Em entrevista exclusiva à EXAME, o presidente dos Correios, Floriano Peixoto, comenta a percepção da população em relação à greve dos trabalhadores da companhia, que já dura três semanas, e o resultado da pesquisa Exame/IDEIA sobre a privatização da estatal. O levamento é fruto de um projeto que une Exame Research, braço de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. A pesquisa mostra que 40% dos brasileiros apoiam a desestatização dos Correios, enquanto a maioria se diz contrária à venda da Petrobras e da Caixa Econômica. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista.
A última pesquisa Exame/IDEIA mostra que uma boa parcela dos brasileiros é favorável à privatização dos Correios. A que se deve esse fato?
Ao longo de anos, a empresa foi prejudicada por sucessivas gestões incapazes de conduzi-la de maneira adequada. Isso, somado às sucessivas greves, trouxe impactos negativos em vários aspectos para os Correios. O principal deles se refere à saúde financeira e à capacidade de investimentos da empresa, o que a impossibilitou acompanhar com a devida agilidade as transformações do mercado e novas exigências dos clientes.
Isso afeta a percepção da população sobre a qualidade do serviço?
Sim, esse descompasso se reflete na percepção da sociedade quanto à eficiência dos Correios, sendo esse quadro agravado, ainda, pela entrada de novos players no mercado de encomendas. A atual gestão, alinhada ao Ministério das Comunicações e ao Ministério da Economia, trabalha com transparência e busca aplicar as melhores práticas de administração e governança na estatal. Seu objetivo é acelerar o processo de recuperação da empresa e restabelecer seu equilíbrio financeiro.
Fatores como greves (a última já dura três semanas) também interferem na opinião dos brasileiros sobre o serviço prestado pelos Correios?
A adesão à greve é baixa, pois a maior parte dos empregados compreende a gravidade da situação da empresa e do país. Entretanto, ainda que modesta, qualquer paralisação prejudica a percepção da população em relação à empresa. Essa situação dificulta o processo de recuperação dos Correios, prejudicando, ainda, as entregas de insumos básicos de saúde que são indispensáveis nesse momento de pandemia. Soma-se a esse quadro a considerável defasagem no contingente da empresa, pois há um grande número de empregados em isolamento desde março, quando a medida foi adotada para protegê-los. Com efeito, há uma sobrecarga ainda maior sobre aqueles que não aderiram à greve.
A empresa também enfrenta dificuldades econômicas?
É importante lembrar que, assim como suas equivalentes em outros países, a empresa enfrenta a queda da receita referente às mensagens e correspondências. Com a paralisação, perde também uma parcela dos ganhos com encomendas, uma vez que clientes e empresas, por receio de atrasos, optam por outras empresas de entrega.
Como a estatal se posiciona em relação à hipótese de privatização da companhia?
A desestatização de qualquer empresa pública exige estudos complexos e minuciosos que abrangem várias áreas. No caso do setor postal brasileiro, esses estudos já estão em andamento no âmbito do governo federal. A partir deles serão decididas as melhores estratégias para modernizar e tornar mais competitivo e eficiente o serviço postal do Brasil.
É fato, todavia, que a transformação da cultura de consumo global aponta para a urgência da necessidade de adaptação e inovação. Nesse contexto, as amarras da legislação para empresas estatais acabam por prejudicar a competitividade necessária ao bom desempenho das atividades dos Correios. É preciso, portanto, adotar mecanismos que permitam à empresa competir em pé de igualdade com as demais, que se reinventam sempre no ritmo do mercado. Certamente os estudos em curso trarão soluções para tornar os Correios mais ágeis e, consequentemente, qualificados a prestar um melhor serviço ao cidadão.