Política

PM não pode ser responsabilizada por supostos grampos, diz comandante

Foto: Gcom-MT

Com Felipe Leonel

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Jorge Luiz Magalhães, afirmou que não se pode atribuir à instituição a culpa pela realização dos supostos grampos telefônicos em Mato Grosso.

A Polícia Militar instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a participação de membros da corporação em suposta central de interceptações telefônicas ilegais. O ex-comandante-geral da PM, coronel aposentado Zaqueu Barbosa, e o cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Ferreira Golveia Junior – alvos da investigação – estão presos desde o dia 23 de maio, por suposto envolvimento na ilegalidade.

“A instituição PM nunca fez, não faz, e não fará qualquer tipo de interceptação telefônica de forma ilegal. A nossa relação com a utilização do Sistema Guardião [software que serve para realizar as escutas] é para atividade da polícia judiciária militar. Nós utilizamos esse ramal, por meio de uma cooperação técnica com o MPE, para instruir altos de inquérito policial”, afirmou. 

Conforme Magalhães, o IPM, conduzido pelo coronel Jorge Catarino Morais Ribeiro, tem prazo de duração de 20 dias. Antes disso, segundo o coronel, é muito cedo para tirar qualquer tipo de conclusão.

“O inquérito está fluindo de uma forma tranquila e transparente. Se há uma instituição com interesse na apuração é a própria Polícia Militar. Nós esperamos que seja concluído o mais rápido possível, para que a sociedade mato-grossense possa ter ciência da verdade real”, disse.

“Como se tem um réu preso, o inquérito dura em média 20 dias. É muito prematuro fazer qualquer afirmação neste momento. Temos que aguardar a conclusão desse inquérito. As pessoas terão direito a ampla defesa e ao contraditório. Vamos esperar a conclusão para que aquelas pessoas que, realmente, cometeram qualquer tipo de conduta irregular possa ser responsabilizado à luz da legislação”, pontuou.

Zaqueu e Gerson já foram ouvidos por Jorge Catarino na última semana. O coronel responsável pela condução do IPM também já ouviu outros policiais militares, como a terceiro sargento Andréa Pereira de Moura Cardoso, que confessou que uma sala, localizada na Rua Desembargador Ferreira Mendes, nº 235, na região central de Cuiabá, servia de base para atividades de interceptações telefônicas da PM.

Arapongagem em MT

A existência de suposta central clandestina de grampos telefônicos em Mato Grosso veio à tona no 11 de maio, quando o governo do Estado anunciou a exoneração do ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques. Sua saída foi anunciada como um acordo entre Paulo e seu primo, o governador Pedro Taques, para que o homem forte do Executivo deixasse o Palácio Paiaguás e cuidasse pessoalmente das investigações envolvendo a suposta “arapongagem”.

No dia 23 de maio, o juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Criminal Especializada em Crimes Militares de Cuiabá, determinou a prisão preventiva do ex-comandante-geral da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa, que teria atuado não só como mandante, mas como o responsável por manter contato pessoal com magistrados para viabilizar a quebra de sigilo telefônico ilegal em Mato Grosso.

O cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Ferreira Golveia Junior – integrante do Núcleo de Inteligência da PM e teria assinado alguns pedidos de grampos à Justiça -, também foi preso.

O caso até então investigada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), após denúncia do ex-secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), o promotor de Justiça Mauro Zaque, apontou que membros da Polícia Militar aproveitaram uma investigação relacionada ao tráfico de drogas na região de Cáceres (177 km de Cuiabá), para inserir números telefônicos de políticos adversários ao governo, médicos, advogados, jornalistas, servidores públicos e até desembargador aposentado de Mato Grosso, em um pedido de quebra de sigilo.

O requerimento para as interceptações teria sido encaminhado ao MPE, que por sua vez formalizou a solicitação à Justiça estadual. A autorização teria partido do juiz Jorge Alexandre Martins Ferreira, que não teria tido conhecimento de que nem todos os números relacionados pela PM estavam relacionados com o crime tratado no processo.

As escutas ilegais teriam começado no período das eleições de 2014, quando Silval Barbosa (PMDB) ainda era governador e Taques disputava as eleições. Em 2015, novos nomes foram incluídos nas escutas.

Segundo a denúncia, o esquema de escuta teria o envolvimento direto de pelo menos três policiais militares: os cabos Gerson Luiz Ferreira e Clayton Dorileo Rosa de Barros, e a sargento Andrea Pereira de Moura Cardoso.

Até o momento, o que se sabe é que os contatos supostamente inseridos de forma criminosa foram: a deputada Janaina Riva (PMDB); o advogado eleitoral José do Patrocínio; o jornalista José Marcondes dos Santos “Muvuca”; o atual secretário municipal de Trabalho e Desenvolvimento Humano de Cuiabá, Vinicius Hugueney (PP); o assessor do deputado Wagner Ramos (PR) Eduardo Gomes Silva Filho; o assessor especial da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) Romeu Rodrigues da Silva; a jornalista Larissa Malheiros Batista; Kely Arcanjo Ribeiro Zen, filha do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro; os servidores da Assembleia Legislativa Mario Edmundo Costa Marques e Carlinhos Bergamasco (já falecido); o desembargador aposentado José Ferreira Leite; e a gerente de Inteligência e Contra-Inteligência da Casa Militar, Claudia Rodrigues de Gusmão.

A lista de grampeados é composta, até mesmo, por uma empresária que teria tido um relacionamento amoroso com o ex-secretário-chefe da Casa Civil Paulo Taques, Tatiane Sangalli.

Leia mais:

Nome de supostas vítimas de grampos em MT continuam sob sigilo

Governador nomeia novo coronel para conduzir investigação de grampos

PM instaura inquérito para apurar policiais envolvidos em arapongagem

 

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Política

Lista de 164 entidades impedidas de assinar convênios com o governo

Incluídas no Cadastro de Entidades Privadas sem Fins Lucrativos Impedidas (Cepim), elas estão proibidas de assinar novos convênios ou termos
Política

PSDB gasta R$ 250 mil em sistema para votação

O esquema –com dados criptografados, senhas de segurança e núcleos de apoio técnico com 12 agentes espalhados pelas quatro regiões