Conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escopa Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), desde o final de abril ao até a primeira semana deste mês, o valor do etanol praticado pelas usinas passou de R$ 1,72 para R$ 1,55. Isso com todos os impostos já somados. O valor nos postos de combustíveis, durante o mesmo período, no entanto, não se alterou, com o preço médio variando entre R$ 2,13, em Santo Antônio de Leverger, e R$ 2,48 em Sorriso. A capital mato-grossense registra preço médio de R$ 2,22, enquanto a vizinha Várzea Grande, R$ 2,17.
Para o diretor executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso (Sindalcool), Jorge dos Santos, a não redução do preço para o consumidor final é fruto de um “mau comportamento dos atores do mercado de combustíveis”, conforme aponta a tabela de preços da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Ele explica que os atores são o produtor, a rede distribuidora (frete) e, por último, os postos de combustíveis. “Quando esses três atores não trabalham em uníssono, não se comportam economicamente, dá nisso. Alguém está perdendo dinheiro e alguém está ganhando demais. Mas no final, quem está pagando essa conta são os consumidores”. Apesar do “mau comportamento”, ele lembra, não é possível fazer uma regulação dos preços. “O mercado é livre”. O problema, segundo Santos, é a situação faz estagnar o consumo do etanol. “De uma maneira geral o preço se manteve e o impacto disso é que a mercadoria não gira, não vende”, afirma.
O setor de distribuição dos combustíveis no estado negou que tenha interferência direta na não redução do preço na bomba dos postos. Presidente da Cooperativa dos Transportadores Autônomos de Cargas Líquidas e Derivados de Petróleo de Mato Grosso (Cooptrans), Gilfredo Oswaldo Fritz argumenta que o frete é contratado com base em fatores como distância, da usina até a unidade final, e quantidade. “O frete é calculado com base nisso. Se a usina baixar o preço do etanol, o frete continua com o mesmo valor. Aliás, estamos com o mesmo valor desde dezembro”, afirmou.
E o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Mato Grosso (Sindipetróleo), por sua vez, argumenta que a tendência é de que “os postos sigam reajustes praticados pelas distribuidoras, já que são essas que comercializam os combustíveis à revenda”. No entanto, lembra que cada “posto é livre para definir o preço conveniente para manutenção do seu negócio”.
Apesar de não seguir o ritmo da redução verificada nas usinas, o que agradaria mais o consumidor e estimularia o mercado, o preço médio do litro do etanol nos postos de Mato Grosso teve uma leve queda em maio, de aproximadamente 1,3%, ficando em quinto lugar na lista nacional dos mais caros, embora deva produzir quase 1.024.063 m³ de etanol neste ano, segundo previsão do Sindalcool.
População se sente lesada
Com preços cada vez mais caros, o consumidor se sente lesado ao ter que abastecer o carro sabendo que houve redução no valor do etanol nas usinas mato-grossenses. É o caso, por exemplo, de Sinésio Carlos Mendes, 43 anos. Ele conta que prefere abastecer o carro na região onde mora, já que lá o etanol está mais barato que em outros postos no percurso até o serviço.
“A gente tem que procurar o posto com preço mais barato, porque senão acaba pagando muito caro no mesmo produto”, afirma. Na região da casa dele, o etanol pode ser encontrado por R$ 1,99 o litro, mas no restante da cidade ele abastece a R$ 2,14 por litro, no mínimo. Ao saber da redução do preço do etanol nas usinas, o vendedor Eudes Xavier, de 41 anos, cobrou que o reajuste seja repassado ao consumidor final. “Isso devia acontecer automaticamente. Deveria haver alguma regulamentação para baixar quase que instantaneamente”, avalia.
Xavier conta que gasta cerca de R$ 300 semanalmente para abastecer o carro, por conta da demanda profissional, que exige que ele se desloque constantemente pela cidade. “Por menor que seja a redução no preço, faria uma diferença grande no final do mês”, reflete.
José Pereira, 60 anos, por sua vez, diz que prefere abastecer com etanol a gasolina, porque ainda é mais vantajoso, apesar do preço. “Meu carro é flex, mas eu opto por colocar sempre o álcool. A gasolina ainda é muito mais cara. E nessa questão do preço, às vezes parece que os postos estão formando cartel”, revela.