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Pesquisadores apontam colapso nos estoques de carbono na Amazônia

Pesquisa da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) revela que o desmatamento está causando colapso nos estoques de carbono na Amazônia. As extensas áreas de floresta que estão sendo convertidas em lavouras de soja no sul da Amazônia são responsabilizadas pelo desastre iminente. A descoberta foi publicada online na revista científica Forest Ecology and Management por pesquisadores da Unemat, da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da Universidade de Leeds, do Reino Unido. A edição impressa circula no próximo dia 15.

O artigo intitulado "Collapse of ecosystem carbon stocks due to forest conversion to soybean plantations at the Amazon-Cerrado transition", em português "Colapso dos estoques ecossistêmicos de carbono devido à conversão de florestas em monoculturas na transição Amazônia-Cerrado", aponta o quão séria é a situação.

Os autores do artigo revelaram perdas totais de carbono para o cultivo de soja na Amazônia acima de 130 toneladas por hectare, além de um contínuo decréscimo no carbono do solo por mais de 30 anos. "O problema é que quase todo este carbono é lançado na atmosfera após o desmate, aumentando o efeito estufa e as mudanças climáticas", alerta o professor da Unemat, doutor em Ecologia, Ben Hur Marimon Junior, autor-correspondente do estudo e orientador da autora principal, a doutoranda em Ecologia e Conservação pela Unemat, Isabelle Bonini.

Os pesquisadores explicam que o carbono é o principal componente dos seres vivos e essencial para a fotossíntese, mas que o excesso na atmosfera se torna desastroso para o equilíbrio climático. "Grande parte do estoque de carbono está nas árvores, mas o solo pode conter até cinco vezes mais do que isso e sua liberação da forma com que registramos representa um verdadeiro colapso", revela Ben Hur.

Isabelle Bonini, que investiga os efeitos das mudanças de uso da terra sobre a pluviometria, o estoque de carbono e ciclagem de nutrientes em diferentes compartimentos de sistemas florestais e agroecossistemas na transição Amazônia-Cerrado, sugere o cultivo de seringueiras como alternativa para o colapso iminente. "A conversão de floresta em seringais seria uma opção menos impactante que a soja, já que apresenta perdas três vezes menores, com 48,5 toneladas por hectare, com a previsão de recuperação de 84% dos estoques de carbono após 30 anos de cultivo", explica Bonini.

Os pesquisadores destacam ainda que os aumentos nas emissões de dióxido de carbono (CO2) do solo após o desmate podem chegar, até 2050, a cinco gigatoneladas em toda a Amazônia, valor equivalente ao dobro das emissões anuais globais de carbono por desmatamento e 1,5 vezes mais do que todas as emissões anuais do Brasil.

O professor Marcos Pedlowski, da Universidade Estadual Norte Fluminense, PhD em Planejamento e Design Ambiental, faz algumas considerações. “As descobertas nos esclarecem sobre os intrincados processos disparados pelo desmatamento nos estoques de carbono dos solos. Como resultado desse processo de conversão de florestas em monoculturas, os autores do estudo detectaram grandes perdas na biodiversidade e a perda de importantes funções cumpridas pelos ecossistemas que estão sendo impactados pelo desmatamento. Mas mais importante ainda foram as estimativas obtidas para a emissão de carbono para a atmosfera, resultados esses que poderão aperfeiçoar a acurácia e a precisão dos modelos climáticos existentes”, avalia Pedlowski.

Os professores Oliver Phillips, da Universidade de Leeds, Eraldo Matricardi, da UnB, e Beatriz Marimon, da Unemat, também autores do artigo, apontam a situação de calamidade. "As perdas somadas de carbono da vegetação e do solo causadas pelo desmatamento na Amazônia podem piorar o atual quadro das mudanças climáticas", afirma Phillips. "O mau uso da terra pode levar a um efeito progressivo de emissões de carbono na Amazônia, com efeitos inesperados de seca ou inundações", reitera Matricardi. "Atualmente não só as perdas de biodiversidade são importantes, mas também os efeitos secundários do desmatamento, que afetam o clima não só local, mas também global", adverte Beatriz Marimon.

No intuito de reverter a situação, os pesquisadores apontam estratégias. O professor Fabiano Petter, da UFMT, câmpus Sinop, que também assina o artigo, defende as boas práticas agrícolas como alternativas mais eficazes ao desmatamento na Amazônia, especialmente a integração lavoura-pecuária (ILP). E o professor Ben Hur reitera: "Temos a convicção de que é possível mais do que dobrar a produção agropecuária da fronteira agrícola brasileira sem derrubar uma única árvore, apenas integrando parte dos mais de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas da região Centro-Oeste ao sistema ILP".

Redação

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