Iniciada oficialmente no dia 15 de setembro, a safra 2015/2016 de soja vem preocupando os produtores que sentem na pele um maior dispêndio para obtenção de insumos e maquinários que viabilizem o plantio. Dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA) apontam que se, por um lado, a alta do dólar aumenta os ganhos internos dos produtores, por outro sua valorização já elevou em 18% seu custo anual e que, se a taxa de câmbio não recrudescer, essa margem pode ser ainda maior no próximo ciclo.
Dados do Instituto apontam que 50,6 mil hectares já foram semeados com soja, o que representa 0,55% da área total estimada.
O impacto negativo do dólar é sentido por alguns produtores de Mato Grosso. Campo Novo do Parecis (401 km de Cuiabá) é uma cidade situada no Oeste do Estado. Com área de produção estimada em 360 mil hectares, o município tem população de 31.171 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e é responsável por 70% da produção brasileira de milho pipoca. Campo Novo é lar de Alex Ushida, agricultor de soja e milho e presidente do Sindicato Rural local.
Para Ushida os ganhos advindos da valorização cambial acontecem apenas no longo prazo e que, até lá, os produtores precisam se esforçar para que o aumento dos custos de insumos e maquinários não signifique prejuízo.
“O impacto positivo vem no longo prazo, com as exportações. Mas os insumos e defensivos são cotados em dólar, o que acaba encarecendo-os. Os custos cresceram na mesma proporção da moeda norte-americana”, disse ele.
Sorriso, cidade que fica no Médio-Norte do Estado (418 km de Cuiabá), é um dos mais importantes centros do agronegócio brasileiro. Com valor de produção de R$ 2 bilhões em 2013, cujo carro chefe é a soja, segundo o IBGE, o município também sente os reflexos da alta do dólar, que no período de um ano teve valorização de 60%.
Laércio Lenz é produtor de soja e também presidente do Sindicato Rural na cidade. Ele afirma que os produtores que possuem dívidas fixadas em dólar estão numa “situação complicada” e que o atraso do crédito do Plano Agrícola e Agropecuário (Plano Safra), divulgado pelo Governo Federal no início de junho, cujo investimento total é da ordem de R$ 187,7 bilhões, também preocupam os empresários do agronegócio, que costumam ter uma dependência orgânica de financiamentos e créditos.
“Se os bancos tivessem liberado o crédito em março ou abril, estaríamos numa situação melhor. Mas o governo liberou migalhas só a partir de agosto. Tem gente pagando juros de financiamento de até 16%”.
Câmbio prejudica quem não comprou insumos
A alta do dólar pode ter um efeito benéfico para os produtores que se programaram e adquiriram insumos, como fertilizantes e defensivos, quando o câmbio não estava alto, tendo em vista que esses produtos geralmente são comercializados com base na moeda norte-americana. Assim, a valorização do dólar é benéfica na hora de vender a safra que vai para exportação. Contudo, se não há planejamento adequado, o agricultor pode ter que encarar prejuízos.
A opinião é do diretor administrativo e financeiro da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (FAMATO), Nelson Piccoli. Ele diz ainda que a demora na liberação do plano safra por parte do Governo Federal tem obrigado produtores a aceitarem condições nada vantajosas na obtenção de crédito, principalmente quando o assunto são os juros.
“O Governo Federal também não disponibilizou o plano safra em sua totalidade. A instabilidade política faz o crédito subir”.
Produtividade recorde na safra do algodão
A colheita dos 564,2 mil hectares de algodão chegou ao fim em Mato Grosso na penúltima semana do mês de setembro. Mesmo que a produção bruta da pluma tenha ficado 5,5% menor em relação à safra 2013/2014 – também reflexo da área 12,7% comparando com o período anterior -, a produtividade por hectare registrou um recorde, com 274,1@/ha. Os dados são do Boletim Semanal do Algodão, publicado em 28 de setembro pelo IMEA.
Ao todo, a produção do algodão mato-grossense registrou 939,9 mil toneladas. A maior parte da produtividade é consumida no mercado interno. Entre os países que mais adquirem a pluma produzida em Mato Grosso, destaque para Indonésia, Coreia do Sul, Vietnã, Malásia e China.
Produção de carne bovina caiu mais de 11%
Segundo o Boletim Semanal da Bovinocultura, publicado pelo IMEA no último dia 28 de setembro, a produção de carne bovina caiu no primeiro semestre de 2015. De acordo com o IBGE, a produção nacional da proteína totalizou 3,66 bilhões de quilogramas de carcaça no primeiro semestre de 2015, quantia 7,14% menor em relação ao mesmo período do ano anterior. Em Mato Grosso a redução foi mais acentuada, pois o Estado produziu 564 milhões de quilogramas, 11,55% a menos em relação ao mesmo período do ano passado.
Em números absolutos, foram abatidas 436 mil cabeças a menos em comparação com o ano passado. Ainda assim, Mato Grosso foi responsável por 15,4% da produção nacional no primeiro semestre de 2015.
Nos cortes do varejo, a maior valorização ocorreu com o acém, que subiu 38% na comparação 2014/2015. A costela vem em segundo, com alta de 35%. Na média, o preço da carne bovina está 13,7% mais caro para o consumidor final.