Mesmo sob pressão da base aliada para aumentar ainda mais o rombo no Orçamento, o presidente Michel Temer adotou metas fiscais de R$ 159 bilhões para 2017 e 2018 para não se indispor com o mercado financeiro, considerado o principal fiador de sua continuidade no cargo.
O Palácio do Planalto chegou a considerar a adoção de um patamar de R$ 177 bilhões, o que era reivindicado por parlamentares governistas para a inclusão de projetos e emendas, mas o receio de uma reação de empresários e investidores levou o presidente a recuar.
A indefinição sobre o valor fez, inclusive, o anúncio ser adiado duas vezes. A equipe econômica chegou a marcar uma entrevista à imprensa para esta quarta-feira (16), mas o presidente pediu para antecipá-la.
O objetivo foi encerrar as especulações de que poderia ceder à pressão política e encurtar a repercussão negativa da medida, que tem dominado o noticiário econômico e desgastado a imagem do presidente.
Para evitar passar a impressão de que a meta foi ampliada para poder gastar mais, o peemedebista construiu um discurso que será reproduzido por ele nesta quarta em encontro do banco Santander, na capital paulista.
Ele afirmará que foi necessário alterar a previsão de deficit porque houve uma frustração da expectativa de arrecadação, e não para agradar a base aliada com o objetivo de aprovar a reforma previdenciária.
Um dos principais auxiliares do presidente, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral) ecoou esse discurso e disse que o governo está "cortando na carne, sem ter medo da verdade".
"Não vamos seguir a política de cortar na carne dos outros. Com a revisão das metas mostramos que não há enganação, há transparência", afirmou Moreira à Folha.
Segundo assessores do ministro Henrique Meirelles (Fazenda), investidores e empresários deixaram claro que aceitariam uma mudança das metas na ordem de, no máximo, R$ 20 bilhões neste ano e R$ 30 bilhões no ano que vem. Dessa forma, sinalizou o mercado, o governo não perderia credibilidade, mostrando que manteve o esforço do ajuste fiscal.
No final de semana, o PSDB manifestou ao presidente incômodo sobre o aumento do deficit público.
A queda de braço entre as equipes política, que desejava um rombo maior, e a econômica, que queria chegar, no máximo, até R$ 159 bilhões, vai ter reflexo no Congresso, que se recusou a aprovar qualquer aumento de impostos e, agora, precisa garantir a aprovação de outras medidas de receitas extraordinárias para que o governo feche as contas.
Integrantes da base aliada a Temer avaliam que o governo cada vez mais fraco resulta em um Congresso cada vez mais forte, com poder de barganha para aprovar medidas consideradas impopulares, como a reforma da Previdência, considerada vital pelo governo para mostrar estabilidade na economia.
Parlamentares aliados ao presidente afirmam que ele gastou todo o capital político –liberação de cargos e emendas– para salvar a própria pele na votação que barrou o prosseguimento da denúncia contra ele na Câmara e que hoje tem muito menos força ao pedir apoio para projetos considerados impopulares às vésperas de um ano eleitoral.