Os produtores rurais de Mato Grosso negociaram seus insumos para a safra 2016/17 com o dólar a US$ 3,66, em média. Hoje, a moeda norte-americana está em torno de US$ 3,19, ou seja: as compras foram feitas com um valor mais alto do que as sacas de soja estarão sendo comercializadas atualmente. Este foi o cenário apresentado por Daniel Latorraca, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
“O produtor planejou a safra em um cenário instável e a realidade está sendo desafiadora. Há riscos porque ainda há muito a ser comercializado”, afirmou Latorraca. De acordo com o Imea, apenas 27% da safra foram comercializados até o momento. O custo de produção está em US$ 920,00 por hectare, o que leva o agricultor à necessidade de produzir 53 sacas por hectare, no mínimo, para estar na faixa limite.
“Não podemos arriscar, nem errar. O produtor precisa ter atenção na implantação da lavoura para garantir boa produtividade”, alertou Endrigo Dalcin, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja). Ele também salientou que não há muita disponibilidade de sementes e, por isso, é preciso evitar plantar “no seco” e perder a lavoura. “Essa é a nossa safra mais importante. A segunda safra é consequência desta”, destacou Endrigo.
O presidente da Aprosoja também aproveitou a presença do ministro interino da Agricultura, Eumar Novacki, e do secretário de Política Agrícola, Neri Geller, para falar sobre a necessidade de prorrogação de custeio para alguns produtores rurais que tiveram frustração de safra de milho. “Houve quebras regionais e precisamos dar apoio a estes produtores para que a próxima safra não seja comprometida”, disse.
SEMENTES COM BAIXA QUALIDADE
Outro problema é a má qualidade das sementes ofertadas pelas empresas. Até o momento calcula-se atraso de 30 a 40% na entrega de sementes. As sementeiras estão cancelando compromissos diante da baixa qualidade devido às quebras trazidas pela estiagem na safra passada. Poucas plantadoras foram vistas ontem no eixo da BR-163, apesar das chuvas nesta semana. Já há regiões entre Nova Mutum e Sinop (área de 3 milhões de hectares) com mais de 100 mm de chuvas acumuladas. Domingo passado e na madrugada de sexta-feira foram os dias mais chuvosos no nortão do MT.
2016, ANO PARA SE ESQUECER
A falta de chuvas — problema recorrente em diversas regiões do Brasil — foi mais agudo no norte e leste de Mato Grosso neste ano de 2016. A produção de milho 2ª safra foi a pior em cinco anos, causando prejuízos e obrigando os produtores a abandonarem as lavouras. Segundo dados do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, praticamente não choveu entre abril e julho.
Alexandre Nascimento, meteorologista da Climatempo, prevê, porém, que com a chegada da primavera se espera o retorno da chuva de forma regular. No mês de outubro deverá chover perto da normalidade no norte e nordeste do MT . Em novembro a expectativa é de mais pluviosidade até mesmo além do normal.
O nordeste do estado foi a região mais afetada, registrando queda de 58,85% em comparação com a safra anterior. Levantamentos realizados pelo IMEA (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) mostram que a área semeada e não colhida foi de 177,7 mil hectares, ou seja, 4,19% da área total. A queda na produção praticamente anulou os investimentos tecnológicos feitos no campo.
Alexandre Schenkel, diretor administrativo da Aprosoja – Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso, explica que o milho precisa de muita umidade para se desenvolver, por isso o prejuízo foi tão grande. “A seca pegou um período importante da cultura e algumas lavouras nem chegaram a produzir. O maior risco é durante o pendoamento (início da fase reprodutiva) e o enchimento do grão, por volta dos 60 dias de cultura”, afirma.
Como o milho precisa de clima ameno e úmido, os produtores devem se planejar para evitar prejuízos na próxima safra. “É importante que chova entre outubro e abril, garantindo o desenvolvimento completo da planta”, conta o especialista. Outra opção é plantar diferentes culturas que dependem menos das chuvas, como o sorgo.
Um incentivo para os agricultores produzirem mais é o Desafio da Máxima Produtividade, do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB), que foi lançado durante o evento. O presidente do Cesb e diretor técnico da Aprosoja, Nery Ribas, apresentou os números dos vencedores deste ano, que chegaram a produzir até 142 sacas por hectare. “É preciso voltar a fazer agricultura, cuidar das lavouras, dos manejos corretos e, assim, conseguiremos avançar na produtividade”, afirmou.
com informações do site Notícioa Agrícolas