Cidades

Registros de casos de febre amarela sobem 62% após o carnaval

As notificações de casos de febre amarela aumentaram 62% nos dias seguintes ao carnaval, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Esses avisos acontecem quando médicos alertam órgãos de saúde que atenderam alguém com suspeita da doença.

As notificações não devem ser confundidas com casos confirmados ou mortes causadas pela doença. Desde julho do ano passado, o Brasil teve 1.098 casos de febre amarela e 340 mortes.

A maior circulação de turistas em áreas de risco durante o carnaval é uma das hipóteses dos especialistas para explicar o aumento das suspeitas de pessoas infectadas. A alta no pós-carnaval é maior que a de outros períodos recentes, e somente inferior ao período do fim de férias de janeiro, que registrou aumento de 79% das notificações.

As taxas percentuais foram extraídas da análise dos dados divulgados semanalmente pelo Ministério da Saúde. A pasta divide esses dados em semanas epidemiológicas (SE) – períodos de 7 dias que não necessariamente seguem a sequência do calendário (com isso, a SE1 não é a primeira semana do ano).

A partir da análise da série, verifica-se que os dados divulgados na semana epidemiológica 8 (entre os dias 18 e 24 de fevereiro) apresentam alta significativa. Houve 1.094 casos a mais no período quando comparado à semana 7 (entre 11 e 17/2). Em termos absolutos, a alta é superior aos 479 novos casos verificados entre as semanas 3 e 4. Ali, entre 14 e 20 de janeiro e 21 e 27 , o aumento percentual foi de 79%.

Ainda, o aumento de 62% entre a semana 7 e 8 é destoante do período imediatamente posterior e anterior — em que as taxas de crescimento foram bem mais lentas.

Entre as semanas 5 e 6, o aumento foi de 26,4%. Também entre as semanas 8 e 9, o crescimento voltou a ficar mais devagar, com um aumento de 12%.

"A explosão de casos de febre amarela no Carnaval é centenária. Até Oswaldo Cruz alertava para isso. Dizia-se até que era um castigo de Deus", diz Expedito Luna, pesquisador do Instituto de Medicina Tropical (USP).

Apesar do carnaval este ano ter caído entre os dias 9 e 13 de fevereiro, a divulgação dos dados é feita depois por dois motivos: os sintomas do vírus só se manifestam de 3 a 5 dias após a infecção e há um tempo para o Ministério da Saúde compilar e divulgar os dados.

"Os serviços de saúde e de vigilância de um modo geral também ficam mais lentos nesse período e as notificações podem se acumular", explica Expedito Luna, pesquisador do Instituto de Medicina Tropical (USP).

No gráfico abaixo, é possível notar a maior tendência de crescimento no período pós-carnaval: entre os dias 17 e 24 de fevereiro.

Tendência de diminuição ao longo do ano
Passado o verão e o período de chuvas, a tendência é que os casos de febre amarela diminuam a partir de maio, explica Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. Isso porque os mosquitos que transmitem a febre amarela, Haemagogus e Sabethes, proliferam-se mais durante o período.

Um outro ponto que vai puxar a diminuição é o que os especialistas chamam de diminuição de suscetíveis, explica Expedito Luna. A partir do avanço de campanhas de vacinação, a tendência é que menos pessoas fiquem expostas ao vírus.

Diferença entre notificação e casos confirmados
As notificações são enviadas para o Ministério da Saúde como uma suspeita — o que não significa que o indivíduo, de fato, teve febre amarela. Elas têm por base critérios clínicos e sintomas. Só depois é que serão feitos testes para confirmar ou não se o indivíduo teve a doença.

Os testes, no entanto, demoram mais para sair que as notificações. Assim, quando os casos confirmados saem, fica difícil saber a qual período pertencem.

De qualquer modo, um aumento nas notificações geralmente significa um incremento no número de casos.

Segundo o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, o Brasil contabilizava 1098 casos confirmados e 340 mortes entre 1º de julho de 2017 e 20 de fevereiro de 2018.

Maior circulação e forma silvestre
Há dois tipos de febre amarela: a urbana e a silvestre. A responsável pelo surto atual é a silvestre, em que os mosquitos infectados estão mais localizados em regiões de mata.

A partir disso, é natural que o número de notificações cresça em períodos que as pessoas viajam mais.

"Se você está se deslocando mais, viajando mais, você tem que ter uma atenção maior do que quando você fica quietinho", diz Renato Kfouri.
Uma das regiões com casos flagrantes foi Ilha grande, em Angra dos Reis (RJ) — em que muitos turistas foram infectados em fevereiro.

Em boletim divulgado pela secretária de saúde da região no dia 20, só a ilha contabilizava 12 casos, com 7 mortes no período. Um turista chileno e suíço estavam entre os mortos.

Também a Organização Pan-Americana de Saúde divulgou que a ilha é responsável por 9 casos em turistas estrangeiros no Brasil.

"Uma pergunta para ser respondida é como esse vírus foi parar nessa ilha", indaga Kfouri.
Atenção ao período de imunização e feriados
O Ministério da Saúde planeja estender a vacinação a todo o Brasil. De qualquer forma, a maior parte do território hoje está em área de recomendação para a vacina e todos os brasileiros entre 9 meses e 59 anos devem tomar o imunizante (há algumas excessões, como portadores de doenças crônicas).

Para quem planeja viajar, vale lembrar que a vacina só faz efeito após dez dias.

Por isso, quem planejava viajar no feriado de Páscoa (entre os dias 30 e 1° de abril), deveria ter procurado imunizante terça-feira (20).

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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