O secretário de Educação de São Paulo, Herman Voorwald, apresenta a reorganização escolar no ensino estadual (Foto: Márcio Pinho/G1)
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo anunciou nesta segunda-feira (26) que a reorganização do ensino escolar vai afetar diretamente 94 escolas que serão 'disponibilizadas'. Desse total, 66 escolas serão disponibilizadas para ser compartilhadas com a rede municipal e outras 28 estão com destino incerto. Ao todo, a reorganização do ensino vai disponibilizar 1,8% das 5.147 escolas do estado. Outras 1.464 unidades estarão envolvidas na sua configuração, mudando o número de ciclos de ensino a oferecer.
Segundo a Secretaria, 311 mil alunos terão de mudar de escola do total de 3,8 milhões de matriculados. A mudança atinge ainda 74 mil professores.
A reorganização vai separar a maioria das escolas em unidades de ensino fundamental 1, para crianças do 1º ao 5º ano, ensino fundamental 2, do 6º ao 9º ano, e ensino médio.
O número de escolas com ciclo único vai subir de 1.443 unidades para 2.197 unidades, ou seja, um aumento de 754 escolas. Com isso, 43% das escolas do estado terão apenas um ciclo. Para a Secretaria da Educação, a melhora no rendimento dos alunos nas escolas de ciclo único é de 15%.
O número de escolas com dois ciclos cai 18%, indo de 3.209 escolas para 2.635.
O número de escolas com três ciclos cai de 495 para 315 unidades (queda de 36%).
A lista das escolas atingidas será divulgada até o final da semana. Nesta terça-feira, a secretaria vai se reunir com 91 dirigentes de ensino para dar andamento às mudanças.
O secretário da Educação, Herman Voorward, explicou que após o dia 14 de novembro a secretaria vai abrir um novo processo de transferência de alunos.
Voodward defendeu a mudança pretendida pela secretaria. "É muito claro que isto melhora o aprendizado das crianças", afirmou.
Segundo a secretaria, 2.956 salas que estavam ociosas passarão a ser aproveitadas com a reorganização.
A ideia é que professores e outros profissionais da escola, além da própria estrutura, possam estar voltadas a crianças de determinada faixa etária.
Segundo a Secretaria da Educação, os alunos que vão precisar ser transferidos serão matriculados em escolas que ficam até no máximo 1,5 km de suas casas. Eles serão informados sobre o endereço da nova unidade até o mês de novembro.
Prédios
Na última sexta-feira, Herman Voorwald afirmou que a intenção da mudança não é fechar escolas. "Toda ação foi preparada para que não faltasse espaço para as crianças. Nós temos que ocupar as salas ociosas. Nós vamos mexer com mais de 2,9 mil salas ociosas", afirmou.
Ele destacou que escolas que eventualmente sejam desocupadas pelos atuais turmas poderão ser usadas como creches, Fatecs ou para o sistema de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e para escolas de ensino integral.
O secretário disse ainda que as contas feitas pela secretaria levaram em conta um possível aumento da procura por vagas na rede estadual em razão da crise financeira.
Ministério Público
O Ministério Público do Estado abriu um inquérito civil para apurar a reorganização das escolas estaduais anunciada pela Secretaria Estadual de Educação. Entre outros esclarecimentos, a promotoria do órgão quer saber se de fato unidades serão fechadas e quais os benefícios que o governo espera com a mudança. A Defensoria Pública de São Paulo também já havia pedido explicações à secretaria.
ALUNOS, PAIS E PROFESSORES TIRAM DÚVIDAS SOBRE AS MUDANÇAS
O anúncio das mudanças provocou protestos em várias cidades. Muita gente tem dúvidas sobre o que vai acontecer e se muitas escolas serão fechadas. Por isso, o G1 reuniu abaixo 10 perguntas de pais, professores, funcionários e alunos sobre essa reorganização. Quem responde é a secretária-adjunta, Irene Miura, da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (veja nos vídeos abaixo).
1) “Com essa mudança algum aluno tem o risco de ficar sem vaga?”
– Nicolas Henrique dos Santos Costa, 16 anos, aluno da E. E. Padre Saboia de Medeiros
RESPOSTA:
"Eu posso te garantir que nenhum aluno ficará sem vaga. A obrigação da nossa rede pública é oferecer vagas e universalização de ensino para os alunos da rede pública."
– Irene Miura, secretária-adjunta da Secretaria Estadual da Educação
2) “Qual é o critério que a Secretaria da Educação utiliza para diferenciar uma escola de tempo integral, que é uma escola de custo alto, para uma escola com 800 ou 1 mil alunos que precisa ser fechada por ter um custo também alto”
– Denise Maria Elisei, diretora da E. E. Padre Saboia de Medeiros
RESPOSTA:
"Na verdade, a questão da economia não está em pauta. Quando segmentamos as escolas em ciclos, temos crianças com ambientes melhores para desenvolver o projeto pedagógico e adolescentes com espaços mais adequados, com laboratórios e para se preparar para o mundo do trabalho. É óbvio que eu vou ter melhores resultados nesses segmentos."
– Irene Miura, secretária-adjunta da Secretaria Estadual da Educação
3) “Por que a escola vai fechar e o que eles vão querer fazer com a escola?”
– Silas Ramos, 7 anos, aluno da E. E. Dom João Maria Ogno
RESPOSTA DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO:
"Eu adorei a sua pergunta, primeiro porque ela é muito perspicaz e ela mostra uma preocupação genuína com a escola. O que está sendo muito divulgado é a expressão 'fechar escola'. Fechar é diferente de disponibilizar escola. Fechar escola significa que eu não vou fazer mais nada com ela. Disponibilizar escola significa que eu vou dar uma outra destinação de utilização desse espaço, que antes era uma escola e que pode ser uma outra escola. O que a gente está tentando garantir é que esse espaço seja usado pra um equipamento educacional, que pode ser uma escola técnica, Fatec ou uma creche."
– Irene Miura, secretária-adjunta da Secretaria Estadual da Educação
4) “Fui informada que minha escola vai fechar, porém não me deram opção para onde quero ir. A distância máxima de transferência seria de 1,5 quilômetro, mas estão querendo me mandar para uma escola a 2,9 quilômetros de distância. Por quê?”
– Luiza Dias da Paz Silva, 15 anos, aluna da E. E. Padre Saboia de Medeiros
RESPOSTA DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO:
“O estudo levou em consideração 1,5 quilômetro entre as escolas que poderão ser afetadas. Não são todas as escolas do estado que vão passar pela reorganização. Existem polos de escolas que foram estudadas. Se você estiver entre as escolas que serão reorganizadas, a sua escola vai ter o cuidado de fazer esse estudo para alocar os alunos nesse parâmetro de 1,5 quilômetro."
– Irene Miura, secretária-adjunta da Secretaria Estadual da Educação
5) “Por que não se abrem novas escolas e, sim, fechando as que têm? Por que também não aumenta a qualidade das escolas, tanto estrutural quanto de ensino?”
– Vicente Ribeiro Loiola Júnior, pai e funcionário de escola estadual
RESPOSTA DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO:
"É um problema de gerenciamento que todo gestor público precisa ter como uma postura de responsabilidade. Então, se eu tenho uma queda na taxa da natalidade nos últimos 14 anos, isso significa que eu estou tendo menos demanda para os alunos que estão procurando as nossas escolas. Isso quer dizer que há salas ociosas. É uma atitude bastante corajosa da administração púbica entender que para eu dar uma melhor qualidade para o teu filho, para ele estudar, é preciso segmentar as escolas por ciclos. Quando você fala da questão de melhorar a estrutura, obviamente a manutenção tem de se dar todos os dias. Existem unidades volantes no Estado inteiro que fazem pequenos consertos. Mas, a manutenção é programada."
– Irene Miura, secretária-adjunta da Secretaria Estadual da Educação
6) “Eu gostaria de saber o porquê, com uma mudança tão grande como essa, vocês não vieram perguntar a minha opinião e a dos outros alunos?”
– João Victor Oliveira Silva, 16 anos, aluno da E. E. Padre Saboia de Medeiros
RESPOSTA DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO:
"Eu já tive a sua idade e eu também faria a mesma pergunta. Agora, eu gostaria que você entendesse que nós temos uma rede de mais de 4 milhões alunos, 5 mil escolas e 200 mil professores. A nossa secretaria tem que ter uma corresponsabilidade com a passagem dessa comunicação com os alunos. Quem faz esse papel é o dirigente regional. Ele representa o secretário da educação lá na sua região. Onde você estuda, com certeza, os dirigentes estão conversando com seus diretores, com seus professores e com a comunidade escolar. Eu gostaria que você tivesse um pouquinho de paciência, porque um processo de comunicação gigante como esse precisa ser escalonado e daqui da nossa secretaria ficaria praticamente impossível falar com toda a comunidade escolar."
– Irene Miura, secretária-adjunta da Secretaria Estadual da Educação
7) “Como a secretaria acha que vai melhorar a educação fechando salas de aula e demitindo mais professores?”
– Marcos Kauê, presidente União Municipal dos Estudantes Secundaristas de SP (Umes)
RESPOSTA DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO:
"Tivemos uma reunião aqui na secretaria com representantes de alunos. Gostaria que vocês tivessem ciência que essa questão de demitir professores não está na nossa pauta. Só para te dar um exemplo, no dia 15, Dia dos Professores, nós chamamos mais de 5 mil professores concursados.”
– Irene Miura, secretária-adjunta da Secretaria Estadual da Educação
8) “Como vai ficar a superlotação das salas e a qualidade do ensino? Isso vai mudar muito para os alunos, porque por enquanto está bom, mas quero ver se mais para frente vai estar bom.”
– Cecília Karina dos Santos Assis, 15 anos, aluna, E. E. Padre Saboia de Medeiros
RESPOSTA DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO:
“A reorganização vem baseada no estudo das salas ociosas. Uma rede que foi programada nos últimos 20 anos para receber 6 milhões de alunos e hoje tem mais ou menos 4 milhões, contando com a queda da natalidade que a fundação Seade fez, nós precisamos, no mínimo, como gestores públicos, reorganizar a rede nesse sentido para otimizar a utilização desses espaços. Infelizmente em educação, a gente não consegue um resultado de curto prazo. Mas nós precisamos acreditar que a gente vai melhorar essa educação.”
– Irene Miura, secretária-adjunta da Secretaria Estadual da Educação
9) “O que vai acontecer com os pais que têm mais de um filho na escola em séries diferentes?”
– Sandro Delrio, pai de aluna da E. E. Dom João Maria Ogno
RESPOSTA DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO:
"Eu entendo sua preocupação, mas primeiramente precisamos saber se seus filhos estão envolvidos nesse processo. É importante aguardarmos a lista das escolas que estarão envolvidas nesse processo. Eu te peço para atualizar seus dados de endereço no site www.atualizeseusdados.educacao.sp.gov.br. A escola vai estudar os casos, e o seu caso é um caso específico e merece um cuidado especial."
– Irene Miura, secretária-adjunta da Secretaria Estadual da Educação
10) “Para onde vão os deficientes visuais que a gente tem na escola? Nós somos uma das poucas escolas na zona leste com inclusão social”
– Douglas Rodrigues dos Santos, 17 anos, aluno da E. E. Dom João Maria Ogno
RESPOSTA DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO:
"Nós investimos nas nossas escolas para que elas se tornem acessíveis. Então, nesse caso que você está falando, se aluno tem necessidade especial e tiver nesse movimento de reorganização, ele com certeza irá para uma escola acessível, que tenha os recursos adequados para receber esse aluno com necessidades especiais."
– Irene Miura, secretária-adjunta da Secretaria Estadual da Educação
Fonte: G1