A expansão da Ferrovia Senador Vicente Vuolo (antiga Ferronorte), para ligar Rondonópolis a Cuiabá, recebeu sinalização positiva e a intenção de que os trilhos subam para o norte, e facilitem o escoamento da produção do Estado, que é o maior produtor de grãos do País avança. Mas, para a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), a expansão da ferrovia só até Cuiabá não irá resolver nada para os produtores.
Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo de movimento Pró-Logística da associação, explicou ao Circuito Mato Grosso que quanto mais ferrovia tiver no Estado, melhor, porém o modal precisa se estender até Lucas do Rio Verde, a 282 km de Cuiabá.
“Teria que se estender até Lucas do Rio Verde, porque lá teríamos um grande entroncamento ferroviário. Lá viabilizamos a Ferrovia Centro-Oeste, que vai de Campi Norte (norte/sul) até Lucas do Rio Verde, tem a Ferrogrão que vai ligar na primeira etapa Lucas do Rio Verde a Miritituba e a segunda etapa até Sinop. No futuro, haverá um grande entroncamento ferroviário que permitiria você levar a carga para o Norte, para Santos, para o Maranhão e Nordeste”, pontuou.
Com essa expansão, a ferrovia traria emprego, trabalhadores e os municípios próximos, como Nova Mutum, Sorriso, Ipiranga seriam beneficiados pela proximidade da linha ferroviária. “Os anéis ferroviários não são dentro da cidade, são fora da cidade, como é o caso de Rondonópolis. Somente levar a ferrovia até a capital eu não vejo grandes vantagens”, afirmou Edeon.
A sinalização positiva só aconteceu no terceiro encontro neste ano entre o governador Pedro Taques e o grupo Cossan. Atualmente, a malha ferroviária brasileira, transporta cerca de 30 milhões toneladas de produção, 14 milhões só em Mato Grosso. Com o projeto de modernização e expansão da malha, a meta é chegar a 75 milhões de toneladas transportadas, sendo que o Estado seria responsável por 25 milhões.
O terminal intermodal de cargas de Rondonópolis foi inaugurado em setembro de 2013. Existem outros três terminais: Alto Taquari, Alto Araguaia e Itiquira. Esta é a única ferrovia de Mato Grosso.
Segundo o Fórum Pró-Ferrovia, pelo primeiro estudo realizado, financiado pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) e Governo Federal, realizado pela Universidade de Santa Catarina, o investimento para a expansão do modal gira em torno de R$ 2,5 bilhões para trazer 280 km de ferrovia de Rondonópolis a Capital.
O Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) Blairo Maggi, em uma visita a Cuiabá disse ao Circuito Mato Grosso que desconhece a nova sinalização, pois não teve acesso aos estudos ainda.
“Eu não tive acesso ainda aos estudos, mas quanto mais você interiorizar as ferrovias, melhor. Quem que vai querer ser contra isso?”, analisou.
Transportando Desenvolvimento
Para o presidente do Fórum pró-ferrovia em Cuiabá, Francisco Vuolo, a expansão até Cuiabá é viável, necessária e importante não só para o desenvolvimento da Capital, mas de toda a baixada cuiabana. “Além de garantir a atração de indústrias, fomentar o movimento econômico maior para as regiões, também vai permitir a chamada carga de retorno”.
Segundo ele, a partir do momento em que a ferrovia chegar até Cuiabá, o maior centro consumidor e distribuidor, o Estado passa a receber produtos industrializados, com valores agregados, e não só ser exportador de grãos, mas receber esses produtos que não chegam em número maior em função dessa falta de ferrovia.
“A ferrovia já cumpre um papel muito importante dentro de Mato Grosso. Essa articulação que
o Governo está fazendo é muito importante”. A expectativa é de que sejam incrementados de 5 a 6 milhões no volume de carga importados com a chegada da Ferrovia. Outro ponto positivo pontuado por Vuolo é a oportunidade de novos investidores.
“Não ficará exclusivamente na mão da atual concessionária, por exemplo, o terminal ferroviário passara a ter a possibilidade de ter investidores da região participando dos investimentos e obviamente também serão beneficiados inclusive podendo baratear o custo de frete”, contou.
Além da exportação de grãos, o Fórum acredita que poderão ser exportados outros produtos da cadeia produtiva como, por exemplo, as hortifrutigranjeiras, piscicultura e outros produtos da baixada cuiabana. “Muitos produtos estariam sendo viabilizados a partir do momento que você tem uma estrutura como o modal ferroviário. Eu sempre digo que o maior produto que a Ferrovia tem que transportar é o desenvolvimento e é isso que nós queremos para o Estado de Mato Grosso”, finaliza Vuolo.
Reunião com o Governo Federal
Em agosto, o governador Pedro Taques (PSDB) esteve reunido, em Brasília, com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o diretor-geral da Agência Nacional dos Transportes Terrestres, Jorge Bastos, e pediu novos investimentos em ferrovias e rodovias para Mato Grosso.
Durante a reunião, duas obras foram tomadas como foco: primeiro, o pedido para início dos estudos e modelagem da Ferrovia de Integração Centro-Oeste, que parte do trecho da Ferrovia Norte Sul, em Anápolis (GO), chegando a Lucas do Rio Verde (MT). E da construção de 600 quilômetros da Ferronorte, no trecho entre Rondonópolis e Sorriso.
A Ferrovia Centro-Oeste tem mais de 900 quilômetros em território mato-grossense. O projeto faz parte de um protocolo de intenções assinado entre Brasil e China no início do ano, cujos estudos técnicos já estão em andamento.
Com recursos aprovados na ordem de R$ 15 bilhões para investir no Brasil, o Governo chinês pretende investir na área de infraestrutura em Mato Grosso, maior exportador de produtos agropecuários àquele país. A contrapartida brasileira está prevista em R$ 5 bilhões.
“Essas duas malhas ferroviárias são essenciais para o escoamento da safra mato-grossense, que é a maior do País e um dos principais fatores que mantêm a economia nacional. Sendo assim, esperamos contar com o apoio do Governo Federal para melhorar nossa infraestrutura”, acrescentou Pedro Taques.
Confira detalhes da reportagem na edição 611 do impresso Circuito Mato Grosso