Economia

Odebrecht abala economia e estabilidade do Peru

A construtora brasileira Odebrecht e seu elaborado esquema de corrupção em nível internacional podem fazer uma nova vítima: a sólida economia do Peru.

A gigante brasileira, uma peça importante na mega-investigação da “Lava Jato”, admite ter feito pagamentos indevidos a vários funcionários e políticos na América Latina para ganhar licitações públicas.

No Peru, reconhece que desembolsou 29 milhões de dólares entre 2005-2014 para assumir contratos. Mas a Odebrecht afirma que não agiu sozinha.

Segundo uma denúncia jornalística, o ex-representante da Odebrecht no Peru, Jorge Barata, apontou o envolvimento de um dos maiores grupos econômicos do Peru: Graña y Montero, a construtora mais importante, com a qual participou de um consórcio da estrada interoceânica.

Em um documento em poder da justiça, divulgado na última edição do semanário Hildebrandt en sus Trece, Barata afirma que o grupo Graña y Montero estava ciente do pagamento de um suborno de 20 milhões de dólares ao ex-presidente Alejandro Toledo, para ganhar a obra. O ex-presidente é procurado pela justiça.

A acusação derrubou o valor acionário da empresa peruana em 60%, tanto na Bolsa de Valores de Lima quanto em seus títulos ADR na Bolsa de Nova York.

Preocupação geral

“A Graña y Montero, que valia 1,1 bilhão de dólares há três meses, agora vale 440 milhões de dólares”, disse à imprensa o gerente-geral da corretora Kallpa, Alberto Arispe, à rádio RPP.

Administradoras de Fundos de Pensões no Peru têm investidos 1,5 bilhão de soles (450 milhões de dólares) em papéis da empresa, e embora isso signifique cerca de 1% do total dos capitais que administram, pedem que as autoridades tomem medidas.

Enquanto isso, o The Rosen Law Firm, com sede nos Estados Unidos, é um dos escritórios de advogacia que investiga possíveis demandas de investidores do Graña y Montero que poderiam ter sido prejudicados por esta queda.

A Graña y Montero, que diz controlar 23 filiais na América Latina, negou a acusação em um comunicado, e disse que nunca soube de pagamentos irregulares.

O Peru, uma economia robusta com fortes motores em mineração, pesca e agricultura, está há mais de sete anos em um crescimento ininterrupto.

Expandiu-se 3,9% em 2016, mas o governo precisou reduzir suas expectativas de expansão para 2017 a 3,8% pelos efeitos da Odebrecht, que opera no país desde 1979 e participa de importantes projetos de infraestrutura.

Precisamente, a categoria da construção é uma das de menor desempenho. Contraiu-se 3,15% em 2016 e precisava de um empurrão que, por enquanto, parece não acontecer. O governo prepara um pacote de medidas para estimular a economia.

As denúncias e efeitos

“Os investimentos são necessários para continuar com nosso desenvolvimento. Temos que receber investimento estrangeiro e, se formos um país que é encarado como instável politicamente, teremos dificuldades para convocar investidores internacionais”, disse na segunda-feira o presidente da Câmara de Comércio de Lima (CCL), Mario Mongilardi.

Recentemente, o governo peruano rescindiu a concessão para a construção de um gasoduto avaliado em 7 bilhões de dólares que havia sido dada a um consórcio integrado por Odebrecht, Graña y Montero e pela espanhola Enagas, devido a incapacidade financeira.

O elevado custo da obra, entregue durante a gestão de Ollanta Humala – que começou em 1,5 bilhão de dólares -, é investigado pelo Ministério Público do Peru.

A CCL espera um crescimento de até 3,8% em 2017, mas sem considerar os efeitos da corrupção. A suspensão de obras como o gasoduto e de outros projetos importantes nos quais o governo havia direcionado suas esperanças diminuiriam em meio ponto percentual a projeção do PIB, considera Mongilardi.

O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, que foi primeiro-ministro de Toledo durante a aprovação da questionada obra viária à Odebrecht, diz desconhecer as irregularidades e afirmou na segunda-feira que “lá fora (no exterior) nos encaram como o país que mais luta contra a corrupção”.

Segundo o procurador-geral, Pablo Sánchez, depois do Brasil, o Peru é o que mais avançou nas investigações pelo caso “Lava Jato”.

Fonte: Exame

Redação

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