Em entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta foi perguntado se o presidente Jair Bolsonaro mereceria alguma punição legal por uma suposta negligência no enfrentamento da pandemia da covid-19 no Brasil.
Mandetta disse que é essa é uma questão política e afirmou que o “tempo” é o que revela para as pessoas que tipo de líderes elas têm.
“Quem vai dar a verdade para as pessoas é o tempo, são os livros, é o testemunho. Quem vai escrever essa página é a ciência, é a pesquisa. O que eu tenho a dizer é que eu estava lá, eu vi, eu alertei”, disse o ex-ministro, que saiu do governo após divergências com o presidente quanto à forma com que a pandemia deveria ser combatida.
A resposta de Mandetta foi dada em meio a uma analogia como um guerra.
“Vamos dizer que tivéssemos uma guerra instalada, contra a Venezuela, num cenário imaginário. E vamos supor que o presidente resolvesse mandar 50 mil soldados sem nenhum tipo de arma, mesmo tendo sido alertado pelo comando do Exército. Depois o tempo passa, as pessoas vão morrendo, e as pessoas vão achando que aquilo é normal. Aquilo só acaba com a leitura da verdade, com o tempo.”
Apesar de ter se esquivado de indicar algum suposto crime que o presidente pode ter cometido ao estimular aglomerações, contrariando recomendações internacionais de enfrentamento ao coronavírus, Mandetta afirmou que houve negligência.
O ex-ministro, que contou em seu livro Um paciente chamado Brasil: Os bastidores da luta contra o coronavírus como foram os primeiros meses da pandemia, também criticou o comportamento do ministro da Economia, Paulo Guedes.
De acordo com Mandetta, o diálogo com a pasta da Economia era difícil, o que impedia a criação de uma política coesa dentro do governo para conciliar aspectos sociais, de saúde e econômicos.
Mandetta e Bolsonaro tiveram divergência quanto a uma suposta dicotomia entre proteger a economia e manter o isolamento social, medida recomendada como principal forma de combater o novo coronavírus.
Cloroquina
Na entrevista, o ex-ministro também disse acreditar que o presidente Jair Bolsonaro se tornou um defensor do remédio cloroquina e hidroxicloroquina como uma forma de se espelhar no presidente americano Donald Trump.
“Depois do encontro deles na Flórida, quando o Trump já falava em cloroquina, veio uma coisa meio ensaiada. Me pareceu uma coisa do tipo de que tinha que dar uma solução para as pessoas voltarem a trabalhar, com um remedinho que resolve, e escolheram um inimigo externo, que era a China.”
Nesta segunda-feira, o Brasil chegou a 150.709 mortes e 5.102.603 casos confirmados de covid-19. De acordo com o balanço do Ministério da Saúde, o País tem 4.495.269 recuperados da doença, enquanto outros 457.450 seguem em acompanhamento médico.