Evandro Lins e Silva se dispôs a dar uma série de entrevistas ao CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas numa série de 17 encontros no período de agosto de 1994 a janeiro de 1995, surgindo daí o excelente livro “Salão dos Passos Perdidos: Depoimentos ao CPDOC.
A obra narra a trajetória de vida do jurista Evandro Lins e Silva com destaques pessoais e profissionais, vindo a narrativa desde sua infância no interior do Maranhão até chegar ao julgamento do impeachment do presidente Fernando Collor, testemunhando diversos acontecimentos e conjunturas da história contemporânea brasileira.
Ao lado de Sobral Pinto e outros advogados, contando com apenas 25 anos, Lins e Silva atuou na defesa de presos políticos perante e o temido TSN – Tribunal de Segurança Nacional, criado para julgar os envolvidos na revolta comunista de 1935 e somente foi extinto no final da ditadura do Estado Novo em 1945.
A paixão pelo Tribunal do Júri o transformou num dos grandes tribunos criminalistas do país, com atuação em processos de repercussão, e a defesa da democracia o levou a ser um dos principais articuladores, com Sobral Pinto e Victor Nunes Leal, da Liga de Defesa da Legalidade, que lutou pela posse de Juscelino Kubitschek em 1956.
Foi procurador-geral da República do presidente João Goulart e depois seu Chefe do Gabinete Civil e ministro das Relações Exteriores, tomando posse como ministro do Supremo Tribunal Federal em 1963. Na Corte Suprema mesmo com as restrições do regime militar passou a conceder habeas corpus aos presos políticos, sendo aposentado por força do Ato Institucional nº. 5 de 1969 juntamente com Hermes Lima e Victor Nunes Leal.
Na convivência com personalidades como Carlos Lacerda, Osvaldo Aranha, Luís Carlos Prestes, Assis Chateaubriand e João Goulart traçou perfis reveladores, reproduzindo na entrevista uma experiência profissional concreta, dando uma noção exata das relações entre a teoria e a prática do direito, com abordagem aos diferentes aspectos implicados no exercício da advocacia, especialmente o relacionamento com os clientes, as outras partes e representantes, e com os juízes.
As entrevistas foram realizadas pelas pesquisadoras Marly Motta e Verena Alberti, sendo gravadas pelo técnico de som Clodomir Oliveira Gomes, e a transformação do depoimento em livro foi fruto da edição do material transcrito conduzida por Dora Rocha, com a colaboração de Cristiano Santiago de Souza.
A dimensão da convicção de princípios de Evandro Lins e Silva somada as suas atuações como advogado, procurador-geral da República e magistrado do Supremo Tribunal Federal da uma lição de cidadania por um homem que testemunhou a história recente do nosso país.
O Salão dos Passos Perdidos: depoimento ao CPDOC
Evandro Lins e Silva. Entrevistas e notas, Marly Mott, Verena Alberti. Edição de texto, Dora Rocha. Rio de Janeiro.
Editora Nova Fronteira: Editora FGV, 1997.
