Filha de imigrantes espanhóis, Mari Gemma De La Cruz nasceu em Porto Alegre, mas mora há 32 anos em Cuiabá, Mato Grosso. Antes disso, morou em São Paulo e Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
“Assim como meus pais, eu também migrei em busca de oportunidades dentro de um país continental”, diz. “Sou o que por aqui chamam de ‘pau rodado’, galho de árvore que boia no rio, vai se movimentando, rodando pelas águas até achar um lugar onde finca raiz, brota e dá frutos.”
Formada em farmácia, após se aposentar migrou novamente. “Só que agora de profissão. Sou uma cientista que virou artista”, define.
Aos 50 anos, Mari Gemma De La Cruz começou a se interessar por fotografia no campo das artes visuais, mais especificamente fotografia conceitual, e passou a produzir imagens. “Sou uma jovem artista senhora”, brinca.
Com a palavra, Mari Gemma De La Cruz:
Existem várias definições para fotografia e dependem do tipo de fotografia que o fotógrafo e/ou artista faz e seu repertório, bem como do contexto biopsicosocioambiental em que ela se dá.
Penso que meu fazer fotográfico caminha pela arte contemporânea e a meu ver estabelece, através de intensa pesquisa, relações entre as percepções da vida objetivas ou subjetivas e os acontecimentos atuais ou passados, incorporando o cotidiano e comentando suas banalidades, estranhamentos e afetos; sensibilizando a espectadora ou espectador a fim de produzir perguntas que podem promover revisões, rupturas e reconstruções.
Nesta perspectiva, o que motiva meu olhar são as questões que me incomodam e que eu quero resolver dentro de mim e provocar reflexão ao público ou ainda questões que me conectam com minha espiritualidade. Alguns temas são recorrentes, como a degradação socioambiental, o patrimônio histórico e o feminismo, neste último pesquiso questões que me afetam ou afetaram como mulher (violência, discriminação, preconceito, autoestima e paradigmas que circundam o universo feminino) e para isso me faço valer de autorretratos ou retratos de outras mulheres que passaram ou estão passando pela mesma situação em questão.
De qualquer forma, meu desejo é que a espectadora e o espectador possam sair do estado de anestesia social, nem que seja por breves momentos. Não é garantia que eu vá estabelecer conexão com todes sobre as minhas questões inquietantes, mas fazer arte desta forma é o que me dá sentido à vida: buscar instigar as pessoas, tentando promover uma crítica reflexiva.