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Morcegos-vampiros mantém laços de amizade tão fortes quanto humanos e intrigam cientistas

O comportamento desses animais desafia a visão tradicional de que relações complexas, baseadas em confiança e ajuda mútua, são exclusivas da espécie humana

Gabrielle Tavares

Um estudo publicado na revista Current Biology revelou que morcegos-vampiros desenvolvem laços de amizade semelhantes aos humanos, com relações construídas de forma gradual e baseadas na confiança mútua.

Esses vínculos sociais envolvem comportamentos como o cuidado com os pelos uns dos outros e, em estágios mais avançados, o compartilhamento de sangue, um ato considerado raro e de alto custo energético na natureza.

Por que os morcegos-vampiros mantém laços de amizade tão fortes quanto humanos?

A pesquisa analisou as relações sociais de morcegos-vampiros da espécie Desmodus rotundus, comum na América Central e na América do Sul.

Ao observar interações entre 27 indivíduos capturados em regiões diferentes do Panamá, os cientistas notaram que os laços sociais entre morcegos que não eram parentes se formavam aos poucos e podiam durar por anos.

Como são as amizades em morcegos-vampiros?

O estudo indica que, antes de dividir alimento, os morcegos praticam atos simples de sociabilidade, como se limpar mutuamente.

Essas ações são interpretadas como uma forma de “testar” a disposição do outro para a cooperação.

Colônia de morcego-vampiro Desmodus rotundus em uma cavernaMorcegos-vampiros são seres sociais e podem viver em colônias de até 5 mil animais – Foto: Reprodução/ND

Com o tempo, alguns desses vínculos evoluem para um comportamento raro: a regurgitação (retorno do conteúdo do esôfago ou estômago para a boca) de sangue de um morcego alimentado para outro que está em jejum.

Essa é uma estratégia vital de sobrevivência, já que a espécie precisa se alimentar a cada três dias.

“Vimos que o histórico de interações era importante e que o ambiente social também influenciava a formação desses vínculos”, explicou Gerry Carter à National Geographic, ecologista comportamental da Universidade Estadual de Ohio e líder do estudo.

Segundo ele, o experimento confirmou que o altruísmo em animais pode surgir mesmo entre indivíduos que não possuem relação genética e durar por décadas.

Como são formadas as amizades em morcegos-vampiros?

Os testes de laboratório mostraram que as amizades em morcegos-vampiros tendem a se formar mais facilmente quando os animais são colocados em pares e isolados de outros grupos.

Ou seja, os morcegos vampiros que eram isolados com um “estranho” criavam laços sociais mais rápidos do que aqueles em ambientes com outros membros conhecidos. Comportamento que lembra o dos humanos.

Após 15 meses de observação, os pesquisadores constataram que a maioria dos morcegos começaram a interação através de cuidados com o corpo.

morcego-vampiros Desmodus rotundus voando com um amigoMorcegos-vampiros que foram isolados com desconhecidos viraram amigos mais rapidamente – Foto: Reprodução/ND

No entanto, apenas uma pequena parcela evoluiu para a fase de “melhores amigos” e decidiu compartilhar sangue, ato considerado um investimento alto dentro do comportamento social animal.

O que as amizades em morcegos-vampiros pode dizer sobre os humanos?

A hipótese afirma que os animais sociais começam com comportamentos de baixo risco antes de se engajarem em ações que demandam mais confiança e energia, como a divisão de alimento.

A descoberta ajuda a entender melhor como surgem os vínculos entre morcegos e, por analogia, oferece pistas sobre a evolução das amizades em espécies sociais, incluindo a humana.

A pesquisa reforça que os laços entre morcegos-vampiros não são aleatórios. Eles dependem de tempo, repetição e ausência de outros vínculos preexistentes. Quando não há familiares por perto, as chances de uma nova amizade se formar aumentam.

morcego-vampiro Desmodus rotundus voandoOs laços entre morcegos-vampiros são duradouros, mas não são aleatórios – Foto: Reprodução/ND

Para os pesquisadores, compreender como surgem e se desenvolvem essas relações sociais em espécies não-humanas pode lançar luz sobre mecanismos evolutivos do altruísmo e da cooperação.

Como são os morcegos-vampiros?

A espécie observada (Desmodus rotundus), uma das três variedades conhecidas de morcego-vampiro, é a única que se alimenta exclusivamente de sangue.

Eles são ativos durante a noite e se aproximam discretamente das presas, geralmente gado ou outros animais de médio e grande porte.

Esses animais usam os dentes afiados para fazer pequenos cortes, lambendo o sangue com a língua. Eles não matam as presas diretamente, mas são vetores da raiva bovina e podem dizimar boiadas inteiras.

Os morcegos-vampiros atacam pessoas?

Sim, morcegos-vampiros podem atacar pessoas, mas isso é raro. Eles preferem se alimentar do sangue de animais como vacas, cavalos, porcos e aves.

No entanto, em regiões onde o desmatamento ou a escassez de presas naturais reduz a oferta de alimento, eles podem morder humanos.

morcego-vampiro Desmodus rotundus mordendo cachorroEsses animais usam os dentes afiados para fazer pequenos cortes, lambendo o sangue com a língua – Foto: Reprodução/ND

Nesses casos, estão mais suscetíveis pessoas dormindo ao ar livre ou em ambientes sem proteção, como redes ou camas sem mosquiteiro.

O que acontece quando um morcego-vampiro morde uma pessoa?

A mordida do morcego-vampiro é discreta, ele faz apenas um pequeno corte com os dentes afiados e lambe o sangue que escorre.

A pessoa geralmente não sente dor, porque a saliva do animal contém anestésicos, por isso a mordida costuma passar despercebida.

Além disso, a saliva também contém anticoagulantes potentes, como a draculina, que impedem o sangue de coagular.

O risco principal é a transmissão de doenças, especialmente a raiva, que pode ser fatal se não for tratada a tempo.

Tem morcego-vampiro no Brasil?

Sim, o morcego-vampiro existe no Brasil, habitando praticamente todas as regiões do país, principalmente em áreas rurais, florestas e zonas com criação de animais.

As três espécies são encontradas por aqui: o morcego-vampiro-comum (Desmodus rotundus), o morcego-vampiro-de-asas-brancas (Diaemus youngi) e o morcego-vampiro-de-pernas-peludas (Diphylla ecaudata).

morcego-vampiro Desmodus rotundus voandoA espécie mais comum no Brasil é a Desmodus rotundus, que se alimenta exclusivamente de sangue – Foto: Reprodução/ND

No entanto, o mais comum por aqui é o Desmodus rotundus, a espécie que se alimenta exclusivamente de sangue.

O que atrai morcego-vampiro?

O morcego-vampiro é atraído principalmente por fontes de alimento, como regiões de pastos, celeiros, currais e áreas rurais pouco movimentadas.

Embora a espécie possa atacar humanos, eles preferem locais com animais como fonte de alimento, principalmente os de grande porte.

Foto Capa: Reprodução/ND

Fonte: https://ndmais.com.br

Agência de Notícias

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