O cacique Raoni Metuktire, de 90 anos, líder do povo Kayapó, participou do 1º Acampamento Terra Livre (ATL), em Cuiabá, nesta quinta-feira (13), discursou em defesa das florestas do estado e citou os problemas ambientais que os povos indígenas podem enfrentar caso o desmatamento continue. O evento começou na segunda-feira (10) e tem representantes de 23 etnias de Mato Grosso.
Lideranças indígenas vieram para capital em defesa dos seus direitos. Saúde, educação, território e sustentabilidade estão entre as pautas reivindicadas.
Segundo Raoni, os povos indígenas têm o direito de defender a terra, já que o território era habitado por eles antes da chegada dos portugueses ao Brasil.
"Nós temos o direito de defender o nosso território e tem que entender que o território é nosso e por isso nós temos o direto de defender. O meu pai e meu avô me ensinaram que não tinha nenhum homem branco aqui, que só tinha indígenas", disse.
Durante o discurso, o cacique citou que os povos indígenas não concordam com o desmatamento e a degradação das florestas, além dos garimpos.
"Quero dizer que não vamos concordar com a construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCH) em terra indígena. Não vou concordar com o trabalho dos garimpeiros e madeireiros em terra indígena. O desmatamento é problema. A floresta ameniza a temperatura para a gente sobreviver, se derrubar tudo, pode haver problemas maiores, pode ter mais inundação e problemas ambientais. Nós vamos ter problema se continuar assim", disse.
Após o discurso, Raoni seguiu ao Palácio Paiaguás para conversar com o governador Mauro Mendes (União).
Acampamento Terra Livre
No mês de abril, em que é comemorado o Dia dos Povos Indígenas, aproximadamente 300 pessoas, de diferentes povos de Mato Grosso, saíram de suas aldeias e montaram acampamento no monumento Ulysses Guimarães para participar do evento.
De diferentes regiões do estado, cada comunidade no local tem uma pauta que é prioridade. Para o povo Rikbaktsa é o arquivamento do processo de licenciamento da Usina Hidrelétrica Castanheira.
Lideranças das Terras Indígenas Japuíra, Escondido e Erikpatsa, localizadas na região noroeste de Mato Grosso, entregaram ao secretário executivo da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), Alex Marega, uma carta em que pedem o fim do processo.
Segundo as lideranças, o empreendimento irá afetar, além dos Rikbaktsa, os Apiaká, Kayabi, Munduruku e Tapayuna, indígenas isolados e outras populações rurais e urbanas dos municípios de Juara, Novo Horizonte e Porto dos Gaúchos.
Para as lideranças, o governo não pode ignorar as mudanças que a usina irá causar, como a alteração da vazão do rio, que consequentemente trará impactos na alimentação tradicional das populações indígenas e na dinâmica cultural dos povos.
Já o povo Boe-Bororo da Terra Indígena Tereza Cristina, na região de Santo Antônio do Leverger, defende a garantia de atividades sustentáveis no território. Segundo o vice-cacique da Aldeia Gomes Carneiro, Ronaldo Kogue, muitos jovens de sua comunidade estão saindo do território em busca de emprego.
“Dentro da comunidade quase não tem emprego. O desenvolvimento da agricultura familiar ainda é pequena, falta apoio e nem todos praticam, é a minoria. E os jovens têm saído muito em busca de emprego”, informou.