A produção industrial brasileira abriu o ano de 2022 com queda de 2,4% em janeiro, frente a dezembro, informou nesta quarta-feira (9) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com o resultado, a produção eliminou parte do avanço de 2,9% que havia sido registrado no mês anterior.
O indicador ficou 3,5% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Também está em nível 19,8% inferior ao recorde da série histórica, alcançado em maio de 2011.
O desempenho de janeiro veio abaixo das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam retração de 1,9%.
Na comparação com janeiro de 2021, a produção industrial teve queda de 7,2%, conforme o IBGE. Nesse recorte, analistas estimavam recuo de 6,3%.
Mesmo com a reabertura da economia, após restrições maiores para frear a Covid-19, a produção industrial passou a emitir sinais de fragilidade no país nos últimos meses.
A escassez de insumos é apontada como um problema que ainda atinge parte das fábricas. A falta de componentes está associada aos efeitos da pandemia, que desalinhou cadeias produtivas globais. O ramo automotivo está entre os mais abalados.
A produção de veículos leves e pesados fechou o primeiro bimestre no Brasil com 311,4 mil unidades produzidas, uma queda de 21,7% na comparação com o mesmo período de 2021, indicou na terça-feira (8) a Anfavea (associação das montadoras).
O resultado refletiu uma combinação de fatores: o efeito da variante ômicron nas linhas de produção, as férias coletivas de janeiro, o fornecimento irregular de peças e a desaceleração das vendas no início de ano.
Para complicar o quadro da indústria como um todo, a escassez de insumos tem sido acompanhada pelo aumento de preços. Em janeiro, a inflação industrial foi de 1,18%, de acordo com o IPP (Índice de Preços ao Produtor).
O índice também é calculado pelo IBGE. Em 12 meses, a alta do IPP foi de 25,51%. O indicador mede a variação dos preços na porta de entrada das fábricas, sem o efeito de impostos e fretes.
JUROS MAIS ALTOS E GUERRA
Outro desafio para o setor em 2022 é o aumento dos juros, apontam analistas. Para tentar conter a inflação, o BC (Banco Central) vem elevando a Selic, que voltou ao patamar de dois dígitos.
A taxa básica de juros em nível mais alto encarece o custo dos empréstimos no país, o que dificulta investimentos de setores produtivos.
Neste início de ano, o cenário macroeconômico ganhou um entrave a mais com a guerra entre Rússia e Ucrânia. A tensão relacionada ao conflito no Leste Europeu fez as cotações de commodities agrícolas e do petróleo dispararem no mercado internacional.
A situação, segundo analistas, pode afetar tanto os preços de insumos quanto os custos logísticos no setor industrial, antes impactados pela pandemia.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, já reagiu ao embargo dos Estados Unidos ao petróleo e ao gás natural de seu país, anunciando que vai proibir ou limitar o comércio de matérias-primas russas até o fim deste ano.