Economia

Mato Grosso negocia seis toneladas de ouro por ano

Ouro é o produto forte de Mato Grosso no mercado mundial. Só no ano passado, foram extraídas e depuradas seis t (toneladas)  de ouro, a metade vinda de garimpos. O metal é explorado hoje em quatro distritos. O maior está na província de Peixoto de Azevedo de onde foram extraídas 2,4 t em 2015, com foco em mineralização de ouro tipo secundário.

A província de Guaporé, a segunda em volume de exploração, alcançou a quantidade de 1,8 t no ano passado. O distrito de Poconé e Livramento somaram 1,5 t de ouro no mesmo período, e o quadro é fechado pelo distrito de Nova Xavantina, com 1,1 t.

A Metamat estima que a exploração de ouro já gerou 15 mil empregos diretos e 75 mil indiretos, colocando em circulação R$ 711 milhões na economia local. A companhia identificou até o momento 15 reservas de ouro, que somam mais de 95 t de material.

Também aparecem na lista de exploração mineral, o zinco, com uma mina em Aripuanã; níquel, com mina em Comodoro; água mineral explorada por 22 empresas de engarrafamento, e o diamante que representou 87,2% do total da produção do Brasil em 2014, ano em que foram movimentados treze milhões de dólares.  

Mato Grosso tem, hoje, 144 concessões e 247 pedidos para exploração de subsolo, em busca de minerais que, segundo a Metamat, está concentrada nas mãos de grandes empresas.

Desinteresse do governo retarda desenvolvimento

O desenvolvimento econômico da mineração passa pelo “desinteresse” do Estado em instrumentalizar trabalhos para o mapeamento de minérios em Mato Grosso. Segundo o geólogo, Antônio João Paes de Barros, integrante da equipe de estudos da Metamat, hoje o segmento carece de estudos para identificar os pontos de concentração e minerais e os tipos  que podem ser explorados. Segundo ele, a construção de georreferenciamento contribuirá, consequentemente, para o controle de garimpos irregulares.

“Hoje, canadenses são os que mais investem em estudos de subsolo na América Latina, e a soma total do que entra na pesquisa representa menos de 1% do total que é investido no País. Isso tem reflexo direto na pesquisa de mineral. O governo não enxergar prosperidade na área de mineração, apesar da possibilidade de apoio para economia, principalmente neste período de crise”, comenta o pesquisador.

Conforme ele, mesmo com a atividade estagnada há décadas, o segmento de extração de mineral representou em 2013 entre 1,2% e 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto) de Mato Grosso, um montante de R$ 89,1 bilhões.

Números apresentados pela Metamat apontam ainda que do superávit de 13,02 bilhões de dólares do balanço comercial de Mato Grosso, em 2014, mais de 1 bilhão de dólares corresponderam a insumos agrícolas de sais de potássio e fósforo, material enriquecido para correção de solo.

Ainda de acordo com a Metamat, além da agropecuária, bens minerais estão presentes em produtos utilizados para a construção civil, fertilizantes, utensílios domésticos, equipamentos eletrônicos e meios de transporte. “O problema é que a industrialização, em Mato Grosso, é quase nula. Muito do que é adquirido em outros países e até outro continente, a Ásia, por exemplo, poderia ser produzido em Mato Grosso, mas não há setor para isso. Temos uma riqueza enorme que pode ser explorada, mas sequer sabemos direito onde está. E o Estado está completamente vendido no assunto”, critica o geólogo Paes de Barros.

Cooperativa ganha prêmio de sustentabilidade

A Cooperativa de Garimpeiros do Vale do Rio Peixoto (Coogavepe), com sede em Peixoto de Azevedo (698 km de Cuiabá) venceu a premiação da Organização de Cooperativas Brasileiras (OCB). O título para Mato Grosso chama a atenção justamente por causa da contracorrente do cenário, e o mérito do reconhecimento mostra as dificuldades de desenvolvimento regularizado dos serviços no Estado.

O primeiro faz parte da história regional que tem uma rota de exploração garimpeira, ao longo de décadas, desde o início da formação territorial, com consequências até hoje. Cidades ganharam alcunha de fantasma ao fim do período exploração, que deixou para trás a ressaca de intensa escavação, e a população que por lá ficou atravessa dificuldades econômicas e sociais devido à quebra da produção.

Alto Paraguai (199 km de Cuiabá), que passou por ciclos de exploração garimpeira (o segundo deles iniciado na década de 1930) é um exemplo das cidades exauridas. Na fase de descoberta, ouro e diamante “brotavam” da terra; o que ficou ao fim foram fazendas onde houve a criação de sítios de escavação. Desde meados do século XVIII, época em que ocorreu a primeira fase de exploração de pedras preciosas, o local era uma corruptela ligada a Diamantino; somente em 1948 ganhou o status de cidade. Desde então, está em estado de estagnação.

“Uma das preocupações da cooperativa é justamente pensar o que pode e deve ser feito ao fim da exploração mineral. Sabemos que o ouro e o diamante vêm da terra e que um dia vão acabar, e dentro do programa dos cooperados existe estudo e investimento para manter a economia viva desses locais, para não caírem, também, em histórias que sabemos de cidades prejudicadas. Aqui entra a questão da sustentabilidade que precisa ser pensada”, diz Gilson Camboim, presidente da Coogavepe.

A cooperativa ficou classificada em primeiro lugar em sua categoria no Sistema OCB Nacional por desenvolvimento do projeto Cidade Verde, de ações voltadas para a proteção de patrimônios naturais, ambientais e históricos, e o desenvolvimento da atividade de extração mineral com foco no equilíbrio, responsabilidade e conceito de sustentabilidade.

Com mais de cinco mil garimpeiros cooperados, o segundo no Brasil, o município Peixoto de Azevedo teve uma produção de quatro toneladas do minério em 2015; só em ouro, houve produção de 1,9 t, que gerou cerca de R$ 500 milhões em comércio da pedra. A Coogavepe implantou em 2014 o projeto Cidade Verde – Plantando o Futuro e Preservando a Vida. Em todas as suas edições foram expostas e doadas milhares de mudas de árvores ornamentais, nativas e frutíferas. A meta é contribuir para ampliação das florestas, matas e o meio ambiente urbano e rural da região norte de Mato Grosso.

Recuperação de áreas degradadas

Com o apoio da Companhia de Mineração de Mato Grosso (Metamat), a Cooperativa de Garimpeiros  tem avançado nos projetos de recuperação de áreas degradadas em cumprimento às normativas e legislação ambiental. Além da arborização da cidade, são realizados trabalhos de transformação de antigas cavas de garimpo em tanques para criação de peixes, recomposição do solo para o plantio de árvores e plantas frutíferas e também o reflorestamento com espécies nativas brasileiras.

“Nós entendemos que a exploração é realizada por pessoas que moram na cidade e nos arreadores, e são elas que permanecerão no local quando chegar um momento de satura da exploração mineral. Esse cenário é preciso ser pensado agora. A cooperativa busca conscientizar os cooperados da importância dos desenvolvimentos, econômico, social e ambiental”, pontua Camboim.

Seis universidades estudam o subsolo do Vale do Peixoto

Seis universidades federais e estaduais realizam pesquisa em minas de exploração em Peixoto de Azevedo. Além da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), há 18 anos em trabalho de campo, mestrando e doutorando de Paraná (UFPR), Rio de Janeiro (UERJ), de Brasília (UnB), Estadual Paulista (Unesp) e a Estadual de Campinas (Unicamp). Todas em campo de mapeamento geológico.

A UnB e UFPR realizam pesquisa de geofísica para identificar áreas de maior incidência de ouro na região do Vale do Rio Peixoto. As universidades trabalham no mapeamento de rochas e suas camadas, suas formações, idades e tudo pertinente a elas desde o seu surgimento. Nesta metodologia não é necessário perfurar ou escavar o solo para se detectar o minério, minimizando os danos ambientais e garantindo resultados mais precisos nos processos de sondagens.

Um dos objetivos da pesquisa em campo é identificar os potenciais alvos para exploração mineral aurífera nas áreas legalizadas pela Cooperativa de Garimpeiros que atuam nos municípios de Peixoto de Azevedo, Matupá, Guarantã do Norte, Novo Mundo e Nova Guarita.

O mestrando da UnB, Alexandre Santos Jerônimo Costa, disse que a prospecção mineral será determinante para traçar a geometria dos depósitos minerais aluviais, como o ouro. A técnica utilizada por meios elétricos é a mais viável e de baixo custo, na busca por este metal precioso, pois se utilizam  ensaios geofísicos, fator que colabora para uma maior rapidez no processo de sondagem e indicação do caminho exato a ser seguido para exploração mineral com baixíssimos impactos ambientais conforme planejamento estratégico de atuação da Coogavepe.

Segundo a Coogavepe, todos os estudos geológicos desenvolvidos pelas universidades parceiras UFMT, UFPR, UnB, UERJ, Unicamp e Unesp são essenciais, pois envolvem usos de satélites e de fotografias aéreas, além de técnicas de geofísica e geoquímica. 

Reinaldo Fernandes

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