Economia

Real tem 2º pior desempenho no mundo com força do dólar e ruído político doméstico

O dólar operou sob forte pressão de alta nesta sexta-feira e intensificou os ganhos na parte da tarde, puxado pelo ambiente arisco no exterior, mas também pela intensificação de temores sobre os rumos da pandemia no Brasil e suas possíveis implicações políticas.

A moeda americana à vista saltou 1,76%, a 5,3036 reais na venda. Com isso, reduziu a 2,09% a queda acumulada na semana, que não anulou a disparada de 4,34% da primeira semana de janeiro —a qual marcou o pior começo de ano para o real desde pelo menos 2003.

Analistas de mercado comentaram que o componente político voltou a mexer com os preços, com a escalada do embate público entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) e novas declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), alimentando debates sobre a possibilidade de a Câmara retomar atividades antes do fim do recesso.

“Isso fortaleceria Maia e poderia trazer de volta discussões sobre mais auxílio emergencial”, disse Luiz Eduardo Portella, sócio-fundador da Novus Capital. “A gente precisava ter a aprovação da vacina pela Anvisa neste fim de semana para podermos começar a próxima semana com temperatura mais baixa”, completou.

O comportamento do presidente Bolsonaro no combate à pandemia de Covid-19 talvez fosse considerado genocídio em um outro país, disse Doria nesta sexta-feira. Em entrevista posterior, Bolsonaro rebateu o governador paulista e citou Rodrigo Maia, que em entrevista na sequência falou em “um certo descaso” com a questão das vacinas no entorno do presidente da República.

A faísca que gerou a nova rusga foi o colapso do sistema público de saúde de Manaus (AM), onde pacientes morreram asfixiados por falta de oxigênio.

O dólar já abriu em alta no Brasil, replicando a força da moeda no exterior, onde investidores se preocuparam com novas medidas mais rígidas contra a Covid-19 em países da Europa, enquanto a pandemia voltava a dar as caras na China.

O índice do dólar —que mede o desempenho da divisa em relação a uma cesta de seis rivais do mundo desenvolvido— subia 0,54%, a 90,761, a caminho da maior alta semanal em 11 semanas.

Contudo, mais uma vez, o real esteve entre as moedas com pior desempenho, em queda bastante superior à de seus pares. O peso mexicano, por exemplo, caía 0,3%, enquanto o peso chileno —terceira maior queda global nesta sessão— cedia 1,15%. O shekel israelense encabeçava as perdas, com baixa de 2,5%.

Para estrategistas do Société Générale, o dólar baterá 6 reais, com expectativa de mais deterioração fiscal num contexto de lento crescimento econômico e juros baixos.

“Além disso, (Jair) Bolsonaro perdeu capital político nas eleições municipais de novembro, e a baixa visibilidade antes das eleições no Congresso em fevereiro tem prejudicado o cenário para reformas no curto prazo”, disse o banco francês.

Um dos motivos para a pressão sobre o câmbio é o juro em patamar muito baixo, que deixa o real mais vulnerável a operações de hedge ou de financiamento para apostas em outras divisas.

De olho nisso, uma parte do mercado espera que o Banco Central retire de sua comunicação na próxima semana o forward guidance —orientação futura, segundo a qual o BC não pretende reduzir o grau de estímulo monetário desde que determinadas condições sejam satisfeitas.

O entendimento é que esse seria o primeiro passo para se vislumbrar alta de juros, o que poderia dar algum suporte ao câmbio. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nos dias 19 e 20 de janeiro para decidir sobre o rumo da Selic.

O Itaú Unibanco —que vê dólar a 4,75 reais ao fim do ano, embora admita que a moeda poderá seguir pressionada no curto prazo— antecipou sua projeção de aperto monetário para maio, com chances de ocorrer em março, e acredita que o Copom abandonará o forward guidance na próxima semana.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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