Dados do 9º Anuário de Segurança Pública, publicado pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) em outubro, mostram que as forças policiais do Rio de Janeiro são as mais letais do país. A cada cem mil habitantes, no Estado do Rio, morreram 3,5 pessoas por conta de algum tipo de intervenção policial. Amapá (3,3), Alagoas (2,3), São Paulo (2,1) e Pará (1,9) aparecem na sequência. As estatísticas são de 2014.
Em números absolutos, São Paulo puxa a fila com 965 mortes provocadas por policiais no ano passado, 351 a mais em comparação com o ano anterior –de 2013 para 2014, houve aumento de 57% no Estado de São Paulo. Também no ano passado, o Estado do Rio teve 584 ocorrências, 168 a mais em relação a 2013 –crescimento de 40%.
Reportagem do UOL publicada em outubro mostrou que, a três meses do fim de 2015, o Rio já possuía mais casos de mortes causadas por policiais, os chamados "autos de resistência", do que o acumulado em todo o ano de 2013, segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública do Rio). De janeiro a agosto, foram registradas 459 ocorrências do tipo nas delegacias do Estado. Em 2013, de janeiro a dezembro, o mesmo indicador foi de 416 vítimas.
Jovens fuzilados na zona norte
Na noite do último sábado (28), PMs dispararam mais de 50 vezes contra um carro no qual estavam cinco jovens –todos os mortos tinham entre 16 e 25 anos. O grupo voltava de um dia de lazer no Parque Madureira, zona norte carioca. Na segunda-feira (30), o secretário de Estado de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, definiu como "trágica e indefensável" a ação policial que resultou na chacina. Segundo ele, a denúncia de que os policiais tentaram forjar a cena do crime será um "sobrepeso" na acusação.
"A ação foi absolutamente exagerada e desnecessária e essas pessoas vão responder criminalmente e administrativamente por isso. Acredito que, possivelmente, os policiais poderão ser expulsos da corporação. Eles agiram de forma homicida. Mas esse não é um processo sumário, ele demora porque os acusados têm direitos de defesa baseados na nossa Constituição", disse o secretário.
Beltrame afirmou ainda que a matança não decorreu da má formação policial, mas da "falta de caráter" dos PMs. "Nas escolas de polícia, a primeira lição que se aprende é que se deve usar armas quando a nossa integridade física ou a de terceiros são ameaçadas. Temos que capacitar policiais que tenham compromisso com a sociedade e, no caso desses policiais, falta esse elemento importante. O caráter se forma na vida, não há capacitação que resolva", declarou.
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), afirmou considerar a hipótese de assassinato. "Nunca julgo premeditadamente as pessoas, mas parece que foi execução. E isso nós não vamos tolerar. Se tiver que expulsar, vamos", afirmou após participar de um seminário na Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro. O governador, no entanto, evitou ligar o caso a um episódio de racismo, por se tratar de jovens negros. "Não é racismo. É erro e erro a gente vai combater."
Mais de 3.000 mortes
No ano passado, policiais foram responsáveis por mais de 3.000 mortes em todo o país, de acordo com o 9º Anuário de Segurança Pública. Na comparação com o ano anterior, são 807 óbitos a mais, a maioria decorrente de intervenção de policiais que estavam de serviço. Dos 26 Estados onde houve coleta de dados –somente Roraima não tem estatísticas–, apenas cinco apresentaram, de um ano para o outro, redução no número de mortes: Bahia (35 a menos), Pernambuco (15), Mato Grosso do Sul (4), Rio Grande do Norte (2) e Espírito Santo (2).
O Anuário de Segurança Pública mostra ainda que o número de pessoas mortas de forma violenta e intencional (independente da autoria dos homicídios) chegou a 58.559 no Brasil em 2014. É a marca mais alta em sete anos e representa 160 assassinatos por dia, quase sete por hora. Houve um aumento de 4,8% em relação ao recorde anterior, registrado em 2013, quando 55.878 pessoas foram assassinadas no país. No ano passado, a taxa nacional de mortos por cem mil habitantes ficou em 28,9, também a marca mais alta em sete anos. O crescimento em relação ao índice de 27,8 verificado em 2013 foi de 3,9%.
Em 2014, o Rio de Janeiro teve a 13ª maior taxa média (34,7 por cem mil) de mortes violentas e intencionais. Os Estados que tiveram os três maiores índices foram Alagoas (66,5), Ceará (50,8) e Rio Grande do Norte (50).
Fonte: UOL