Zoonoses são diversas doenças infecciosas que os animais, como cães, gatos, gambás, pombos e morcegos entre outros, podem transmitir para os seres humanos. Em Cuiabá, a Unidade de Vigilância de Zoonose busca ficar atenta aos sinais e cenários de riscos para a proliferação dessas doenças. Conforme Moema Blatt, gestora do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde, o foco do trabalho atualmente é contra a raiva e a leishmaniose visceral.
"A unidade de vigilância de zoonoses deve estar atenta para realizar um trabalho articulado e tentar resolver ou minimizar os danos causados. A gente trabalha com o ponto de vista de evitar que as zoonoses cheguem ao homem", informa Moema Blatt.
Ela explica que a doença raiva é prioridade no Brasil todo, mas o cão não é mais o principal transmissor, mas sim o morcego. "Ela é prioridade, pois não tem cura e pode ser prevenida com vacinas e tratável quando ocorre a agressão, como a mordida".
Todo animal recolhido pela unidade é submetido a uma bateria de exames e eles ficam em observação por dez dias em um canil, sem acesso ao público externo e em um espaço específico, pois animais com raiva, por exemplo, tendem a se mutilar.
Blatt explica que muitas pessoas acreditam que os centros de zoonoses são lugares repletos de pessoas que gostam de realizar a eutanásia em cães, mas ela esclarece que não é mais um procedimento recomendado pelo Ministério da Saúde. "Caso o dono o deseja, é um procedimento consentido e é assinado um documento. É um direito a ser atendido. A eutanásia também é permitida quando o animal está em extremo sofrimento, em situação terminal da doença", observa Moema.
A coordenadora ainda esclarece que se um animal não tiver qualquer doença que seja zoonose, não cabe o trabalho a unidade de vigilância.
Moema observa que existem casos em que animais atropelados e que sobreviveram são recolhidos pela equipe, pois eles podem ter algum problema neurológico que o fez sair desorientado pelas ruas e que é um sintoma da raiva. "O animal atropelado que está vivo é um objeto de vigilância da zoonose pela possibilidade dele ser portador da raiva, somente nesse caso", reiterou.
Animais de rua ficam dez dias em observação lá na unidade, não podem ser retirados do local. Os que têm casa recebem visitas domiciliar para avaliar a evolução do animal até o décimo dia. "Em alguns casos a equipe entende que esse animal teve motivos para morder. Às vezes é uma fêmea com filhote, um animal se alimentando ou que foi instigado por uma criança, por exemplo".
Raiva
Uma pessoa comum pode desconfiar da raiva quando o animal começa a presentar um comportamento de sair caminhando e andar quilômetros. A leishmaniose visceral costuma ser identificada em um quadro avançado e um cachorro, por exemplo, pode apresentar um emagrecimento progressivo, unhas muito grandes, machucados pela pele e outros sintomas.
Caso a pessoa desconfie, não só dos que estão nas ruas, o animal doméstico também, pode ligar na Unidade de Vigilância de Zoonoses (65) 3617-1680 e tomar orientações e providências necessárias.
Leshmaniose visceral
Moema esclarece que a leishmaniose visceral é transmitida por um mosquito, que diferente do aedes aegypti que se reproduz em água, esse vetor se reproduz em matérias em decomposição, como folhas que caem no chão e vão se decompondo.
Ele é mais comum em regiões com mata. "A cidade foi crescendo e invadindo as matas, aquela fauna acaba ficando perto da gente. Grandes prédios da cidade foram construídos dentro de uma área de conservação, é natural que o vetor da leishmaniose vai se alimentar do sangue de pessoas e cães ali", contou Moema.
A coordenadora ainda esclarece que animais de estimação vacinados, vermifugados, bem cuidados e bem alimentados, podem ter a doença, mas não significa que vão morrer. As doenças citadas tem tratamento, porém não são oferecidos pelas zoonoses. Nesses casos, o responsável pelo animal deve procurar o tratamento em um veterinário.
Denuncias à Zoonose
O número (65) 3617-1680 é onde a população pode se informar, tomar orientações e providências necessárias com o Centro de Zoonoses. Muitas pessoas denunciam cachorros que tem dono e a equipe de vigilância não pode simplesmente levar o cão. Existe um diálogo, caso o dono não deixe o animal ser recolhido, e é feita uma abordagem explicando a situação e pedindo para que sejam feitos os devidos exames e um acompanhamento.
Quanto aos animais atropelados, apenas os que sobreviveram e estão machucados são de responsabilidade da zoonose. “As pessoas entendem que a unidade é tudo que é coisa de bicho e tem que vir para cá por causa da suspeita da raiva. As vezes esta atropelado, morte, fedendo, em decomposição e isso é um resíduo biológico. Existe uma empresa que faz a coleta”, explicou Moema.
“As pessoas às vezes pega, acha bonitinho, depois vê que ele suja e come chinelo. Eles são danados. Ai depois disso os largam por ai e simplesmente abandonam os seus animais. As pessoas devem ter consciência do que é ter um animal. Se tem um animal, castra ele. Existem locais que realizam castrações populares”.