Esses pássaros são nativos das florestas tropicais da ilha de Papua-Nova Guiné, mas muitos detalhes de como sobrevive essa pequena espécie ainda são um mistério para os cientistas
Gabrielle Tavares
Eles são coloridos, de aparência inofensiva e do tamanho de um gaio. No entanto, esses pássaros da Papua Nova Guiné escondem um segredo mortal: suas penas e pele carregam batracotoxina, uma substância tão tóxica que é mais letal que o cianeto, veneno usado em câmaras de gás durante a Segunda Guerra Mundial.
São os pitohui-encapuzados são nativos das florestas tropicais da ilha de Papua-Nova Guiné, mas muitos detalhes de como sobrevive essa pequena espécie ainda são um mistério para os cientistas.
O veneno do pitohui-encapuzado foi descoberto ‘por acaso’
O primeiro contato com essa ameaça foi por acaso. Em 1989, o ornitólogo Jack Dumbacher, então estudante de pós-graduação, foi arranhado por um desses animais enquanto o soltava de uma rede.
Sem querer, levou o ferimento à boca e sentiu formigamento, queimação e dormência por horas.
Os moradores locais já conheciam o risco. Chamavam essas aves de “pássaros de lixo” e só as comiam após preparos específicos.
O pitohui-encapuzado foi catalogado em 1989 – Foto: Reprodução/ND
Intrigado, Dumbacher passou a estudar o fenômeno, e em 1992, confirmou que o pitohui encapuzado carregava batracotoxina, a mesma encontrada em sapos venenosos da América Central.
Os pássaros venenos de Papua Nova Guiné
Desde então, ao menos 12 espécies de aves venenosas foram descobertas. Algumas, como a codorna europeia e o galo silvestre norte-americano, vivem fora da Nova Guiné e carregam toxinas diferentes.
Mas a maioria, incluindo outros tipos de pitohui e o ifrit de capa azul, vive exclusivamente na ilha e compartilha a mesma toxina mortal.
Apesar das descobertas, o mistério persiste: de onde vem esse veneno? A principal teoria é a alimentação, mais especificamente, o consumo de besouros do gênero Choresine.
Ainda não se sabe como o pitohui-encapuzado sobrevive ao próprio veneno – Foto: Reprodução/ND
Mas não há certeza, já que esses insetos talvez apenas acumulem a toxina de outras fontes, como plantas ou microrganismos do solo.
Pesquisa continua
Pesquisadores como Knud Jønsson e Kasun Bodawatta lideram novas expedições para entender o fenômeno. Em 2023, identificaram duas espécies inéditas de aves tóxicas, a primeira descoberta em quase 20 anos, e planejam voltar à Papua Nova Guiné até 2028.
O grupo pretende analisar os estômagos das aves e cruzar os dados com os insetos coletados nas redondezas.
“A ideia é tentar identificar possíveis presas que tenham a toxina”, disse Jønsson à National Geographic. “É como procurar uma agulha no palheiro.”
Para ampliar a análise, a equipe se aliou à química Christine Beemelmanns, da Alemanha.
Os testes iniciais mostraram que essas aves contêm seis variações da toxina, em concentrações diferentes conforme a espécie ou indivíduo.
O desafio agora é entender como esse coquetel mortal é formado e por que apenas algumas aves o carregam.
Foto Capa: Reprodução/ND
Fonte: https://ndmais.com.br