Uma onça negra esculpida pelo artista plástico português Francisco Charneca virou atração para moradores do bairro Duque de Caxias, frequentadores da Casa do Parque e do Parque Mãe Bonifácia, em Cuiabá (MT). A onça fica na calçada e pode ser contemplada e tocada pelos transeuntes da Rua Severino de Queiroz, no bairro Duque de Caxias.
A obra marca a passagem de Charneca em 2019 pela Casa do Parque com a exposição “Francisco Charneca – 50 Anos de Exposições” e que teve como temática princial a Wildlife Art – Arte da vida selvagem. Foram 30 dias esculpindo a onça negra criada com modelagem sobre cimento e ferro policromado (várias cores).
Esta é a primeira vez que Charneca esculpe uma onça. “Fiz uma onça negra por que a onça negra sempre teve uma mística diferente em relação à onça pintada. Ela é uma espécie de melanismo das onças pintadas, pois em um parto podem nascer onças pintadas e onças negras, e muita gente pensa que são duas espécies diferentes, mas não são”.
Charneca conta que a vontade de fazer uma onça negra, em tamanho natural e deitada era um projeto antigo. “Eu havia pensado em fazer para um amigo, que é colecionador de trabalhos feitos por mim, nós chegamos a conversar sobre o assunto, mas acabou não surgindo oportunidade. E este ano, com a exposição que fez na Casa do Parque, e vendo que a Flávia Salem tem um encanto por onças, resolvi fazer a onça pra ela”.
Flávia Salem é a idealizadora da Casa do Parque, um bistrô charmoso, com programação musical envolvente e cardápio refinado e tem espaço reservado para o mundo das artes. O saudoso artista plástico João Sebastião deixou de lembrança uma onça pintada no vidro da porta principal. E Charneca completa o cenário com a onça negra, batizada por Flávia de Sibila.
Ela explica que Sibilas são um grupo de personagens da mitologia greco-romana, descritas como sendo mulheres que possuem poderes proféticos sob inspiração de Apolo. “A sibila é uma bruxa, uma feiticeira, a nova guardiã da Casa do Parque”, define Flávia Salem, encantada com a obra de Charneca.
O local onde a escultura seria colocada foi definida desde o inicio. “Quando eu propus fazer a onça, eu já imaginei naquele local. É claro que a Flávia tem a opção de deixar na própria Casa, no pátio interno ou na sala de exposições. Mas devido o material que foi usado para confeccioná-la, é uma peça que é propícia a se localizar em um espaço público e tornar-se um atrativo”.
E foi o que aconteceu. As pessoas que veem a onça logo param para fotografá-la ou fazer selfies, ou ainda serem fotografadas sentadas sobre a escultura. “Desde o inicio imaginei que poderia ser um ponto em que as pessoas pudessem tirar fotos, que as crianças pudessem tocar, pois não é a primeira vez que isso acontece com obras minhas”.
Francisco Charneca lembra que fez um touro bravo para um restaurante de Portugal, desses que participam de touradas. “E é seguramente a obra mais fotografada, porque todos do restaurante vão à obra para tirar fotos, e as pessoas vão ao restaurante com a curiosidade de ver a escultura”.
A onça
A onça, como animal do topo da cadeia trófica, explica Francisco Charneca, causa no homem sempre um sentimento de fascínio, misturado com temor, por ser um animal que pode causar mortes. “Assim sendo, a onça, assim como todos os felinos, pelo risco que traz a sobrevivência humana, se tornou um símbolo de poder. E por isso o homem tenta dominar a onça, muitas vezes abatendo-a”.
Efetivamente, completa o artista, que há anos mora em Cuiabá, a onça é um animal que sofre um risco de compartilhar o mesmo ambiente que os seres humanos, e isso ser muitas vezes incompatível com a sobrevivência de ambos de uma forma equilibrada.
Charneca conta que já teve a oportunidade de brincar com uma onça negra em uma fazenda no norte de Mato Grosso, uma onça que foi criada pelo pessoal da propriedade, era um animal jovem, e bem grande. “E foi ai que eu percebi que a onça negra não era negra. Ela tinha parte negra, que são as pintas e parte de um negro menos intenso. Então o primeiro contato foi com essa onça que foi criada em liberdade, e posteriormente foi levada pelo Ibama, em Brasília”, completa.