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Paróquia São João Batista enfrenta problemas estruturais

Os vitrais artísticos, descascados, já não abrigam com tanta pompa as passagens bíblicas. Muitos dos genuflexórios, proteções acolchoadas para os joelhos dos penitentes, estão rasgados e deixam escapar parte do estofado. Seus pórticos estão permeados por infiltrações severas, e as pilastras de mármore que sustentam a arcada da nave central tiveram as rachaduras preenchidas por cimento. Construída há mais de 100 anos na esquina da Avenida Celso Garcia com a Rua José Monteiro, a Paróquia São João Batista do Brás de hoje não lembra em nada a majestade de sua inauguração, em 1908, quando foi considerada uma das instalações religiosas mais importantes de seu tempo.

Com a instalação do portentoso Templo de Salomão do outro lado da rua, seus problemas transcendem o campo físico para refletir, também, a mudança no perfil religioso do brasileiro. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgados em 2012 dão conta de um aumento de 61,45% no número de evangélicos nos últimos 10 anos no país. Embora continue a abrigar maioria católica, o Brasil apresentou, no mesmo período, redução de 12,2% no número de fiéis católicos.

Com mais 16 milhões de fiéis em 10 anos, evangélicos são 22,2% dos brasileiros

Investida evangélica de proporções faraônicas, o Templo de Salomão se pretende uma homenagem à fé cristã e um "pronto-socorro para aqueles que precisam de ajuda espiritual". Oficialmente, a Igreja Universal do Reino de Deus, sua idealizadora e mentora, trabalha para que o local se torne um ponto turístico. Nesse sentido, nenhum esforço tem sido poupado: são 100 mil metros quadrados de área construída e sustentada por colunas de quase 60 metros de altura cobertas por Taltishe, pedras israelenses que também revestem o Muro das Lamentações. 

Enquanto isso, o terreno da Paróquia ocupa exatamente um décimo do lote do Templo de Salomão e suas celebrações eucarísticas, que acontecem de acordo com a demanda da comunidade, se resumem a uma média de uma missa diária. O órgão de tubos, alemão, à época um dos maiores da cidade e do Brasil, hoje jaz empoeirado em uma das torres da igreja, que se vale de instrumentos menos solenes, como pandeiro e violão, para acompanhar a liturgia. Segundo o padre Marcelo Monge, responsável pela Paróquia, este expediente vem de antes da construção do templo evangélico. “O Brás tem perdido moradores na mesma medida em que tem ganhado caráter comercial”, compara. “Antes, em sua origem, era um bairro de imigrantes italianos de grande frequência religiosa. Agora, são poucos, mas fiéis membros da comunidade os que vivenciam a Paróquia.”

Há seis meses, ela enfrenta uma obra de manutenção que promete remediar os problemas estrututais mais visíveis. Como sete anos se passaram desde a última intervenção, há bastante a se fazer com os R$ 200 mil do orçamento. O dinheiro vem da Igreja e da doação de fiéis, ainda que estes tenham escasseado no bairro.

Este modelo baseado em doações também foi aplicado ao Templo de Salomão e rendeu inclusive certificados de contribuição. Trata-se de uma constante na doutrina evangélica, que lida com o dízimo com uma rigidez inexistente na maior parte das igrejas católicas. Muitos atribuem essa imposição da Igreja Universal a sua crescente rede de espaços religiosos: só no Brasil, são 6 500 endereços; mais de 1 000 estão no Estado de São Paulo. Procurada pela reportagem do iG, a Igreja Universal disse que apenas atenderá a imprensa em coletiva na próxima semana.

O Brás é, historicamente, palco de marcos importantes para o cristianismo. A própria São João Batista foi a primeira paróquia erigida canonicamente quando a Diocese foi alçada a Arquidiocese de São Paulo, em 1908, graças a numerosa população da capital. A Congregação Cristã no Brasil, primeira designação pentecostal instalada no país, tem sua igreja central estabelecida no mesmo bairro. 

Na tarde da última terça-feira (15), apenas dois fiéis pontuavam os 56 bancos de madeira da São João Batista, que comporta sentados cerca de 500 pessoas. Ainda que lotada, sua nave abrigaria apenas 5% da capacidade da construção vizinha: a partir do dia 31, no Templo de Salomão poderão se acomodar, sentadas, 10 mil pessoas. 

Fonte: iG

Redação

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