Cultura

Personalidades lamentam morte do poeta Manoel de Barros

A literatura perdeu nesta quinta-feira o poeta cuiabano Manoel de Barros. Escritores, cineastas, editores e personalidades lamentaram a morte do autor de 97 anos. Veja as declarações:

Pedro Cezar, diretor de "Só dez por cento é mentira" (2008), documentário sobre a vida de Manoel de Barros: "Ele foi um autor inventivo, original, experimental e atrevido até o fim da vida. Tanto o Manoel de 40 anos atrás quanto o Manoel atual estavam experimentando e inventando. Ao mesmo tempo, fez isso através de uma linguagem única. Ele também falou de sentimentos universais do homem, especialmente os mais positivos, como o amor. Você não vê em sua obra coisas sobre a inveja, o ciúme, a traição. Existe quase uma coisa religiosa sobre o que o ser humano tem de melhor. Ele falou com muita humildade sobre todos os seres vivos: as árvores, os bichos. Deu os sentimentos mais nobres para eles, e isso com muita criatividade. Ele deixa para a humanidade versos muito bonitos, e também essa vontade de originalidade no ser humano. Muita gente tem vontade de dançar quando vê o Michael Jackson, ou de jogar futebol quando assiste ao Neymar. Da mesma forma, todo mundo quer escrever quando lê Manoel de Barros. As melhores ilusões vêm quando estamos diante de alguém muito especial e inventivo. E o Manoel transmite essa boa ilusão."

Pascoal Soto, amigo pessoal de Manoel de Barros e editor da LeYa, que publicou obras do autor: "O Manoel era o maior poeta brasileiro, o mais original. Foi 100% poeta. A sua vida era a forma como ele se expressava. Ele não dava entrevista, a não ser por escrito. Fazia poesia em suas respostas. Pessoalmente, era a pessoa mais doce do mundo. Ele era um grande amigo, um grande amigo. Eu venho me preparando há muito tempo para perder o Manoel, e acho que não consegui. Estou sentindo muito. Ele vai fazer muita falta na minha vida, mas a poesia fica. Ele era um passarinho."

Marcelo Ferroni, editor do selo Alfaguara, que recentemente adquiriu a obra de Manoel:

"Manoel é um dos maiores poetas brasileiros mais marcantes de uma literatura que podemos enxergar, de certa forma, como do século passado. A produção dele é extremamente vasta. O primeiro livro, por exemplo, é de 1937. A obra dele é muito rica. É um autor que criou uma linguagem própria, com uma voz característica, muito peculiar. Muito mais do que a ideia de um autor regional, ele é um poeta brasileiro. O universo particular de Manoel é ponto de partida para uma poesia universal.

Estamos ainda muito no começo da preparação de seu projeto, conversando com especialistas, avaliando qual o projeto gráfico mais adequado. Vamos tentar adiantar o processo, avaliar a curadoria. Ele tem alguns livros fundamentais, e nossa ideia inicial é começar com os mais poderosos. Entre eles, naturalmente, o 'Livro das ignorãças' e o 'Livro sobre nada'."

Alberto Pucheu, poeta e ensaísta

De tudo do muito que Manoel de Barros realizou (de modo impressionante até seus últimos anos), fica a sua tão celebrada incompletude. É essa incompletude trabalhada com mestria em seus poemas que, agora, o lança no porvir, na sobrevivência tanto de sua poesia, afirmativamente e sempre "quase toda", quanto da entrevistas e dos infinitos documentos (como cartas, anotações etc) que ainda estão para aparecer e que ampliarão ainda mais a intensidade dessa trajetória das mais singulares da poesia brasileira.

Houve uma época em que alguns poetas e críticos apressados designaram sua poesia como ingênua. Eu nunca tive dúvidas – ingênuos eram os que diziam que sua poesia era ingênua. Não tenho dúvidas de que a força da poesia e do pensamento de Manoel de Barros não parará de crescer, bem como a tentativa crítica de pensar cada coisa e tudo o que, direta e indiretamente, ele fez.

Luis Turiba, poeta e editor da revista de poesia experimental "Bric-a-Brac": "Eu estava abrindo aqui o baú de Manoel. Já sabia que ele ia partir, mas é duro quando a notícia chega. É como aquele velho tio que você gosta muito, tinha muito carinho, respeito e tudo. Agora o poeta virou caramujo, foi embora. Mergulhou nas águas do Pantanal."

Adalberto Müller, professor de Teoria da Literatura e Cinema na UFF. Organizou o volume "Manoel de Barros: Encontros" (Ed. Azougue), contendo a prosa experimental de Manoel de Barros, criada a partir de suas entrevistas: "Fiquei muito triste com a notícia. Falei há pouco com Martha, ela me disse, "o passarinho voou". Era isso. Ele já estava preparando o voo. A poesia do Manoel me alimenta há mais de vinte anos. Ela cria no leitor uma nova forma de relação com o mundo, com o mundo que nos sustenta. É única, a poesia dele. Na última vez que o encontrei, em outubro de 2013, ele se esforçou muito para dizer três coisas: "Não posso mais escrever"; "A casa caiu em cima de mim", e a última: "Você é meu amigo, Adalberto". Ficarei sempre com essas três frases."

Fundação Manoel de Barros: "Somos mortais, mas alguns acreditam em vida após a morte, outros não. Dúvidas… Porém, acreditamos que a certeza da imortalidade está em nossas obras e dos elementos que escolhemos para escrever a nossa história. O homem Manoel de Barros foi finito como todos nós, mas o poeta e suas obras pautadas no belo sorriso, simplicidade, no amor e na criatividade, permanecerão para sempre. Gerações após gerações. Inspirada pelo poeta, a Fundação Manoel de Barros continuará encontrando o azul, superando seus limites, pelas asas da integridade, simplicidade e amor. A equipe Fundação Manoel de Barros está triste, mas continuará a honrar e divulgar as obras do poeta, pois ele continuará, e seu sorriso e seu talento jamais serão esquecidos por todos nós", Marcos Henrique Marques, Diretor Fundação Manoel de Barros.

Editora Planeta:

Manoel de Barros foi voar com seus pássaros e as suas palavras. E, como a “mãe ensinava”, temos a certeza de que ele estará em todas as partes através da eternidade dos seus poemas. Nossos profundos sentimentos à família, aos amigos e a todos os seus fãs e leitores.

O Globo

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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