ambiente.
Como musicista e compositora, pesquisou as sonoridades ambientais e os processos de sensibilização ao meio ambiente na educação. Realizou também grandes parcerias com a amiga Tetê Espíndola.
Nilson Pimenta
Nilson Pimenta não poderia ficar de fora dos artistas homenageados pelo 26º Salão Jovem Arte. O artista plástico foi considerado um dos mais importantes e atuantes pintores brasileiros na arte naïf.
Ele participou de várias exposições coletivas e individuais, nos mais importantes museus e galerias do Brasil e do exterior, como a “Primitivos de Mato Grosso” no Museu de Arte de São Paulo em 1980; a “Brasil/Cuiabá: Pintura Cabocla”, nos museus de Arte Moderna no Rio de Janeiro e em São Paulo, e na Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília, em 1981.
Em 1988, participou também da “Negra Sensibilidade”, exposta no Museu de Arte e de Cultura Popular, em Cuiabá. A arte de Nilson foi parar até na galeria de Londres, com a exposição “Naïve Paintings of Far-Western Brazil”, em 2006.
Valdivino Miranda
Desde muito jovem, Valdivino nutria a paixão pela pintura. Em 1990, começou a trajetória profissional, depois de frequentar o Ateliê Livre, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), onde aprendeu com artistas mais experientes, sob a orientação de Nilson Pimenta. Seus trabalhos de maior destaque expressam visualmente elementos zoomorfizados.
Sua trajetória é marcada por participações em exposições de grande relevância no Brasil, levando consigo o nome de Mato Grosso. Reconhecido em inúmeros prêmios regionais, nacionais e internacionais, Valdivino Miranda, ao longo da carreira, participou de diversas exposições e bienais do circuito nacional, entre elas a Bienal Naïfs do Brasil, de Piracicaba (SP), edição de 2010. Foi premiado no XIX Salão Jovem Arte Mato-grossense, em 2000, e teve três pinturas selecionadas na edição 2013 do Salão de Arte de Mato Grosso, sendo elas: “Amor de peixe”, “Amamentação do ser marinho” e o “Beijo do polvo”.
Marília Beatriz
Graduada em Direito e mestre em Comunicação e Semiótica, Marília Beatriz deu grandes contribuições nas áreas de educação, comunicação, artes e cultura no estado. Atuou como advogada, escritora, teatróloga e professora, sendo uma das fundadoras da Universidade Federal de Mato Grosso. Desde 2015, era membro da Academia Mato-grossense de Letras (AML), ocupando a cadeira 02.
Em sua produção literária, Marília escreveu livros e artigos, organizou obras artísticas e literárias, e recebeu honrosos prêmios e distinções por sua contribuição à cultura e às artes. Dentre suas obras literárias estão: O mágico e o olho que vê (Edufmt, 1982); De(Sign)Ação: arquigrafia do prazer (Annablume, 1993); e Viver de Véspera (Carlini e Caniato, 2018).
Rafael Rueda
Artista plástico, autodidata, reconhecido nacional e internacionalmente, Rafael Rueda foi um expoente da escola abstracionista, ele expôs em Mato Grosso, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro. Ele pintou quadros abstratos de 1988 até o ano de 2020 e foi o primeiro a fugir da pintura cabocla e integrar o núcleo de artistas dessa corrente artística.
Já expôs na UFMT, Chapada dos Guimarães, Pontifícia Universidade Católica São Paulo, Salão Jovem Arte Mato-grossense, Museu de Arte Contemporânea, Campo Grande (MS), Sociedade Brasileira de Belas Artes – Rio de Janeiro (RJ).
Sebastião Mendes
As pinceladas do óleo sobre a tela trazem os traços do expressionismo figurativo e o exagero nas formas trabalhadas. Dono de pinceladas com traços exibicionistas e figurativos, o sucesso das telas tem uma explicação lógica e simples: elas retratam o cotidiano. Trata-se de uma linguagem bem do Brasil interiorano, que retrata os costumes, as brincadeiras, o cotidiano do povo. Principalmente, do povo mato-grossense.
Sua estreia profissional foi aos 16 anos, quando fez sua primeira exposição. Depois, foi ao Rio de Janeiro para se aproximar dos grandes artistas da época. O artista tem obras espalhadas por acervos em todas as partes do globo, sendo desde o quadro “Mato Grosso – Nossas Raízes, Nossa Cultura”, entregue na reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso, em 1995, a duas pinturas para a Prefeitura de Malgrat del Mar, em Barcelona (Espanha).
Hoje, suas obras estão em acervos de colecionadores e museus de diversos países da Europa, nos EUA, Japão, China, Rússia e no Brasil. Ocupa a 3ª cadeira da academia Brasiliense de arte, desde 2007