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Não assumo o HIV porque tenho medo do preconceito, diz homem

O administrador de empresas Carlos*, 36, soube que tinha HIV no final de 2013. Ele acredita que foi infectado em uma transa com uma garota de programa quando a camisinha estourou. Sem se preocupar com doenças sexualmente transmissíveis, o paulistano não tomou nenhuma precaução. "Eu era o idiota que só ficava torcendo para a mulher não engravidar", conta.

Casado e com a mulher grávida de sete meses, Carlos diz que vive melhor hoje após uma "reforma interior" e que deixou de ter preconceito contra homossexuais "porque foram os que mais me apoiaram quando eu disse que eu tinha HIV".

A gravidez da mulher foi natural porque ele toma a medicação corretamente, o que mantém o vírus indetectável, ou seja, incapaz de ser transmitido em uma relação desprotegida.

A felicidade só não é completa porque ele ainda não se sente seguro de abrir sua verdadeira identidade por medo do preconceito e do julgamento.

Leia o depoimento completo concedido ao UOL:

"Fiquei doente, tive uma infecção aguda. Tenho 90% de certeza que contrai com uma garota de programa. Foi em um momento que eu estava separado da minha atual esposa e achava que eu podia tudo. Vivi algo parecido com o que o Charlie Sheen disse: eu sentia que podia tudo, que tinha dinheiro e que podia transar com quem quisesse e quando quisesse. No momento em que eu fiquei doente, tive apoio da minha família, eles me ajudaram bastante.

Fui ao hospital e passei por preconceito de um médico que não imaginava que eu poderia ser heterossexual. Ninguém pergunta se você é hétero ou não te pedem para fazer o teste quando sabem que você é porque não acreditam ser possível você ter HIV porque é uma doença de homossexual. Só descobri depois de ir a um médico que não tinha esse preconceito e que me pediu para fazer o exame.

Ele pediu para renovar o exame, falou que deu positivo e me disse 'eu já sei como te curar, mas você não vai ficar isento'. Ele disse também: vá a um psicólogo. Em seis meses de terapia eu já conseguia sair de casa e nem me lembrava disso. Hoje só me lembro na hora de dormir, quando eu tomo o remédio e durmo.

Sei como aconteceu, sei que o preservativo estourou, sei que fui negligente. Eu era o idiota que só ficava torcendo para a mulher não engravidar, que só rezava para a mulher não aparecer com um filho. Foi a maior estupidez. Achava que era uma gripe, depois virou uma infecção que me fez perder 11 quilos em uma semana. Então pensei: opa, é mais grave, e foi isso que me alertou. Se tivesse ficado incubado, eu poderia ter passado para outra pessoa.

Todo mundo tem medo do preconceito, de ser julgado. Facilmente eu consigo mostrar que eu estou bem. Posso beijar na boca, ter contato, não tem como transmitir assim, mas você tem medo do pré-julgamento nas suas costas, não é de pensar que eu sou homossexual porque isso não me incomoda mais, eu sei o que eu fiz. Mas não faz diferença contar porque isso só interessa a mim.

Faz diferença saber que não é brincadeira, que eu estou bem, mas muita gente não tem a mesma sorte de ter a mulher e a família que eu tenho. Mas não posso dizer que é tranquilo, porque eu não quero ser hipócrita. Se der medo já serviu. Se sair gritando por aí que está tudo bem e acabar o medo, também acaba a prevenção. Não contar que tenho HIV mostra que eu não estou 100%. Não posso falar realmente quem eu sou.

Depois de tomar o remédio, minha saúde foi estabelecida em uma semana. Tive tontura em um único dia. Tive mais uma reforma moral e íntima porque as reportagens que eu lia sobre o assunto só me lembravam da morte do Cazuza.

Há uns sites que te dão suporte quando você começa essa reforma íntima e, a princípio, eu achei que podia me expor. Mas por respeito a minha mulher e a minha família, que me ajudaram na mudança de hábito, eu não quero mais me expor.

Eu resolvi ter uma família, voltei com a minha ex-namorada, que foi uma das primeiras pessoas a me dar suporte quando eu contei. Ela só disse que não queria que eu morresse, não me julgou em nenhum momento. Temos uma relação sem preservativos e ela está grávida de sete meses de uma menina. E foi totalmente natural porque minha carga viral é indetectável. Faço dois hemogramas por ano e ela não tem HIV.

Minha vida está melhor agora porque eu decidi viver melhor. Mesmo sendo o homem machista que eu sempre fui, muitos homossexuais me mandaram mensagens de apoio, dizendo para eu viver a vida, me apoiaram quando eu disse que seria pai. Justo eu que tinha preconceito, que vivia fazendo piadinha. Isso agora mudou."

*O nome é fictício

Fonte: UOL

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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