Cuiabá completa 300 anos nesta segunda-feira (08) e uma de suas características mais acentuadas é a relação que seu povo estabelece com a fé e com a religiosidade. Isso, desde os tempos em que era chamada de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuyaba.
Não por acaso, alguns dos mais populares cartões-postais da cidade revelam majestosos templos religiosos. De estilos colonial, gótico, barroco e neoclássico, as igrejas de Cuiabá trazem muito mais que belas edificações, elas carregam histórias e lendas que fortalecem a fé do cuiabano.
Com a ajuda do arquiteto Robinson de Carvalho Araújo, coordenador de Patrimônio Cultural da Secel-MT, em comemoração ao tricentenário de Cuiabá, foi possível fazer uma incursão por algumas das mais extraordinárias igrejas da capital, contando um pouquinho de suas origens, influências, causos e lendas.
Igreja do Rosário e São Benedito
A primeira a ser lembrada e mais antiga é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Localizada no alto do morro, a igreja em estilo barroco, começou a ser edificada no ano de 1725 e foi inaugurada cinco anos depois, no tradicional bairro da Lixeira. É visível tanto por quem passa pelo cruzamento da Rua Coronel Escolástico quanto pela Tenente Coronel Duarte, a famosa Prainha.
Tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1975 e, mais tarde, pela Fundação Cultural de Mato Grosso, em 1987, foi construída por negros forros e escravos libertos.
“Aquela região era conhecida como ‘Alavanca de Ouro’, uma espécie de ‘Eldorado Cuiabano’. Reza a lenda que o morro, onde está a igreja, é uma gigantesca pepita de ouro. Aquela época, com a busca frenética por ouro, muitas pessoas estavam arriscando suas vidas e morrendo subterradas. Foi então que, ali, no alto do morro, a igreja católica decidiu construir a primeira igreja de Cuiabá. Ninguém mais se atreveria cavar o morro”, Robinson de Carvalho.
Certo tempo depois de concluída – aproximadamente 60 anos -, teve anexada à sua estrutura, uma capela em homenagem a São Benedito. Daí o nome composto que ainda confunde alguns turistas e, por vezes, cuiabanos. Apontada por muitos fiéis como a mais frequentada, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário conserva sua história secular em paredes originais de adobe e relíquias como tijolos de barro que escravos confeccionavam nas próprias coxas.
Vale observar que a igreja não tem janelas nem vitrais e por isso seu interior é um tanto quanto escuro. Um verdadeiro contraste com a luminosidade que emana do ouro presente nos monumentos em homenagem à Nossa Senhora do Rosário. Na igreja são realizadas missas nas terças-feiras, às 5h e 19h, nas quartas, quintas e primeira sextas do mês, às 19h, e no domingo às 8h e 19h.
Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá
Uma das mais tradicionais, a Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá foi construída em 1722. Localizada em frente à Praça de República, no Centro Histórico de Cuiabá, a igreja acompanha a trajetória da cidade como um marco de sua modernização, já que foi demolida no final da década de 1960, dando origem a uma nova edificação.
Com o passar do tempo, conforme Cuiabá se desenvolvia, governantes da época acreditavam que a igreja também deveria modificar-se e, dessa forma, acompanhar o ritmo do progresso. Assim, passou por diversas reformas e ganhou uma segunda torre. De acordo com historiadores, um factoide de Dom Orlando Chaves de que suas paredes estavam desmoronando, justificou sua demolição em 14 de agosto de 1968.
“Uma igreja que passou por muitas fases, várias reformulações. A primeira igreja era feita de taipa, muito simples. Depois uma segunda edificação, já no estilo colonial. Sua terceira versão, em estilo barroco, é uma ideia de Dom Aquino Correa, nos anos 1920. Com a ascensão de Dom Orlando Chaves, a versão barroca foi demolida com dinamite e reerguida em estilo bem definido art décor. As torres não ruíram com a explosão, foram demolidas manualmente”, explica Robinson.
É a partir de sua reconstrução que a Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá passa a ser o que é hoje, com suas características modernas/art décor e as duas torres com um relógio em cada. Nela, encontra-se imagens do Padroeiro que dá nome a catedral, da Imaculada Conceição e o crucifixo da cátedra do bispo, originais do século 18.
Em uma cripta localizada no subsolo da igreja, como acesso livre para visitação, estão homenageadas grandes personalidades da história de formação da capital e líderes da igreja católica em Mato Grosso. Monumentos aos fundadores de Cuiabá, Pascoal Moreira Cabral e Miguel Sutil de Oliveira, além dos arcebispos Dom Orlando Chaves, Dom Carlos Luiz e o cuiabano Dom Francisco de Aquino Corrêa.
Na Catedral são realizadas missas às segundas, às 18h30, de terça à sábado, às 6h30 e 18h30 e no domingo são quatro horários, às 7h, 9h, 17h e 19h.
Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho
Imponente, a Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho é um dos principais e mais belos cartões-postais de Cuiabá. Localizada no alto do Morro do Seminário da Conceição, no bairro Dom Aquino, a Igreja é uma das mais queridas da população cuiabana. Avistada de longe, de uma perspectiva privilegiada para quem desce a Avenida Isaac Póvoas, é de encher os olhos a arquitetura da construção, inspirada na parisiense gótica Catedral de Notre Dame de Lourdes, na França.
Pesquisadores apontam que a Igreja do Bom Despacho teve início em 1928 e foi edificada a partir da doação dos fiéis. Apesar disso, estima-se que sua origem seja do século 18. Relatos de estudiosos afirmam que o local abrigava uma pequena capela, na Cuyabá provinciana.
“Esse foi o primeiro bem tombado pelo Estado de Mato Grosso, em 1977. Originalmente era apenas uma singela capela, localizada ao lado do Seminário da Conceição. Por causa dessa igreja, muito da arquitetura religiosa de Cuiabá foi alterada. Era uma espécie de homenagem a Dom Aquino e sua influência francesa. Assim, a Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá também acrescentou traços neogóticos a sua fachada, bem como outras edificações da capital, sempre em alusão a Dom Aquino Correa”, explica.
Tombada pelo Governo de Mato Grosso em 1977, a Igreja Nosso Senhor do Bom Despacho possui traços da arquitetura neogótica e entre as características mais acentuadas estão os vitrais imponentes, importados da Bélgica e a torre principal sem ponta.
Em 2004, o templo que estava há uma década fechado, passou por restaurações, resgatando sua pintura original, vitrais, ornamentos, piso e instalações. Em 2014, foram reconstruídas as figuras que adornam a parte externa do templo.
As missas no local são realizadas às segundas-feiras, às 7h e 18h30, de terça à sexta, às 7h e 16h, aos sábados, às 7h, e aos domingos, às 8h, 11h e 17h. Ao lado da Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho fica o Museu de Arte Sacra de Mato Grosso, aberto à visitação de quarta-feira a domingo, das 9h às 17h.
Igreja São Gonçalo do Porto
Um dos templos religiosos mais frequentados da capital foi edificado na antiga Rua Larga, em 1781, pelo Dr. José Carlos Pereira. No dia 15 de novembro daquele ano, data que atualmente dá nome à rua onde a igreja foi construída, uma bela solenidade marcou a missa inaugural. O santo que dá nome à igreja, foi transportado, numa procissão fluvial vinda da Capela de São Gonçalo Velho.
Vale ressaltar que durante a Guerra do Paraguai, imagens também foram transferidas do Forte de Coimbra e Corumbá via cais do porto de Cuiabá, sob grande comoção popular. O episódio gerou a lenda de que a imagem da Santíssima Virgem havia derramado lágrimas.
A igreja passou por várias reformas até chegar a sua atual arquitetura, definida a partir de 1894 com a chegada da Missão dos Salesianos de São João Bosco, que trouxe o Padre José Solari, escultor, pintor, cantor e cientista, responsável pela remodelação da Igreja, dando-lhe o atual estilo neoclássico.
Em 1916, é incorporado à Igreja o último adereço: a imagem do Cristo Redentor, no ponto mais alto da igreja. A inauguração em 17 de dezembro foi realizada com missa solene do então Bispo Auxiliar Dom Aquino Corrêa. O relógio da Igreja data de 1842 e na fachada do templo, antes da torre, encontramos as imagens dos quatro apóstolos: Lucas, Mateus, Marcos e João.
Um globo com os continentes terrestres também ornamenta sua fachada. “Em 2016, a pintura do globo foi restaurada. A Superintendência de Patrimônio da Secel realizou uma pesquisa histórica e reparou as cores originais do globo, como era no início”, frisa Robinson.
As missas na igreja são realizadas de segunda a sexta, às 19h, no sábado, às 17h, e no domingo são quatro horários, 06h30, 08h30, 17h e 19h.